A quarta noite da Mostra Competitiva Nacional do 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, nesta quarta-feira (4), celebrou histórias de diferentes partes do país, com uma seleção inteiramente voltada para o gênero ficção. No Cine Brasília, o público mergulhou em narrativas emocionantes e únicas, com destaque para produções das regiões Norte e Sudeste.
A noite começou com o curta E Assim Aprendi a Voar, dirigido por Antônio Fargoni, que apresentou uma tocante história de superação. A trama acompanha Guilherme Sussuarana, um homem em Rondônia que, apesar de enfrentar dificuldades no mercado de trabalho, encontra no cinema uma maneira de se reinventar.
O suspense deu o tom em Mãe do Ouro, curta dirigido por Maick Hannder. Na obra, Tiana enfrenta uma jornada pessoal marcada pelo mistério e pela dor, enquanto tenta compreender a morte de sua irmã em uma noite sem lua.
Encerrando a programação, o longa-metragem Enquanto o Céu Não Me Espera, de Christiane Garcia, trouxe o olhar amazônico para a telona. O filme narra a luta de um agricultor contra as adversidades impostas pelas cheias dos rios, enquanto tenta preservar suas memórias e manter sua família unida.
Desafios e reflexões: Christiane Garcia fala sobre “Enquanto o Céu Não Me Espera“
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, Christiane Garcia, diretora do longa Enquanto o Céu Não Me Espera, trouxe detalhes sobre o processo criativo da obra exibida no Festival de Brasília. O filme retrata as tensões de um agricultor ribeirinho ao lidar com as cheias dos rios amazônicos e os vínculos emocionais com sua família e memórias.
“O homem ribeirinho da Amazônia é contido e pouco expressa suas emoções, mesmo diante de situações extremas”, afirmou Christiane. “Transformar essas emoções e o conflito com a desagregação familiar em ações no filme foi desafiador. Tudo é dito de forma sutil, e o ambiente muitas vezes fala por si, sem auxílio de palavras.”
A diretora também ressaltou a migração causada pelas mudanças climáticas e sua influência no enredo. “Destaco no filme o convívio íntimo e o processo de administrar sonhos e frustrações em um lugar onde a natureza se impõe de forma inegociável. Não há vilão no contexto do filme, e a natureza certamente não é um deles”, comentou.
Sobre as tensões visuais no longa, Garcia explicou que a casa e a água são elementos simbólicos que conduzem o conflito. “A casa vai se transformando e submergindo com a cheia, refletindo as mudanças e as perdas das personagens. Enquanto a esposa vê o abandono como uma solução lógica, para o marido, a lógica está alinhada às necessidades da natureza.”
A diretora também destacou como questões sociais e climáticas da Amazônia moldaram a narrativa. “A subsistência de famílias ribeirinhas e indígenas está gravemente ameaçada. Vicente, o personagem central, simboliza esses povos que têm na floresta sua orientação e sobrevivência, mas que enfrentam hoje os extremos climáticos de forma imprevisível e preocupante.”
O 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro acontece de 30 de novembro a 7 de dezembro no Cine Brasília e em espaços culturais do Gama, Planaltina e Taguatinga. Os ingressos para a mostra competitiva no Cine Brasília custam a partir de R$ 10, enquanto as demais exibições são gratuitas.
SERVIÇO
57o FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Data: Até sábado (7) de dezembro
Local: Cine Brasília (106/107 Sul), Cia. Lábios da Lua (Gama), Centro Universitário Estácio (Pistão Sul, Taguatinga) e Complexo Cultural de Planaltina.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) somente para as sessões da Mostra Competitiva Nacional no Cine Brasília. Entrada franca mediante retirada prévia de ingressos para as demais sessões.
Programação completa: festcinebrasilia.com.br