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Cinema

Ainda Estou Aqui: o resgate de uma memória coletiva por meio da sétima arte

Com atuações emocionantes e direção impecável, o novo filme de Walter Sales cumpre o papel de sensibilizar o público sobre o horrores da ditadura e atrai pessoas de todas as idades aos cinemas

Daniel Xavier

05/12/2024 15h26

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Amigas Kamilly e Ana Betriz. Crédito: Daniel Xavier

Em meio às longas filas nos cinemas de Brasília para assistir “Ainda Estou Aqui”, o público jovem se destaca entre uma audiência diversificada. O novo filme de Walter Salles já é o maior sucesso de bilheteria do cinema brasileiro no pós-pandemia. Segundo a Comscore, que acompanha dados de bilheteria globalmente, o filme arrecadou cerca de R$ 49,1 milhões e atraiu mais de 2 milhões de pessoas, com 2.311.180 ingressos vendidos até quarta-feira (4/12). Além disso, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas indicou que a produção está elegível para concorrer ao Oscar 2025 na categoria de “Melhor Filme Internacional”. A lista oficial de indicados será divulgada em 17 de janeiro, com a premiação marcada para 2 de março.

No Kinoplex do Pátio Brasil, Gabriele Santos e sua namorada, Amanda Karen, ambas de 25 anos, assistiam ao filme motivadas por um interesse em aprender mais sobre a ditadura militar. “É essencial ver uma obra que retrata as experiências de quem viveu e sofreu durante aquele período. A ditadura ainda é tema de muito debate”, comenta Gabriele. Amanda, além de interessada pelo contexto histórico, estava lá para prestigiar Fernanda Torres: “Ela tem grandes chances de ganhar o prêmio de melhor atriz. Ver artistas brasileiros sendo reconhecidos por trabalhos tão importantes é motivo de orgulho”.

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Gabriele Santos e Amanda Karen, no Kinoplex Pátio Brasil. Crédito: Daniel Xavier

Jota Nunes, 72 anos, aguardava ansiosamente para assistir à adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 2015. “Já li o livro e quero ver como foi adaptado para o cinema. Mesmo com as diferenças entre os formatos, acredito que a essência da história será mantida. É um tema crucial para os jovens entenderem esse período difícil da nossa história”, comenta o administrador, que relembra a censura vivida na época. “Na minha geração, mesmo sendo jovem, sentíamos o peso da opressão. Não podíamos falar sobre o que acontecia, era tudo muito velado, até mesmo na faculdade”.

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Jota Antunes. Crédito: Daniel Xavier

Há uma semana, o Cine Brasília estava lotado, refletindo o entusiasmo do público. No meio da movimentação, Walder Junior, produtor de cinema, destacou a importância do cinema para a preservação da memória. “Filmes como esse cumprem um papel essencial. Recentemente, perdemos parte da nossa história no incêndio da Cinemateca Brasileira, o que reforça a necessidade de registrar nossa memória audiovisual”, disse o produtor. Segundo ele, o longa é um resgate de memórias e um alerta: “Sem conhecer nosso passado, não temos como construir o futuro”.

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Walder Júnior, produtor de cinema. Crédito: Daniel Xavier

Enquanto aguardavam a sessão, três amigas — Maria Eduarda, Estefane e Kethellyn — compartilhavam a expectativa. Para Maria Eduarda, de 21 anos, a admiração pelos atores era sua principal motivação: “Admiro muito o trabalho dos atores e estou ansiosa para ver como eles trazem essa história à vida”. Estefane, de 25 anos, mencionou ter ouvido comentários positivos sobre o filme. “Dizem que é uma experiência intensa, especialmente para nós brasileiros, por retratar um período tão marcante”. Kethellyn, 23, esperava uma sessão cheia de emoções.

Durante a exibição, Kamilly Souza, 26, estudante de arquitetura, comentou sobre a performance de Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva, uma mãe que vê o marido desaparecer durante a ditadura. “A espera por respostas, por um atestado de óbito, torna a dor ainda mais devastadora. É essencial lembrar dessas histórias, especialmente para as famílias que até hoje não tiveram justiça”, refletiu Kamilly. Ela ressaltou a ausência de um museu dedicado à memória da ditadura no Brasil, um contraste com outros países da América Latina.

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Amigas Kamilly e Ana Betriz. Crédito: Daniel Xavier

Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, “Ainda Estou Aqui” revisita um dos capítulos mais sombrios da história brasileira: o desaparecimento de Rubens Paiva, deputado federal, durante a ditadura militar. O filme acompanha a trajetória de Eunice Paiva, que, após perder o marido, torna-se advogada e luta pelo reconhecimento oficial de sua morte. A narrativa, ambientada nos anos 1970, retrata com sensibilidade o impacto da perda sobre Eunice e seus cinco filhos, em meio à brutalidade da repressão política.

Sob a direção de Walter Salles, o longa equilibra momentos de dor e resiliência, mostrando a transição de uma família harmoniosa para um ambiente de angústia e luta por justiça. A narrativa é construída com sutileza, ressaltando o poder do cinema em contar histórias que ainda reverberam na sociedade.

No âmbito internacional, a campanha para que “Ainda Estou Aqui” seja indicado ao Oscar está a todo vapor. Fernanda Torres, que cumpre compromissos de divulgação em Los Angeles, comemorou o marco de 1 milhão de espectadores no Brasil. “Estou muito feliz com o sucesso do filme e espero que essa corrente continue. Assistir a um filme tão sensível nos cinemas é uma experiência única. Vamos espalhar essa energia para outros filmes nacionais também”, declarou a atriz.

Com o lançamento do filme, o livro de Marcelo Rubens Paiva voltou ao topo da lista de mais vendidos na Amazon. A obra, lançada em 2015, narra a história de Eunice Paiva, que enfrentou o desafio de criar os filhos após o desaparecimento do marido durante a ditadura.

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