Com apenas R$ 230 no bolso e um pacote de paçocas nas mãos, Ronaldo Goulart começou a escrever uma das trajetórias mais inspiradoras do empreendedorismo curitibano. Aos 26 anos, recém-formado em Zootecnia pela UTFPR de Dois Vizinhos (PR), ele trocou o diploma e o conforto da classe média para conquistar o que sempre sonhou: ser empresário. Hoje, aos 32, é dono de uma loja de eletrônicos no centro de Curitiba e, em seus melhores meses, chega a faturar R$ 1 milhão.
“Eu queria ser empresário de qualquer jeito, ao mesmo tempo que tinha que me sustentar desde o primeiro dia que tinha me formado na faculdade, já que não tinha mais a ajuda financeira dos meus pais”, conta. “Quando a água bate na bunda, a gente não tem muita opção. Eu sabia que não queria mais depender do dinheiro deles, pois assim eu não iria progredir. Deu certo! Eu estava em movimento e as coisas começaram a fluir.”

A decisão de ir para o sinal vender paçoca não foi impulsiva, foi estratégica. Ainda adolescente, Ronaldo já demonstrava talento para os negócios. “Quando tinha 16 anos, comprava suplementos alimentares para vender nas academias e, como eu sabia que não tinha credibilidade pela pouca idade, chamei os instrutores para venderem pra mim e pagava uma comissão. Eu mal sabia, mas já tinha montado meu primeiro time comercial”, relembra.
Essa veia empreendedora, somada à necessidade de sobrevivência tendo recém chegado em Curitiba, o levou a encarar o trânsito como sua primeira escola de vendas. O primeiro passo não foi nada fácil, já que ele relata que ficou por algumas horas em seu carro, paralisado pela vergonha e pelo bloqueio. Mas o foco no futuro e no objetivo o fizeram sair da inércia: “Meu maior aprendizado dos dias que vendi no sinal foi: você precisa estar em movimento, ser visto, estar em contato com pessoas. Movimento gera movimento e a engrenagem gira.”
E foi exatamente essa filosofia que abriu o caminho para uma virada em sua vida. Em meio aos carros e às negativas, Ronaldo recebeu uma proposta de trabalho como vendedor em uma loja de produtos eletrônicos. “Se eu tivesse ficado dentro de casa esperando uma oportunidade cair do céu (que nunca vai cair), eu não teria recebido essa proposta de trabalho que me levou ao que eu tenho hoje”, afirma.
Depois de um tempo vendendo eletrônicos para terceiros e construindo relacionamento com clientes, ele percebeu que estava pronto para andar com as próprias pernas e vender por conta própria. “Sempre trabalhei com a cabeça de dono do negócio. Acordava 5h da manhã, respondia clientes, e só parava meia-noite. Sempre trazia novas ideias, uma forma de melhorar algum processo em loja. Quando tive seis meses de experiência como vendedor, percebi que conseguia fazer isso sozinho e comprei meu primeiro celular para revenda. Comprei por R$ 1.200 e vendi no dia seguinte por R$ 1.600”, explica.

O negócio deu certo. A partir dali, nascia a vivência como empresário e o embrião da loja que hoje movimenta cifras milionárias e se tornou referência no comércio de eletrônicos em Curitiba. “No começo, o maior desafio foi fazer tudo sozinho: eu tinha que ser o setor de compra, o vendedor, o pós-venda, o motoboy e o financeiro. Tudo ao mesmo tempo. Às vezes ficava sem almoçar para poder responder e atender todos os meus clientes”, recorda.
Consistência, fé e coragem
O faturamento milionário veio como consequência de uma mentalidade forjada na prática. “Lembro como se fosse ontem o dia em que pensei: ‘será que um dia eu consigo ganhar dez mil reais por mês?’ e, pra ser sincero, nem eu acreditava muito. Hoje, olhar pra trás e ver que chego a faturar R$1 milhão em um mês me mostra que tudo é possível quando você trabalha de verdade, acredita em si e segue mesmo sem ter todas as respostas. Nada aconteceu de uma hora pra outra. Foi consistência, fé e coragem de fazer o que muita gente só fala que vai fazer”, aponta.
Mas, para ele, sucesso não é somente sobre números, mas poder transformar o que lhe deu mais liberdade em um meio para gerar liberdade para as outras pessoas. “Eu acredito que o lucro é apenas o combustível, o verdadeiro propósito é o movimento que ele cria. Eu venho de uma família simples e a base que eu recebi foi ética, honestidade e vontade de vencer. Então, o que me move hoje não é apenas o resultado financeiro, mas o impacto que esse resultado causa: poder dar conforto pra minha família, gerar oportunidades pra minha equipe e entregar valor real pra cada cliente que cruza o meu caminho”, destaca.
O empresário reforça que a base familiar teve papel decisivo na sua formação. “Meus pais me deram uma boa educação, me ensinaram valores, ética e honestidade. E foi exatamente isso que me fez decolar. Esses princípios me ajudaram a ser um bom vendedor, a conversar com as pessoas de forma verdadeira e a transmitir confiança”, afirma, ainda adicionando que foram esses valores que o fizeram ser notado por clientes e criar uma carteira com base nessa relação.
Mesmo sem o apoio imediato da mãe, que sonhava com uma carreira tradicional dentro da sua área de formação, ele seguiu o próprio caminho: “Chega um momento em que você precisa decidir se vai viver o sonho dos seus pais ou o seu próprio sonho. Eu escolhi o meu. E acredito que, no fim, os pais ficam felizes quando veem o filho feliz.”
Olhar para o futuro
Ronaldo segue com a mesma inquietude que o tirou do semáforo e o levou ao topo. “O meu próximo plano é crescer uma empresa do zero a nível nacional e, quem sabe, internacional. Hoje minha operação ainda é focada em Curitiba, mas eu sempre tive o olhar voltado para o futuro”, projeta.
Enquanto expande sua atuação em marketplaces e outros projetos, ele mantém vivo o princípio que o moveu desde o início: não parar. E aconselha os empresários que estão começando que a melhor hora para investir no sonho é agora. “Não espere tudo estar pronto para começar. É começando que tudo se encaixa. Se tiver com medo, vai com medo mesmo. Mas esteja em movimento. Lá na frente você vai se agradecer”, conclui.
E é esse movimento — o mesmo que começou lá no sinal — que continua empurrando Ronaldo Goulart para frente, agora não mais com paçocas nas mãos, mas com tecnologia, propósito, visão e fé.