Larissa Galli
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A necessidade de assumir o outro a partir de sua diferença e questionar as posturas discriminatórias da sociedade diante de pessoas fora dos padrões. É o que a artista visual holandesa-uruguaia Diana Blok pretende com Monólogos de Gênero, que entra em cartaz amanhã, no Centro Cultural Banco do Brasil. De maneira poética e sensível, o trabalho dialoga com as questões de gênero que inflamam tantos debates na sociedade contemporânea.
Coprodução Brasil-Holanda, a videoinstalação reúne seis artistas brasileiros e holandeses para discutir identidade de gênero, preconceito e discriminação. Diana propõe “um exercício poético da diversidade” por meio da compreensão original e inovadora que o audiovisual proporciona. “É um conceito muito original e único. Não existe outro trabalho no mundo que misture personagens históricos e contemporâneos para proporcionar um diálogo tão forte com o público por meio de um monólogo”, explica Diana.
O projeto surgiu em 2014 como desdobramento da série fotográfica Adventures in Cross-Casting, apresentada em Brasília e no Rio de Janeiro. Em 2013, Diana Brok participou da edição do Cena Contemporânea e, a partir daí, mergulhou no projeto audiovisual de Monólogos de Gênero. O brasiliense Glauber Coradesqui assina toda a dramaturgia da instalação. “A essência do teatro é a transformação dos corpos, viver outras identidades”, comenta. A instalação dialoga com a novas tecnologias e, segundo Glauber, vai além da lógica binária de gênero. “A instalação é uma forma de fugir da lógica heteronormativa por meio de uma forma poética e bonita esteticamente, como a tecnologia permite”.
Desejo pessoal

Mateus Solano encarna Cinderela em um dos vídeos. Foto: Diana Blok/Divulgação
Na pele de Cinderela, Mateus Solano provoca o público sobre o que a sociedade contemporânea entende e aceita como gênero. Já Matheus Nachtergaele interpreta um texto da mãe, Maria Cecília.
O dramaturgo propôs uma combinação de textos escritos e improvisações dos atores, que puderam escolher qual personagem representar. São interpretados textos adaptados de William Shakespeare, Tom Lanoye, Anton Chekhov, Antonin Artaud, Martin Luther King Jr., Maria Cecília Nachtergaele, Tennessee Williams e Marilyn Monroe. “A escolha do personagem de cada um refletiu muito no desejo pessoal dos próprios atores, algo que estava guardado no universo imaginário de cada um”, opina Glauber.
Cada monólogo tem 6 minutos, totalizando 36 minutos de vídeo.

Dani Barros dá vida ao poeta e dramaturgo Antonin Artaud. Foto: Diana Blok/Divulgação
Dobradinha e discursos inflamados
É a segunda vez que a atriz Dani Barros trabalha com Diana Blok. Na primeira, Dani participou de uma outra versão do projeto, limitado à fotografia. Agora, elas experimentam juntas o desafio de produzir uma videoinstalação sobre gênero, “um tema de extrema importância nos dias atuais”, segundo Dani. No monólogo, a atriz escolheu interpretar o poeta e diretor de teatro Antonin Artaurd. De aspirações anarquistas, o francês influenciou Dani por seus discursos inflamados. “Eu queria um texto nervoso, contundente, que abalasse as estruturas e passasse por cima de todo o preconceito”, conta.
Para a artista, o espaço político de Brasília e o contexto atual são favoráveis para a discussão que a instalação propõe. “O mundo está vivendo um retrocesso em que ideias muito atrasadas estão ganhando cada vez mais espaço; projetos como esse são importantes para que a sociedade avance”, opina.
Serviço
Monólogos de Gênero
- De amanhã a 2 de janeiro de 2017 (exceto terças-feiras). Na Galeria 4 do Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Esportivos Sul), das 9h às 21h. Entrada franca. Evento não recomendado para menores de 12 anos.