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Diretor desafeto de Putin diz em Cannes que entende, mas não aceita boicote a russos

Kirill Serebrennikov comentou em entrevista sobre quem pede um boicote à cultura de seu país, mas que não pode aceitá-lo

FolhaPress

19/05/2022 9h14

Kirill Serebrennikov comentou em entrevista sobre quem pede um boicote à cultura de seu país, mas que não pode aceitá-lo

Foto/Reprodução

Kirill Serebrennikov, um dos principais nomes do cinema russo atual, disse em conversa com jornalistas no Festival de Cannes, nesta quinta-feira (19), que entende quem pede um boicote à cultura de seu país em meio à guerra na Ucrânia, mas que não pode aceitá-lo.

Na disputa pela Palma de Ouro, “Tchaikovsky’s Wife”, seu filme, foi exibido na quarta, sob a promessa de alfinetar o governo russo ao tecer um retrato íntimo do maior compositor do país, Piotr Ilyich Tchaikóvski, supostamente homossexual. Independentemente do filme, Serebrennikov já é um crítico notório do governo de Vladimir Putin, e esteve proibido de sair da Rússia até dois meses atrás.

“Eu entendo as pessoas que exigem um boicote a filmes russos, porque o que acontece hoje na Ucrânia é extremamente doloroso. Mas a língua do país vai além de sua atitude de agressor e de sua cultura colonialista”, disse ao ser questionado sobre aqueles que defenderam que o Festival de Cannes não exibisse filmes russos neste ano.

O evento não deu ouvidos aos pedidos, mas proibiu que comitivas oficiais e jornalistas de veículos alinhados a Putin comparecessem à riviera francesa. Os protestos vieram em meio a uma onda de boicotes à cultura russa, do drinque moscow mule aos textos de Dostoiévski.

“Um boicote como puro resultado da nacionalidade de um artista me parece exagero, porque a cultura é como o ar, a água. É algo essencial e completamente independente das atitudes dos homens”, afirmou Serebrennikov, citando, além de Dostoiévski, Anton Tchekhov e o próprio Tchaikóvski.

“Falamos de obras de grande valor humano, que refletem sobre a fragilidade do homem, são apaixonadas pelo humano. Quem faz a guerra não se interessa por isso. As palavras cultura e guerra são completas antagonistas. O cinema, a música, o teatro, a literatura têm um valor por si só.”

Ao ser relembrado do pedido da Academia Ucraniana de Cinema para que o festivais e salas de cinema de todo o mundo parassem de exibir filmes russos, Serebrennikov reiterou que entende, mas que não pode concordar com o pedido. Citou, inclusive, uma peça que adaptou em seu país natal com dinheiro público, mas que abordava temas diametralmente opostos à natureza do governo Putin e da guerra.

“Tchaikovsky’s Wife” desviou de algumas críticas nesse sentido, já que foi completamente financiado com dinheiro privado -até porque sua temática LGBTQIA+, acredita Serebrennikov, jamais seria aprovada num edital público. Por outro lado, tem o oligarca russo Roman Abramovich, atualmente sob sanções no Ocidente, como um dos financiadores.

Descrito por Serebrennikov como um patrono do cinema independente russo há anos, ele foi defendido pelo cineasta, que pediu que as sanções fossem encerradas, já que as obras que Abramovich apoia são “o contrário de filmes de propaganda”.

Para finalizar, o cineasta disse ainda que é papel dos artistas ajudar as várias vítimas e refugiados do conflito na Ucrânia, a quem prestou solidariedade.

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