Sábado de primavera, estou aqui no Leblon. O sol brilhando, os corpos suados, os cachorros hidratados e eu , sentada na areia com meu mate geladerrimo , quando o X (esse novo nome horroroso pro Twitter!) me entrega um dossiê: Bruno Motta em estado de fúria santa.
O homem não escreveu um post em uma rede social, ele simplesmente escreveu uma tese de desabafo com diploma de dramaturgia. E que delícia de leitura!
Porque Bruno, humorista dos bons, roteirista de alma e televisista confesso (palavras dele!), simplesmente enquadrou a autora Manuela Dias com a precisão de quem já viu muita incoerência passar na faixa das nove.
E aí vem a bomba: “Deram Vale Tudo pra alguém que PUBLICAMENTE não gosta de novela.”
Eu quase derrubei o meu amado matezinho com limãom pois é o tipo de frase que devia vir com sirene e legenda da GloboNews: “Crítica em andamento, cuidado com estilhaços.”
Bruninho acusa com toda razão o “pecado mortal” da dramaturgia moderna: a arrogância travestida de revolução. Segundo ele, Manuela quis “reinventar” o que não precisava ser reinventado.
Tentou atualizar Gilberto Braga com luz de neon, filosofia de Telegram e o ego de quem acha que pode derrubar um clássico e construir outro no mesmo terreno.
E ele foi fundo em suas críticas, meus amores e disse que viu “pirueta de roteiro”, “frase de efeito” e “inspiração em terceiros” ,uma combinação que, traduzindo, é o pesadelo de qualquer telespectador que ainda tenha memória afetiva.
Fez questão de comparar o caso ao fiasco da diretora da Broadway que destruiu Spider-Man The Musical, matou os vilões e disse que era tudo um sonho. Bruno é cirúrgico: quando o autor quer aparecer mais que a obra, a tragédia é garantida.
E a cada parágrafo, eu me pegava concordando com o divo. Porque, convenhamos, não há nada mais triste que uma autora que parece sentir vergonha de fazer novela.
Manuela escreve como quem pede desculpas por entreter, como se o público fosse uma massa ignorante que precisa ser catequizada pela metáfora.
Bruno encerra com um tapa filosófico de luva suada: “Quer fazer outra coisa? FAÇA O SEU. Vá destruir O SEU prédio com aço e neon.”
E neste exato momento, eu pensei: é isso. A televisão anda cheia de arquitetos que querem demolir monumentos pra erguer espelhos.
No fim, entre um gole e outro, olhei o mar e soltei um riso cínico. Enquanto alguns se esforçam pra provar que são gênios, Bruno Motta só precisou de uma thread pra lembrar que genial mesmo é respeitar quem construiu o chão onde você pisa.
E o sábado seguiu, lindo, ensolarado e venenoso exatamente como a televisão brasileira merece ser.