O jardineiro Chavedegol Galvão de Souza, de 40 anos, de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, ganhou esse nome a partir da união de duas coisas de que o pai, um sargento da PM, gostava. “Meu pai assistia ao programa Chaves e tinha um Gol”, resumiu.
A família de Chavedegol Galvão é mais um caso de “criatividade” familiar para colocar nomes “diferentões” nos filhos.
Chavedegol é o caçula do militar Inácio Galvão e de dona Adélia de Souza, que já morreram. Entre os oito irmãos, seis têm nomes “incomuns”. Todos eles foram escritos por mensagem de celular e enviados à reportagem pelo próprio jardineiro para facilitar a compreensão.
O irmão mais velho é Water Crow. Tem um que se chama Anter Brum e outro foi batizado de Blumenaudo. Fazem parte da família, ainda, Telegram, Charliedgeol e Hanamix.
As outras duas irmãs ganharam nomes considerados mais “simples”: Cleonice e Sueli. O jardineiro disse que Charliedegol foi uma “homenagem” ao general francês Charles de Gaulle, que lutou na Segunda Guerra Mundial.
“Meu pai não gostava muito de nomes comuns, que havia nas outras famílias na vizinhança. Ele dizia que ninguém iria copiar os nomes da gente”, explicou.
Para facilitar ainda mais o entendimento sobre o próprio nome, no início da conversa por telefone, ele foi adiantando. “Meu nome se fala tudo junto. Mas me chamam de Chavinho”, contou.
Em entrevista ao G1, Chavedegol contou, com muito humor, histórias relacionadas ao nome. Fatos que aconteceram na escola, no médico e até em uma blitz da polícia.
Na época do colégio, uma professora dizia: “Chavedegol, a diretora cadeado quer falar com você”, afirmou.
O jardineiro contou também como foi a conversa com policiais que faziam uma blitz. Ele estava de moto, foi parado e manteve um diálogo inusitado, já que os agentes de segurança não acreditaram no que estavam lendo na carteira de motorista e no documento do veículo.
“Um dos policiais disse que não podia ter habilitação e documento da moto com o mesmo nome de uma empresa. O outro afirmou que não existia nome de empresa em carteira de motorista. Eu expliquei o meu nome, ficou todo mundo rindo e eles me liberaram”, lembrou.
As risadas também fizeram parte da rotina do jardineiro em consultas médicas ou em qualquer lugar que precisasse se apresentar. “O pessoal do banco pedia cópia da habilitação para me atender”, disse.
Linha dura
Chavedegol disse que o pai, o sargento, era muito rígido e tinha normas severas para “manter” os nove filhos na ”linha”.
Primeiro, mesmo com os nomes “diferentes”, não gostavam muito de apelidos em casa. “A gente costuma se chamar pelo nome mesmo. Meu irmão que é Telegram a gente chama de Ferro. Não sei o motivo”, comentou.
Mesmo sem a aprovação de apelidos em casa, fora da residência, ele não teve como escapar. “Pegam meu nome e juntam com qualquer modelo de carro. É Chavedefusca, Chavedefiat e Chavedechevette”.
Na rotina da casa do militar, os filhos tinham hora para chegar, se fossem para uma festa. “Tinha que ser às 22h. Depois de dez minutos, tinha que escolher o castigo: duas palmadas de palmatória, chicotadas ou fazer a limpeza de parte do terreno de casa de noite”, declarou.
Questionado se o castigo era para todos os irmãos, ele afirmou. “Sim. Tinha que chegar no horário”, disse.
Outra medida adotada pelo pai era proibir os filhos de assistirem a programas de TV, como novelas e até jogos de futebol. “Era para não provocar brigas entre quem estava ganhando ou perdendo”, observou.
O fato de passar a acompanhar programas de TV foi um dos motivos que levaram Chavedegol Galvão a entrar em contato com o G1 para contar a história.
Cartórios
Segundo a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil), a Lei 6.015 de 1973 já previa que o cartório poderia recusar o registro dos nomes diferentes.
A nova Lei de Registros Públicos, que entrou em vigor em 27 de junho, facilitou a mudança de nomes e sobrenomes.
Caso os pais discordem da atitude da pessoa que está recusando fazer o registro no cartório, o caso deve ser encaminhado, por escrito, à decisão do juiz responsável pelo cartório, segundo o inciso 1 do artigo 55.
Lei
A nova Lei de Registros Públicos entrou em vigor em 27 de junho e, de maneira geral, amplia as possibilidades para alteração de nomes e sobrenomes diretamente em cartório, sem a necessidade de procedimento judicial ou contratação de advogados.
Independentemente de prazo, motivação, gênero, juízo de valor e de decisão judicial, a alteração do nome no Brasil, chamado juridicamente de prenome, pode ser solicitada uma vez por qualquer pessoa maior de 18 anos diretamente no cartório. O pedido só é negado em casos suspeitos de fraude ou má-fé.
Outra mudança prevista pela legislação foi permitir a troca do nome de um recém-nascido em até 15 dias após o registro, no caso de não ter havido consenso entre os pais sobre como a criança vai se chamar.
As informações são do G1.