O Cine Brasília foi palco, na noite deste sábado (30), da abertura do 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, evento que reuniu grandes nomes do audiovisual em uma celebração à memória e à relevância do cinema nacional. A cerimônia, marcada por momentos de emoção, foi conduzida pela atriz e influenciadora Gleici Damasceno e pela atriz e arte educadora Ana Luiza Bellacosta, unindo talentos do Acre e do Distrito Federal.
A homenageada principal da noite foi a atriz e cantora Zezé Motta, ícone do cinema e da televisão brasileira, que recebeu o prêmio de Conjunto da Obra e mais um Troféu Candango. Em seu discurso, Zezé emocionou a plateia ao refletir sobre sua trajetória.
“Sempre que eu recebia um prêmio de conjunto da obra, pensava: ‘Meu Deus, será que eu mereço?’. Hoje eu tenho certeza que eu mereço”
A artista já havia conquistado o Candango de Melhor Atuação por sua interpretação no clássico Xica da Silva (1975), de Cacá Diegues.
Outro momento marcante foi a homenagem póstuma ao cineasta Vladimir Carvalho, falecido em 24 de outubro deste ano. Reconhecido como um dos maiores documentaristas do país, Vladimir deixou um legado inestimável. Em tributo, a sala principal do Cine Brasília foi rebatizada com seu nome, e uma placa em sua memória foi inaugurada.
O evento também destacou figuras essenciais do audiovisual brasileiro. O prêmio da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo foi entregue à atriz e professora Mallú Moraes, que dedicou sua vida à produção cinematográfica nacional, e ao cineasta Pedro Anísio, expoente do Cinema Marginal durante o período da ditadura militar.
Claudio Abrantes destaca legado de Vladimir Carvalho
O secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Claudio Abrantes, em entrevista ao Jornal de Brasília reforçou o impacto do legado do cineasta Vladimir Carvalho para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e a cultura da capital federal. Segundo ele, o tributo ao artista, com a nomeação da sala principal do Cine Brasília, simboliza um agradecimento eterno.
“É uma maneira de dizer: muito obrigado, Vladimir. Não apenas lembrar o nome, mas a obra, quem foi, a maneira como se comportava: mestre, professor, amigo, uma pessoa talentosíssima que escolheu Brasília para viver e produzir. Ele fez isso com muita força até seus últimos dias, e o legado dele vai continuar. Todos os anos, vimos Vladimir aqui nas primeiras fileiras. É emocionante. O ano passado, mesmo, pude fazer uma reverência a ele do palco, e agora, mesmo que ele não esteja fisicamente, sabemos que este legado está aqui,” destacou Abrantes.
O Festival de Brasília, conhecido como o mais longevo do país, foi outro ponto de celebração. Segundo o secretário, o evento mantém sua essência independente e resistente desde os tempos da ditadura, reforçando a identidade cultural miscigenada do Distrito Federal. “O festival tem vida própria, pulsa de uma forma única, sem controle ou freios, e isso reflete o jeito como a cena cultural de Brasília trabalha e se expressa,” afirmou.
Abrantes também adiantou que a Secretaria de Cultura tem novos projetos em andamento para homenagear outras figuras de destaque do audiovisual brasileiro. Entre as iniciativas, estão as tratativas para preservar o acervo de Vladimir Carvalho e a criação de um conselho para discutir políticas voltadas ao cinema e ao audiovisual no Distrito Federal. “Queremos resgatar e homenagear todos que contribuíram e ainda contribuem para o audiovisual brasileiro,” concluiu.
Marcelo Gomes reflete sobre o processo criativo e o simbolismo de Brasília em Criaturas da Mente
Em uma conversa emocionante com o JBr, o diretor do documentário Criaturas da Mente, Marcelo Gomes, compartilhou a origem do projeto e o processo de transformar conceitos complexos sobre sonhos, ciência e espiritualidade em uma linguagem cinematográfica única.
A história do documentário, segundo Gomes, teve início durante a pandemia, um período em que muitos enfrentaram dificuldades com o sono e os sonhos. “Essa história começou na época da pandemia. Comecei a ler muito sobre sonhos, fiquei muito envolvido com o tema, estava vivendo um problema de dormir, de sonhar, e todos nós passamos por isso. A pandemia foi o momento onde todos tivemos problemas com o sonho, com o inconsciente, e também o momento em que prestamos mais atenção a esses aspectos,” revelou o diretor.
O processo de transitar entre a ciência e a linguagem do cinema foi um desafio que Gomes enfrentou de forma criativa. “Não sou cientista, então o que eu fiz foi tentar acessar os conhecimentos do cidadão através do meu cinema. Construi um diálogo entre o meu cinema e a ciência dele, e foi por meio do meu cinema que eu fui entendendo o que o inconsciente estava dizendo,” explicou Gomes, ressaltando a importância da comunicação entre o cinema e o conhecimento científico.
Criaturas da Mente também reflete sobre a relação entre ciência e espiritualidade. Para o diretor, essas duas áreas possuem muito a aprender uma com a outra. “O filme é justamente sobre essa dualidade. A grande questão é que a ciência tem muito a aprender com a religiosidade, e a religiosidade tem muito a aprender com a ciência. O inconsciente é a maior parte do nosso cérebro, e a gente ainda desconhece muito sobre isso. Acho que esses conhecimentos ancestrais têm muito a contribuir com a ciência,” afirmou Gomes.
Brasília, com sua forte carga simbólica e como cenário de muitos sonhos, tem uma relevância especial no documentário. “O primeiro documentário que fiz na minha vida, Maracatu Maracatois, foi no Festival de Brasília, em 1995. Parte desse filme está no Criaturas da Mente, e é uma grande emoção para mim estar de volta, com o filme sendo apresentado na Sala Vladimir Carvalho. Não há homenagem maior, é uma grande honra para mim,” completou, emocionado.