O último dia da Mostra Competitiva do 57º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, realizado nesta sexta-feira (6/12), trouxe à tona produções marcantes do eixo Rio-São Paulo. A programação no Cine Brasília teve início com o curta “Dois Nilos” (RJ), dirigido por Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro, que explorou memórias e sonhos em um poético mergulho na vida de Afrânio Vital, um cineasta brasileiro. Na sequência, o público acompanhou “E seu corpo é belo” (RJ), de Yuri Costa, que mistura terror, romance e musical em meio às festas black dos subúrbios cariocas na década de 1970.
O grande destaque da noite foi a exibição de “A fúria (SP)”, longa-metragem de Ruy Guerra e Luciana Mazzotti, que encerrou a programação competitiva com um thriller político carregado de simbolismos. A produção completa a trilogia do cineasta, iniciada com Os fuzis (1964) e A queda (1977), apresentando a história de Mário, que ressurge da terra em busca de vingança contra os traidores Salatiel e Feijó. Ambientado no contexto da ditadura militar, o filme discute a renovação de uma sociedade decadente, onde as minorias assumem papel de destaque nas mudanças sociais.
Ruy Guerra e Luciana Mazzotti falam sobre “A Fúria” e a renovação social
No 57º FBCB, os diretores Ruy Guerra e Luciana Mazzotti conversaram sobre o longa. Durante a entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, os cineastas discutiram como a trama conecta-se com suas produções anteriores e a relevância das questões abordadas no filme, como a renovação de uma sociedade decadente e a ascensão de vozes femininas.
Ruy Guerra explicou que a ideia de uma trilogia surgiu organicamente, sem uma previsão inicial. “Quando fiz Os Fuzis, não sabia que começaria uma trilogia. Senti a necessidade de continuar com o personagem de Mário, explorar outro aspecto dele. O que vi de início foi um soldado, mas depois quis aprofundar a jornada desse homem fora do contexto militar”, disse. Para ele, a conexão entre os filmes se dá pelo desenvolvimento do personagem e as fases distintas de sua vida, que levam a história a um novo nível.
A trama é uma narrativa de vingança e renovação, onde Mário, depois de ser morto durante a ditadura, retorna para buscar justiça. Guerra destacou que a temática de renovação de uma sociedade decadente, abordada no filme, é central. “Não estamos falando de minorias, mas sim de uma sociedade decadente que precisa ser renovada. O filme coloca figuras femininas fortes, como Petra, Mona Lisa e Laura, e explora como elas buscam tomar o poder”, explicou o diretor.
Luciana Mazzotti compartilhou sua empolgação pelo processo de construção dos personagens femininos do filme. “Foi incrível trabalhar com Grace Paschoal, Lucy Negre e Simone Spoladori. Elas trouxeram uma intensidade e profundidade para as personagens que vai além do que podemos ver na tela”, afirmou.
Sobre o impacto de estar no Festival de Brasília, Guerra expressou uma emoção difícil de descrever. “É uma emoção forte, mas difícil de circunscrever. Trabalhar com Luciana foi fundamental, ela trouxe um ponto de vista muito emocional e criativo para o projeto”, disse.
A Fúria, que traz à tona discussões de poder, feminismo e renovação social, marca não só o encerramento da trilogia, mas também um reflexo de uma sociedade que se reinventa a partir da dor e do enfrentamento.
SERVIÇO
57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Data:Até 7 de dezembro
Local: Cine Brasília (106/107 Sul), Cia. Lábios da Lua (Gama), Centro Universitário Estácio (Pistão Sul, Taguatinga) e Complexo Cultural de Planaltina.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) somente para as sessões da Mostra Competitiva Nacional no Cine Brasília. Entrada franca mediante retirada prévia de ingressos para as demais sessões.
Programação completa: festcinebrasilia.com.br