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Jon Batiste, da trilha de ‘Soul’, chega ao Oscar e defende raiz negra do jazz

Ouvir os discos de Jon Batiste é mais ou menos como montar uma playlist num serviço de streaming

Redação Jornal de Brasília

16/04/2021 9h34

Ouvir os discos de Jon Batiste é mais ou menos como montar uma playlist num serviço de streaming -dentro de uma mesma lógica, a seleção pode conter músicas de diferentes estilos. No caso do pianista e cantor americano, a ênfase ficaria no jazz, mas teriam espaço também o soul, o pop, o hip-hop e até mesmo o gospel.

Mas, segundo Batiste, que concorre neste mês a um Oscar pela trilha sonora da animação “Soul” e acaba de lançar um novo disco de estúdio chamado “We Are”, com músicas passeando por todos os estilos lembrados aqui, gêneros musicais não existem.

“O que existe é a herança, a cultura e o espírito de uma pessoa. Jazz é a manifestação da herança do povo negro e da herança dos Estados Unidos”, argumenta. “É muito triste que tenhamos limitado nossos produtos criativos baseados nessas categorias. E acho que isso é algo importante para mim, como criador, contrariar.”

Aos 34 anos, o músico de Nova Orleans passou por um longo trajeto até ser finalista à estatueta e estabelecer seu nome no circuito de jazz contemporâneo. Enquanto se formava na escola de música Juilliard, em Nova York, tocava no metrô e nas ruas da cidade com sua banda Stay Human, que mais tarde passaria a integrar o talk show “The Late Show with Stephen Colbert”, o mais popular dos Estados Unidos.

Batiste conta que a trilha sonora de “Soul” -primeira animação da Pixar com um protagonista negro- foi feita de maneira inovadora. Embora estivesse em contato constante com os produtores do filme, ele não tinha o roteiro enquanto compunha as músicas, e em alguns casos as faixas eram escritas antes mesmo das cenas serem finalizadas. Em geral, conta o músico, as imagens ficam prontas antes e a música é acrescentada num segundo momento.

Enquanto compunha a trilha sonora, câmeras registravam o movimento de suas mãos ao piano, e um miniteclado capturava as notas que tocava, ele conta. Isto tudo foi incorporado ao filme. Quando o protagonista Joe, um professor que sonha em ser pianista de jazz de uma banda famosa, ensina seus alunos a tocar piano, o espectador vê as mãos do próprio Batiste em versão de desenho animado.

O músico americano Jon Batiste Justin French/Handout/Reuters ** “Houve cenas em que eu estava tocando e falando e eles usaram meus diálogos no roteiro”, acrescenta, esclarecendo que também atuou como consultor dos diretores Pete Docter e Kemp Powers no desenvolvimento do personagem principal.

Batiste divide as músicas da animação com Trent Reznor e Atticus Ross, dupla ganhadora do Oscar pela trilha sonora de “A Rede Social”, em 2011. As faixas compostas pelos músicos do Nine Inch Nails são atmosféricas e algo homogêneas, como era de se esperar, e funcionam como um acessório à parte do pianista, sublinhando cenas menos relevantes do roteiro. De todo modo, o trio já levou para casa um Globo de Ouro neste ano pela trilha de “Soul”.

O pianista está agora criando a trilha sonora e ajudando a escrever o roteiro de um musical para a Broadway sobre a vida do grafiteiro Jean-Michel Basquiat, acrescentando que se inspirou também na família do artista.

O ícone dos anos 1980 e amigo de Keith Haring estava na intersecção da música, da pintura e da cultura de sua época, afirma Batiste, lembrando em seguida que “de maneira triste, ele se autodestruiu no momento em que estava alcançando o entendimento completo de quem era, indo em busca de seus ancestrais”.

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