Em meio às longas filas nos cinemas de Brasília para assistir “Ainda Estou Aqui”, o público jovem se destaca entre uma audiência diversificada. O novo filme de Walter Salles já é o maior sucesso de bilheteria do cinema brasileiro no pós-pandemia. Segundo a Comscore, que acompanha dados de bilheteria globalmente, o filme arrecadou cerca de R$ 49,1 milhões e atraiu mais de 2 milhões de pessoas, com 2.311.180 ingressos vendidos até quarta-feira (4/12). Além disso, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas indicou que a produção está elegível para concorrer ao Oscar 2025 na categoria de “Melhor Filme Internacional”. A lista oficial de indicados será divulgada em 17 de janeiro, com a premiação marcada para 2 de março.
No Kinoplex do Pátio Brasil, Gabriele Santos e sua namorada, Amanda Karen, ambas de 25 anos, assistiam ao filme motivadas por um interesse em aprender mais sobre a ditadura militar. “É essencial ver uma obra que retrata as experiências de quem viveu e sofreu durante aquele período. A ditadura ainda é tema de muito debate”, comenta Gabriele. Amanda, além de interessada pelo contexto histórico, estava lá para prestigiar Fernanda Torres: “Ela tem grandes chances de ganhar o prêmio de melhor atriz. Ver artistas brasileiros sendo reconhecidos por trabalhos tão importantes é motivo de orgulho”.
Jota Nunes, 72 anos, aguardava ansiosamente para assistir à adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 2015. “Já li o livro e quero ver como foi adaptado para o cinema. Mesmo com as diferenças entre os formatos, acredito que a essência da história será mantida. É um tema crucial para os jovens entenderem esse período difícil da nossa história”, comenta o administrador, que relembra a censura vivida na época. “Na minha geração, mesmo sendo jovem, sentíamos o peso da opressão. Não podíamos falar sobre o que acontecia, era tudo muito velado, até mesmo na faculdade”.
Há uma semana, o Cine Brasília estava lotado, refletindo o entusiasmo do público. No meio da movimentação, Walder Junior, produtor de cinema, destacou a importância do cinema para a preservação da memória. “Filmes como esse cumprem um papel essencial. Recentemente, perdemos parte da nossa história no incêndio da Cinemateca Brasileira, o que reforça a necessidade de registrar nossa memória audiovisual”, disse o produtor. Segundo ele, o longa é um resgate de memórias e um alerta: “Sem conhecer nosso passado, não temos como construir o futuro”.
Enquanto aguardavam a sessão, três amigas — Maria Eduarda, Estefane e Kethellyn — compartilhavam a expectativa. Para Maria Eduarda, de 21 anos, a admiração pelos atores era sua principal motivação: “Admiro muito o trabalho dos atores e estou ansiosa para ver como eles trazem essa história à vida”. Estefane, de 25 anos, mencionou ter ouvido comentários positivos sobre o filme. “Dizem que é uma experiência intensa, especialmente para nós brasileiros, por retratar um período tão marcante”. Kethellyn, 23, esperava uma sessão cheia de emoções.
Durante a exibição, Kamilly Souza, 26, estudante de arquitetura, comentou sobre a performance de Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva, uma mãe que vê o marido desaparecer durante a ditadura. “A espera por respostas, por um atestado de óbito, torna a dor ainda mais devastadora. É essencial lembrar dessas histórias, especialmente para as famílias que até hoje não tiveram justiça”, refletiu Kamilly. Ela ressaltou a ausência de um museu dedicado à memória da ditadura no Brasil, um contraste com outros países da América Latina.
Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, “Ainda Estou Aqui” revisita um dos capítulos mais sombrios da história brasileira: o desaparecimento de Rubens Paiva, deputado federal, durante a ditadura militar. O filme acompanha a trajetória de Eunice Paiva, que, após perder o marido, torna-se advogada e luta pelo reconhecimento oficial de sua morte. A narrativa, ambientada nos anos 1970, retrata com sensibilidade o impacto da perda sobre Eunice e seus cinco filhos, em meio à brutalidade da repressão política.
Sob a direção de Walter Salles, o longa equilibra momentos de dor e resiliência, mostrando a transição de uma família harmoniosa para um ambiente de angústia e luta por justiça. A narrativa é construída com sutileza, ressaltando o poder do cinema em contar histórias que ainda reverberam na sociedade.
No âmbito internacional, a campanha para que “Ainda Estou Aqui” seja indicado ao Oscar está a todo vapor. Fernanda Torres, que cumpre compromissos de divulgação em Los Angeles, comemorou o marco de 1 milhão de espectadores no Brasil. “Estou muito feliz com o sucesso do filme e espero que essa corrente continue. Assistir a um filme tão sensível nos cinemas é uma experiência única. Vamos espalhar essa energia para outros filmes nacionais também”, declarou a atriz.
Com o lançamento do filme, o livro de Marcelo Rubens Paiva voltou ao topo da lista de mais vendidos na Amazon. A obra, lançada em 2015, narra a história de Eunice Paiva, que enfrentou o desafio de criar os filhos após o desaparecimento do marido durante a ditadura.