Amores, passei a tarde organizando a minha agenda para as próximas semanas – viagens, peças de teatro, lançamentos de livros… E um convite, em especial, me deixou completamente hipnotizada e pensativa. A galeria Cave vai inaugurar, no próximo dia 28 de outubro, a primeira exposição individual da artista Cristina Vasconcelos, e a proposta é uma verdadeira viagem espiritual.
A exposição é intitulada “Arqueologia da superfície”. Com curadoria de Lucas Dilacerda, a mostra reúne cerca de 60 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos, instalações, objetos, fotografias e vídeos, produzidas entre 2016 e 2025, e propõe uma escuta sensível da matéria como forma de cartografar um mundo em ruínas e repovoamentos.

Na contramão de um tempo regido pela produtividade e velocidade, Cristina desenvolve uma poética radical que recusa a centralidade do humano. Seus trabalhos funcionam como mapas espirituais de um mundo sem humanos, seja situado em um passado longínquo ou em um futuro pós-apocalíptico. “Arqueologia da superfície” é o nome que a artista dá à própria metodologia, em que escava as camadas sensíveis da realidade, em busca de vestígios materiais e imateriais de outras existências possíveis na Terra.

Utilizando materiais como barro, vidro, ferrugem, areia, grafite, concreto, aço inox, látex oxidado, resina, silicone, porcelana fria e pigmentos minerais, a artista ativa uma relação de escuta com a matéria, entendendo cada uma como arquivo vivo que carrega em si memórias, afetos e processos de transformação: “esses materiais são, para mim, corpos vivos em mutação e alquimia. Eles carregam memória, energia e tempo. Não os escolho pela aparência ou pela função estética, mas pelo que comunicam silenciosamente”, explica Cristina.
Segundo o curador Lucas Dilacerda, “a artista opera como uma sismógrafa, captando vibrações do tempo e do espaço, nos enviando mensagens que não se traduzem em palavras, mas em imagens que oscilam entre o sublime e o espasmo, entre o espiritual e o geológico”.

“Arqueologia da superfície” é, portanto, um chamado para desacelerar, desenterrar e escutar os sinais da Terra, num momento em que a crise ecológica, política e sensível exige novas cosmologias. Nessa mostra, arte e matéria se encontram como testemunhas de um mundo que ainda insiste em sobreviver.
Ao apresentar a pesquisa de Cristina Vasconcelos, a galeria amplia seu escopo curatorial, consolidando-se como espaço de experimentação e pensamento crítico no cenário da arte contemporânea brasileira.
Já anotei na minha agenda e mal posso esperar para mergulhar nesse universo!