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Kátia Flávia
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Cinco polêmicas que explicam quem foi Oscar Maroni, o “rei da noite” que fez São Paulo fingir pudor

Dono do Bahamas, personagem profissional e colecionador de confusões, Maroni transformou escândalo em negócio, prisão em marketing e a própria vida num eterno espetáculo de excessos.

Kátia Flávia

31/12/2025 11h00

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Oscar é nome tradicional da noite paulistana e dono da casa noturna Bahamas Club. Foto: reprodução/Record

Morreu Oscar Maroni, aos 74 anos, e com ele vai embora um dos personagens mais barulhentos, controversos e convenientemente incompreendidos da noite paulistana. Empresário, polemista, amante dos holofotes e avesso a qualquer noção de discrição, Maroni não viveu. Ele performou.

Enquanto muita gente tenta agora lustrar a biografia, a verdade é simples: ele fez da polêmica um plano de negócios. E funcionou. Durante décadas, o nome Oscar Maroni foi sinônimo de confusão, processos, manchetes, brigas públicas e uma habilidade quase artística de se manter relevante.

A seguir, cinco capítulos dessa ópera bufa chamada vida real.

  1. Prisão, escândalo e o velho discurso da perseguição

Em 2007, o Bahamas virou alvo de uma grande operação. Interdição, prisão, acusações de exploração da prostituição e formação de quadrilha. O pacote completo. Naquele momento, Maroni virou o vilão oficial da noite paulistana.

Anos depois, veio a absolvição. E com ela, o discurso que ele repetiria até o fim: o de perseguido político, injustiçado, vítima de um sistema hipócrita. O clube reabriu com nova licença, agora com nome mais “higiênico”. Mas o marketing continuou o mesmo. Afinal, nada como um bom escândalo para manter o caixa girando.

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O empresário Oscar Maroni morreu aos 74 anos. Foto: reprodução/Instagram
  1. O hotel, o aeroporto e a arte de brigar com o poder

A construção do Oscar’s Hotel ao lado de Congonhas foi outro capítulo digno de novela mexicana. Após o acidente da TAM, o prédio virou alvo de questionamentos, e a prefeitura cassou o alvará.

Maroni reagiu como quem já sabia o roteiro de cor: atacou, acusou perseguição, fez barulho, deu entrevistas e transformou uma questão técnica em guerra pessoal. Para ele, toda crise era uma chance de aparecer. E ele apareceu, claro.

  1. O vilão de reality que não fazia questão de ser mocinho

Quando entrou em A Fazenda, ficou claro que Maroni não queria redenção. Queria palco. Falou de sexo, dinheiro, poder e moralidade como se estivesse no próprio escritório. Fez questão de bancar o anti-herói, o empresário “sem frescura”, o homem que dizia o que ninguém dizia.

Saiu do programa exatamente como entrou: falado, criticado e comentado. No fundo, o melhor resultado possível para alguém que sempre viveu de atenção.

  1. Política, Lula e o deboche como estratégia

Em algum momento, Maroni resolveu brincar de político. Prometeu cerveja grátis em datas ligadas à prisão de Lula, fez declarações inflamatórias, flertou com a extrema direita e chegou a falar em candidatura presidencial.

Era menos sobre ideologia e mais sobre palco. Maroni entendeu cedo que política rende manchete, engajamento e polêmica. E usou isso como quem usa iluminação cênica: para destacar o próprio personagem.

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A causa da morte não foi revelada, mas ele tinha Alzheimer e no último ano estava internado em uma casa de repouso na capital paulista. Foto: reprodução/Record
  1. O império da noite e o mito que sobrevive ao homem

Nos últimos anos, o Alzheimer tirou de cena aquele que nunca soube ficar quieto. O império passou para os filhos, o Bahamas tentou se reinventar, mas o nome Maroni continuou pairando como símbolo de uma época.

Hoje, com sua morte, encerra-se oficialmente uma era. Não exatamente uma era elegante, nem discreta, nem exemplar. Mas uma era barulhenta, exagerada, escandalosa e absolutamente fiel ao seu protagonista.

Oscar Maroni sai de cena como viveu: cercado de controvérsias, amado por poucos, tolerado por muitos e impossível de ignorar. A noite paulistana segue. Mas sem aquele personagem que fazia questão de lembrar a todos que, ali, o espetáculo nunca foi só sobre luz baixa e taça cheia, era sobre chamar atenção. Sempre.

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