FRANCISCO LIMA NETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, usou as redes sociais na tarde desta terça-feira (28) para criticar a Operação Contenção, realizada pela polícia do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho.
Ele classificou a ação, que deixou mais de 60 mortos, como a maior chacina da história do Rio.
A ação que ocorreu nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte, que juntos abrigam 26 comunidades. A operação desta terça é a mais letal da história do estado.
“O crime é o reflexo da sociedade. O dia que eu ver a favela chorar e não vir aqui falar desse sistema sujo, não vou estar sendo eu”, escreveu no X.
“Minha alma sangra. Tirar o fuzil existe o ser humano. Eu nunca vou achar normal a polícia entrar em uma favela e matar 70 pessoas quando o que sempre faltou [sic] foi oportunidades [sic]. Favela tem família, favela não é parque de diversão da burguesia, favela é campo de concentração?”, afirmou ele.
Ainda segundo o artista, “a caneta mata mais do que o fuzil.”
Ele fez publicação semelhante no Instagram.
Oruam, segundo a Polícia Civil, é investigado sob suspeita de tráfico de drogas e associação ao tráfico. A polícia diz que as investigações “apontam indícios de que Oruam mantém vínculos com integrantes do Comando Vermelho, servindo como financiador e promotor da chamada narcocultura, que glamouriza o crime”.
O artista é filho de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, apontado como líder do Comando Vermelho, que cumpre pena desde 1996. Ele é sobrinho do Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes, que investigava abusos sexuais de menores e tráfico de drogas em uma comunidade. Oruam tem tatuagens em homenagem aos dois.
Oruam deixou a prisão em 29 de setembro, após decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele estava na penitenciária Serrano Neves (conhecida como Bangu 3A), no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, desde o dia 22 de julho.
O artista estava preso preventivamente (sem prazo) em um processo no qual é réu por de tentativa de homicídio contra o delegado Moyses Santana Gomes e o oficial Alexandre Alves Ferraz, da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Ele passou 69 dias na prisão.
O episódio que levou o rapper à prisão ocorreu em 21 de julho, quando policiais civis foram à casa dele, no Joá, zona oeste do Rio, cumprir um mandado de busca e apreensão contra um adolescente que estava no local e que estaria descumprindo medida socioeducativa.
Na ocasião, de acordo com a corporação, Oruam apareceu na varanda e teria incitado reação contra os agentes, arremessando pedras junto com outros homens. O delegado Moyses e o oficial Alexandre disseram ter sido atingidos durante a ação, que terminou em confronto.
Após o episódio, a Justiça Estadual decretou a prisão preventiva do rapper, que se entregou no dia seguinte.
Em nota conjunta, à ocasião, os advogados de Oruam afirmaram que a decisão “restabelece a regra do processo penal: a liberdade”. Também alegam que a prisão foi ilegal, decretada “para atender a finalidades estranhas ao processo”.
“Nunca existiram evidências acerca de cometimento de crime e tampouco acerca da necessidade da prisão provisória. Mauro Davi [nome do rapper] se submeterá às medidas cautelares diversas a serem determinadas e, como vem fazendo, provará sua inocência no curso do processo”, afirmam os escritórios FHC Advogados, Nilo Batista & Advogados Associados e Gustavo Mascarenha & Vinícus Vasconcellos Advogados.