Foi de pé, com palmas entusiasmadas e rostos comovidos, que o governador Cláudio Castro recebeu aplausos durante uma missa de Finados, na Paróquia Santa Rosa de Lima, na Barra da Tijuca. Aplausos merecidos? Depende do ponto de vista e, no Rio, cada esquina tem o seu.
Dias antes, a cidade ainda contava os corpos da megaoperação que deixou 121 mortos, entre eles, quatro policiais. Enquanto o padre falava em “heróis da corporação” e pedia orações pelas “pessoas boas e honestas das favelas”, o eco das balas ainda pairava sobre o Complexo da Penha e do Alemão.

É a coreografia trágica de um Estado dividido: no templo, o perfume do incenso; no morro, o cheiro da pólvora. O mesmo céu que abençoa o altar testemunha o luto das vielas. De um lado, o conforto espiritual e os microfones; do outro, o silêncio das mães que enterram filhos sem sobrenome.
Eis o retrato do nosso Rio: um palco em que o poder se emociona com aplausos e o povo se acostuma a sobreviver sem plateia. O governador é aplaudido na Barra, mas o que se ouve nas favelas não é o som das palmas, e sim o das sirenes.
A contradição é o idioma oficial da cidade maravilhosa. Reza-se por justiça, mas o altar da segurança pública continua coberto de promessas não cumpridas. Porque no Rio, até a fé tem CEP.