Morreu Oscar Maroni, aos 74 anos, e com ele vai embora um dos personagens mais barulhentos, controversos e convenientemente incompreendidos da noite paulistana. Empresário, polemista, amante dos holofotes e avesso a qualquer noção de discrição, Maroni não viveu. Ele performou.
Enquanto muita gente tenta agora lustrar a biografia, a verdade é simples: ele fez da polêmica um plano de negócios. E funcionou. Durante décadas, o nome Oscar Maroni foi sinônimo de confusão, processos, manchetes, brigas públicas e uma habilidade quase artística de se manter relevante.
A seguir, cinco capítulos dessa ópera bufa chamada vida real.
- Prisão, escândalo e o velho discurso da perseguição
Em 2007, o Bahamas virou alvo de uma grande operação. Interdição, prisão, acusações de exploração da prostituição e formação de quadrilha. O pacote completo. Naquele momento, Maroni virou o vilão oficial da noite paulistana.
Anos depois, veio a absolvição. E com ela, o discurso que ele repetiria até o fim: o de perseguido político, injustiçado, vítima de um sistema hipócrita. O clube reabriu com nova licença, agora com nome mais “higiênico”. Mas o marketing continuou o mesmo. Afinal, nada como um bom escândalo para manter o caixa girando.

- O hotel, o aeroporto e a arte de brigar com o poder
A construção do Oscar’s Hotel ao lado de Congonhas foi outro capítulo digno de novela mexicana. Após o acidente da TAM, o prédio virou alvo de questionamentos, e a prefeitura cassou o alvará.
Maroni reagiu como quem já sabia o roteiro de cor: atacou, acusou perseguição, fez barulho, deu entrevistas e transformou uma questão técnica em guerra pessoal. Para ele, toda crise era uma chance de aparecer. E ele apareceu, claro.
- O vilão de reality que não fazia questão de ser mocinho
Quando entrou em A Fazenda, ficou claro que Maroni não queria redenção. Queria palco. Falou de sexo, dinheiro, poder e moralidade como se estivesse no próprio escritório. Fez questão de bancar o anti-herói, o empresário “sem frescura”, o homem que dizia o que ninguém dizia.
Saiu do programa exatamente como entrou: falado, criticado e comentado. No fundo, o melhor resultado possível para alguém que sempre viveu de atenção.
- Política, Lula e o deboche como estratégia
Em algum momento, Maroni resolveu brincar de político. Prometeu cerveja grátis em datas ligadas à prisão de Lula, fez declarações inflamatórias, flertou com a extrema direita e chegou a falar em candidatura presidencial.
Era menos sobre ideologia e mais sobre palco. Maroni entendeu cedo que política rende manchete, engajamento e polêmica. E usou isso como quem usa iluminação cênica: para destacar o próprio personagem.

- O império da noite e o mito que sobrevive ao homem
Nos últimos anos, o Alzheimer tirou de cena aquele que nunca soube ficar quieto. O império passou para os filhos, o Bahamas tentou se reinventar, mas o nome Maroni continuou pairando como símbolo de uma época.
Hoje, com sua morte, encerra-se oficialmente uma era. Não exatamente uma era elegante, nem discreta, nem exemplar. Mas uma era barulhenta, exagerada, escandalosa e absolutamente fiel ao seu protagonista.
Oscar Maroni sai de cena como viveu: cercado de controvérsias, amado por poucos, tolerado por muitos e impossível de ignorar. A noite paulistana segue. Mas sem aquele personagem que fazia questão de lembrar a todos que, ali, o espetáculo nunca foi só sobre luz baixa e taça cheia, era sobre chamar atenção. Sempre.