Agora senta que lá vem letra cursiva com megafone. Hytalo Santos voltou a escrever da prisão e decidiu fazer do papel um palco. A carta, escrita à mão, é longa, confusa, dramática e cheia de subtexto. Não é defesa jurídica. É performance.
Logo de cara, ele reclama que está proibido de dar entrevistas e que não tem voz para se defender. A narrativa começa assim. Estou calado à força. Estou sendo silenciado. Estou sendo injustiçado. Tudo em tom de manifesto, como se a caneta fosse microfone e a cela, estúdio.
Na sequência, ele entra no terreno preferido. Diz que datas foram tiradas da grade, que decisões demoram, que provas favoráveis são ignoradas. E aí vem o truque retórico. Stories publicados por ele viram prova. Roupa, música, circulação de crianças entram como argumento emocional. O texto tenta empurrar o leitor para um lugar perigoso. O da confusão entre opinião, moral e crime.
Em um dos trechos mais reveladores, Hytalo afirma que “não é mais sobre crime”. Segundo ele, trata-se apenas de uma conduta moralmente questionável para alguns. É aqui que a carta escorrega. Porque o processo não discute estética, gosto ou moral de Instagram. Discute fatos, responsabilidades e acusações formais. O resto é fumaça.
A carta cresce e vira discurso político. Ele puxa eleições, censura cultural, proibição de brega funk, controle de shows, regulamentação de redes sociais. Tudo entra no mesmo saco. O caso pessoal tenta virar símbolo de uma guerra maior. É o velho recurso. Quando o processo aperta, amplia o discurso e chama de perseguição.
No final, o texto perde qualquer freio. Caixa alta, palavrão, hashtag, indignação ensaiada. Justiça escrita como se fosse post. É o fechamento clássico de quem fala mais para a torcida do que para o juiz.

Agora, o ponto que ele evita explicar direito. Por que não pode dar entrevista.
A proibição não é birra, nem censura ideológica. Entrevista em presídio depende de autorização judicial. No caso dele, a Justiça negou o pedido recente de entrevista solicitado para um programa de TV, decisão que a defesa tenta reverter. Em processos que envolvem acusações graves, especialmente quando há menção a menores, o Judiciário costuma restringir exposição pública para proteger a investigação, evitar pressão externa e preservar possíveis vítimas. Entrevista não é direito automático. É exceção.
Além disso, pesam medidas cautelares já impostas, como restrições de contato e limitações de uso de redes sociais. Tudo isso ajuda a explicar por que qualquer fala pública vira problema dentro do processo.
Resumo da ópera, com a língua afiada que vocês conhecem. A carta não esclarece, não inocenta e não responde às acusações. Ela dramatiza. Hytalo tenta governar a narrativa no papel porque, fora dele, quem manda é o processo. A cela vira palanque. A caneta vira comício. Mas Justiça não lê desabafo como sentença. E papel, ao contrário do Instagram, aceita tudo.