Durante mais de 25 anos, Ciro Bottini se tornou um rosto conhecido por todos os brasileiros com acesso à televisão. Ele passava horas no ar, vendendo de tudo, desde panelas e eletrodomésticos até relógios e CDs, no Shoptime, o primeiro canal de vendas da TV paga no país, entre os anos 1990 e 2020.
No entanto, desde 2020, Bottini não faz mais parte do Shoptime, que encerrou suas transmissões no início de junho deste ano. Ele decidiu deixar o canal em 2020, pois não concordava com o novo modelo de gestão e as mudanças que estavam sendo implementadas.
De acordo com Bottini, a venda do canal pela Globosat para as Americanas, em 2005, foi o início do declínio. Segundo ele, “a cultura da empresa era bem diferente, as Americanas sempre foram carrancudas”, o oposto do seu estilo descontraído e cativante durante suas apresentações na TV.
Embora pareça um discurso de vendedor, Bottini afirma que seu objetivo principal era “encantar o espectador”, mais do que apenas gerar vendas. Com seu carisma, sorriso contagiante e habilidades persuasivas, ele evitava expressões como “talvez”, “quem sabe” e “pode ser”, buscando transmitir certeza aos clientes.
Palavras-chave como “incrível”, “sensacional”, “qualidade” e “magnífico” eram frequentes em seu discurso, pois ele sabia que a confiança do consumidor era essencial para abrir a carteira. E Bottini era feliz e bem-sucedido até a chegada da nova gestão.
A nova direção tentou implementar mudanças a cada 90 dias, introduzindo programas de entrevistas que não se encaixavam no propósito de vender produtos. Bottini sentia que a essência do negócio estava sendo negligenciada, e o colapso da Americanas foi algo “inacreditável” para ele, chegando a provocar que era “caso de polícia”.
Desde sua saída do Shoptime, há três anos, Bottini, aos 57 anos, não ficou parado. Ele já lançou dois livros sobre vendas, se dedica a campanhas publicitárias e palestras, e abriu sua própria produtora, a Máquina de Propaganda. Ele continua entusiasmado com sua carreira e brinca ao dizer que não pensa em se aposentar, sendo conhecido como “a múmia das vendas”.
