Testemunha ocular do nascimento de Brasília, Ziraldo (1932-2024) será lembrado em dezembro na capital com o lançamento de dois livros póstumos. “O Caminho das Sete Tias” (Melhoramentos) e “Peixe Grande” (Global Editora) trazem a assinatura e a marca inconfundível do multiartista, em coautoria com Adriana Lins e Guto Lins, respectivamente. A tarde de autógrafos será no dia 13, às 15h30, no Porão Livro & Café, uma das livrarias mais charmosas da cidade.
“O Caminho das Sete Tias” ganhou forma a partir de um texto escrito por Ziraldo na década de 1990: o manuscrito, foi entregue à editora acompanhado por um bilhetinho de próprio punho carregado de sentimento e boa intuição: “Vamos guardar para uma próxima oportunidade.” Por ser um texto tão distinto dos que havia criado para a coleção “Tias”, o autor sugeriu que fosse editado futuramente. Acabou ficando guardado por quase 30 anos.
Com uma narrativa poética e acessível, “O Caminho das Sete Tias” narra a jornada de um príncipe encantado que, tomado pela ausência da alegria, é guiado por sete tias mágicas – cada uma revelando um planeta, uma cor, uma fragilidade humana, uma nota musical – numa busca sensível e simbólica por significado e felicidade. O livro é um convite universal à redescoberta da esperança e da alegria em tempos sombrios.

A concepção do livro, assinada pela designer Adriana Lins – sobrinha de Ziraldo e diretora artística do Instituto Ziraldo (IZ) –, faz uma homenagem à estética de “Flicts”, o primeiro e icônico livro do autor, lançado em 1969. A publicação complementa, de forma comovente e poética, a sempre surpreendente obra de um dos maiores nomes da literatura brasileira.
“Logo o Príncipe Encantado deu de perder a alegria. E o Reino emudeceu! Mas, veloz, Fada Madrinha, chamada, compareceu: — Tu estás a fim de quê? De ficar aí parado, tomando conta do ar? E o Príncipe Encantado informou, incontinente, que dava um dente da frente pra voltar a rir de novo, recuperar seu encanto e alegrar o seu povo!” Assim começa o texto deixado por Ziraldo – um tesouro descoberto pela Melhoramentos e enviado ao IZ com o convite para elaboração do projeto gráfico.
“Mergulhei fundo na história, me perdi na busca, nos simbolismos, na angústia e na força do príncipe. Optei por dar protagonismo às palavras – afinal, encontramos um texto inédito do Ziraldo – e o livro nasceu com imagens gráficas, inspiradas nas formas arredondadas dos sete planetas e nas sete cores do arco-íris. Caminhar pela estética de ‘Flicts’, justamente o primeiro livro do Ziraldo, nos pareceu mais que perfeito!”, revela Adriana Lins, que também idealizou musicar a saga.
“Sete Tias” ganhou trilha sonora composta pelo produtor musical Antonio Pinto, filho de Ziraldo. “Caminhamos com o príncipe até ele se encontrar na música. Por isso a trilha sonora”, acrescenta Adriana. O livro está disponível nas versões impressa e digital.
Biografia metafórica
Já “Peixe Grande” reúne texto de Guto Lins e imagens selecionadas no acervo do Instituto Ziraldo. Aqui, Guto escreve uma biografia metafórica do amigo e ídolo, voltada para crianças de todas as idades. Ele relata a história de um pequeno peixe de água doce que, com coragem, talento e bom humor, nada em direção ao mar em uma trajetória que começa no Rio Doce e termina no Rio de Janeiro.
“O livro é uma homenagem a um menino que se imaginou desenhista e se transformou em referência para a imaginação de todos os meninos, um ícone para a cultura brasileira. Um menino que cresceu e continuou menino para sempre”, revela Guto Lins, que já havia assinado o texto de “Entre Cobras e Lagartos” (2024), dando continuidade à coleção literária com ilustrações garimpadas no acervo do Instituto Ziraldo.
O lançamento representa um novo capítulo editorial: é o primeiro livro de Ziraldo e de Guto pela Global Editora. Lúdico e colorido, ele surpreende ao contar a história de um peixinho que ria e fazia rir como ninguém. Repleto de alusões às consagradas criações de Ziraldo, o peixinho “fabricante de sorrisos” cresce e conquista o mundo com seu talento. A metáfora do Peixe Grande sugere não só a grandiosidade do autor como artista, mas também sua leveza e fluidez única.

Ligação com Brasília
Ao longo de sua trajetória, Ziraldo desenvolveu uma relação intensa com Brasília. Epicentro da política brasileira, a cidade sempre esteve na rota de Ziraldo, presente em charges e cartuns. Ao longo de seis décadas, Brasília foi também palco de sua atuação política, jornalística e artística.
O acervo do Instituto Ziraldo guarda um texto sobre o ato de escrever no qual o artista cita uma caminhada e uma conversa com Lucio Costa, o urbanista idealizador da capital federal. Na década de 1960, quando a cidade foi inaugurada, Ziraldo era relações públicas da revista O Cruzeiro. Na mesma década, integraria a equipe do Jornal do Brasil e, mais tarde, fundaria O Pasquim, do qual seria diretor. Em todos eles, não poupou Brasília e seus personagens.