Gente, acordei, mas ainda estou na cama atordoada com a Marcela. Ela mostrou o pescoço marcado, a mão roxa, o vidro estilhaçado de uma discussão e disse, ainda assim: “Estou em casa, com meus cachorros, tranquila”.
Sim, meus amores, é exatamente nessa contradição que mora o incômodo. Marcela Tomaszewski, miss, modelo, mulher com voz e machucada. E, ao mesmo tempo, diz que resolveu não seguir adiante com boletim de ocorrência contra Dado Dolabella.
Mas calma: não se trata de “quem fez o quê”. Trata-se de refletir sobre quando silenciam os ferimentos visíveis e transformam aquilo que poderia ser denúncia em bilateralidade: “briga de casal existe”. Um mantra que ecoa e invisibiliza o que dói na pele, na alma, na reputação.
As imagens circulam: hematomas pelo corpo, mão imobilizada, pescoço vermelho. Quem olha vê. Mas quem ouve escuta o fundo da gravação: vozes elevadas, uma mãe tentando intervir, um rapaz respondendo com ironia.
Marcela solta a língua e dispara: “Eu devo ter merecido também por pedir pra ti botar menos sal na comida.” A resposta “É, foi por isso” torna o episódio ainda mais ácido.
Quando se reduz o machucado à “culpa de ter pedido menos sal”, ferimos não só o corpo, mas a lógica da denúncia, do cuidado, da proteção.
O advogado de Marcela, Diego Candido, deixou o caso após a decisão de não prosseguir. Ela mesma recuou: “não vou fazer nada que toda a mídia está falando… vou esquecer o assunto visando à preservação da imagem das partes envolvidas”.
Então paramos para pensar: a quem serve esse “esquecer”? Quem ganha quando se retira uma voz, mas permanecem as marcas?
E não é um caso isolado! Há uma linha tênue ligada a um nome que já circula nesse tipo de acusação. Quando vemos “mulheres diferentes, contextos distintos, ferimentos semelhantes”, a pergunta não é mais “será verdade?”, e sim “por que se repete?”
E agora, leitor ou leitora que está aí do outro lado: olhar e esquecer vira complacência. Não estou falando que cada um precisa fazer boletim, estou dizendo que cada um precisa ver, escutar, refletir. Que “briga de casal existe” não seja desculpa para normalizar o inaceitável.
Se você conhecesse alguém em situação parecida, o que faria? Se fosse você ou uma amiga, o que diria? Talvez seja o momento de colocar a mão na ferida, chamar a atenção, apoiar o silêncio que exige voz.
Marcela escolheu colocar fim à formalização da denúncia. Está em casa “tranquila”. Mas as marcas dela? Ainda lá. Ainda visíveis. E o silêncio dela? Ainda grita.
Você, que leu até aqui, pode fazer mais do que ler. Pode questionar, pode compartilhar, pode ajudar alguém a ter coragem de olhar pra si e pra fora e dizer: “Não está tudo bem”.
Se achou esse texto relevante, compartilhe. Porque silenciar é ser cúmplice, assistir e virar a página é opção. E quando juntas vemos, respondemos e ajudamos, talvez uma ferida pare de cicatrizar sozinha.