Ícaro Andrade
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“Afeto, violência, superação, solidão e luta”. É assim que o ator cearense Silvero Pereira define o espetáculo BR-Trans. O monólogo retrata a vida marginalizada e excluída de travestis, transsexuais e artistas transformistas brasileiros. Com direção da gaúcha Jezebel de Carli, a ideia de abordar conflitos reais surgiu a partir de uma pesquisa de quatro anos feita nas ruas de Porto Alegre (RS). Aplaudido por mais de 40 mil pessoas em todo o País, o premiado espetáculo estreia hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, com sessões até 21 de maio, sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h.
No projeto Silvero se dedicou a conviver e transitar nesse mundo colorido, diversificado e sem limites. “A obra é para além de um espetáculo, é um processo de mapeamento e pesquisa sobre o universo ‘T’. Em cena foi possível costurar histórias reais de travestis, transexuais e transformistas de diferentes partes do Brasil. O intuito é traçar convergências e divergências sociais e políticas desse universo em meio a um país tão extenso e com diferentes formas de exercer as leis de direitos e deveres em cada estado”, ressalta Silvério, no ar na novela A Força do Querer (Globo).
Por meio de muita música ao vivo, jogo de cena e um processo de atuação profunda, BR-Trans desconstrói histórias sobre marginalidade, medo e sofrimento. “É um espetáculo singelo na sua cenografia, mas que possui uma grande performance cênica. A música é um forte elemento de dramaturgia. Canções como Balada de Gisberta, na voz de Bethânia; Shake It Out, do Florence and The Machine; e até mesmo o clássico Geni e o Zepelin, de Chico Buarque, são pontos altos do trabalho”, destaca o artista.
Para ele, a peça faz o público refletir sobre a diversidade. “Eu acredito no teatro como instrumento de questionamento e provocação social. Assim, BR-Trans tem conseguido tratar o assunto para além da caricatura, do estereótipo, com que o preconceito se apresenta no cotidiano”, conclui.
Familiarizado com o tema
Em cartaz desde 2013, a montagem já participou de festivais teatrais importantes do País. Lá fora, passou pelo XXX International Hispanic Theatre Festival of Miami (EUA) e pelo Brazil Festival in Dresden (Alemanha).
Parte do elenco da novela das nove da TV Globo, Silvero interpreta Nonato, um personagem que lança luz às questões relacionadas à travestilidade e à transexualidade. Sobre sua trajetória artística e já habituado a trabalhar com o “pensa e acredita”, o artista destaca que, assim como uma luta nunca acaba – visto o crescente números de casos de transfobia no Brasil –, o espetáculo também resiste.
Números assustam
“Sinto que BR-Trans não é uma obra finalizada, pois ainda me choca a morte truculenta da travesti Dandara, que foi filmada e exposta nas redes sociais este ano, ou a Érika, que após ser jogada de um viaduto ficou 40 dias em coma e, após 30 dias em estado vegetativo, veio a falecer. Ainda esta semana, uma travesti em Belém foi cruelmente assassinada. Esses são apenas 3 casos que chegaram às pessoas – somente em abril deste ano já se contabilizam mais de 45 assassinatos por transfobia no Brasil, lamenta.
Segundo ele, esses são apenas os casos registrados, “fora os que não temos conhecimento ou que negaram a identidade de gênero da vítima, fato que reduz o índice”, finaliza.
Serviço
BR-Trans
Hoje e amanhã, às 20h; domingo, às 19h. No Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Esportivos Sul). Ingressos: R$ 10 (meia-entrada). Informações: 3108.7600. Não recomendado para menores de 14 anos