Gente, eu juro: tem hora que acho que a TV Globo está precisando de um GPS moral e artístico. Ontem, meu amigo “best” Daniel Castro, do memorável Notícias da TV, aquele jornalista que sempre sabe o que se passa nos bastidores, publicou que o documentário sobre a G Magazine foi simplesmente cancelado. Engavetado. Deixado no vácuo da coragem editorial.
E o motivo? “O público não vai gostar.” A desculpa perfeita pra não dizer o óbvio: foi censura, sim, e das mais sutis. A G Magazine foi, nos anos 90 e 2000, um grito de liberdade. Foi o momento em que o Brasil ousou olhar para o corpo masculino sem vergonha, sem culpa, com desejo e com arte. Ela colocou o homem nu onde antes só havia tabu e isso é histórico.
Mas quando uma emissora como a Globo decide que o público “não está pronto” para revisitar essa história, o que ela está dizendo de verdade é: “A gente ainda tem medo de olhar no espelho.”

Porque não é sobre nudez, é sobre narrativas que desafiam o conforto da maioria. É sobre uma sociedade que aplaude o beijo gay em novela, mas troca de canal quando o assunto é representatividade com profundidade.
Enquanto isso, o departamento de humor da emissora parece ter se perdido num labirinto sem roteiro. A coordenadora Patrícia Pedrosa, que deveria liderar a renovação da comédia brasileira, entrega programas que mais parecem “pegadinhas” de domingo, que deixam as do João Kleber no pedestal…
O Aberto ao Público é um exemplo: uma mistura de esquete reciclada com vergonha alheia premium. A piada não faz rir, faz suspirar e não de emoção, mas de cansaço.

E, pasme, vem aí um reality de namoro com pegada de humor. Amor, “pegada” é o que está faltando. Porque o humor da Globo anda tão sem sal que nem meme vinga.
Antigamente, a Globo era laboratório de gênios: Chico Anysio, Agildo Ribeiro, Jô Soares, Regina Casé, Fernanda Torres, Bruno Mazzeo, nomes que criavam humor com cérebro, timing e coragem. Hoje, parece que ninguém quer correr o risco de ofender, de provocar, de pensar. O humor se tornou um marasmo confortável de piadinhas pasteurizadas.

Enquanto a emissora cancela um documentário sobre diversidade por medo de rejeição, ela esquece que o público amadureceu. O Brasil de 2025 não é o mesmo de 1995. Hoje, quem consome TV quer se ver representado, em todas as cores, corpos e amores.
O verdadeiro cancelamento não é o da G Magazine. É o cancelamento da ousadia, da autenticidade, do riso inteligente.
Talvez o problema não esteja no público. Talvez esteja em quem ainda acha que o público não é capaz de pensar. Porque a verdade, meu amor, é que o público sempre soube o que queria. O que falta é a TV saber o que quer ser.

Cadê a comédia com roteiro? Cadê o frescor da criação? Cadê aquela Globo que formava gerações inteiras com arte, não com medo? Se a emissora já foi sinônimo de vanguarda, por que agora parece tão confortável em ser mais do mesmo?
Amauri, querido… vamos dar um jeito? Porque o público, esse, sim, ainda quer ver a Globo brilhar.