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Alunos de Planaltina vivenciam todos os processos de criação da peça Tsunami

Arquivo Geral

29/11/2016 7h00

Atualizada 28/11/2016 22h59

Foto: Hugo Barreto

Larissa Galli
cultura@jornaldebrasilia.com.br

Por cerca de três meses, alunos de uma escola pública de Planaltina tiveram a oportunidade de virar artistas. O espetáculo Tsunami foi construído com a participação direta dos alunos do 2º ano do ensino médio da escola pública Stella dos Cherubins, localizada no Setor Tradicional de Planaltina. Eles acompanharam a produção da peça semanalmente, durante as aulas de teatro com o professor Wellington Oliveira, de 26 anos.

Com direção de Jonathan Andrade e atuação de Ana Flávia Garcia, Wellington propôs que os estudantes opinassem, criticassem e interagissem com a história do espetáculo, norteada pelo olhar e pelos sentimentos dos jovens. “A gente concebeu o Tsunami para ser um projeto piloto, tanto de formação de plateia como de mobilização dentro da comunidade escolar. São os alunos acompanhando o processo de criação do espetáculo, propondo e solucionando cenas, com o olhar”, explica o arte-educador.

O espetáculo não tem falas. São 50 minutos de interpretação apenas em gramelôs e gestos, que transmitem a sensação de não ser entendido.

Saiba mais

  • Tsunami será apresentado em cinco escolas do DF a partir da semana que vem.
  • A estreia para os alunos do Stella dos Cherubins acontece na próxima segunda-feira, depois é a vez das cidades de Sobradinho, São Sebastião, Brazlândia e Cruzeiro.
  • Um dia antes, no domingo, os alunos dessas escolas terão acesso a uma instalação sobre o espetáculo, construída durante o processo de criação pelos alunos do Stella.
  • A estreia para o público de Brasília está programada para abril de 2017.

“É um espetáculo para sentir e não para entender”, explica Wellington. A peça aborda temas como dor, incômodo, solidão, falta de território; além de questões pessoais e de afeto da própria atriz e de cada um dos estudantes. “Eles colocaram seus próprios tsunamis dentro da história”, completa.

Outras realidades

Os estudantes dialogaram com os artistas, vivenciaram todas as partes da criação e da produção teatral, assistiram aos ensaios, participaram dos exercícios propostos à atriz da peça, debateram e sugeriram possibilidades de identidade visual para o projeto. “Eles têm um olhar que é muito espontâneo, que vem de experiência própria. Durante o processo, eles viveram o caos da criação. Foi uma verdadeira imersão no mundo cênico”, ressalta o professor.

A aluna Luana Dourado, de 16 anos, conta que participar da criação da montagem a motivou a participar mais das aulas. “Eu pude perceber que o teatro faz com que a gente se libere, se abra e mostre não só nosso talento, mas quem nós somos”, relata. Já a visão sobre teatro do colega de classe Kevin Iuri, 17, mudou completamente depois do projeto. “A partir da história que a gente construiu, pude perceber a minha própria realidade, meus confrontos, minha intimidade. Eu vejo minha realidade hoje em dia de uma forma diferente”.

Novos olhares

Para Micael Santos, de 16 anos, a noção de teatro apresentada pelo professor foi diferente do que ele acreditava ser arte cênica. “Eu achava que o teatro era apenas decorar falas e dizer o que já está escrito, mas agora sei que é uma forma de expressar os sentimentos, de sair do padrão que todos conhecem”.

“Os estudantes protagonizaram o processo de criação. A ideia era trabalhar a montagem de um espetáculo dentro de sala de aula, mas o resultado e o engajamento foram surpreendentes”, destaca Wellington Oliveira. Formado em artes cênicas e mestre em artes pela Universidade de Brasília (UnB), o professor acredita na força do teatro como um mecanismo de transformação social.

Ele trabalha com a perspectiva do teatro em comunidade, que, de acordo com ele, se caracteriza pela inclusão das pessoas da própria comunidade na criação cênica, além do fortalecimento dos vínculos entre o cidadãos e o território onde vivem.

Seu primeiro trabalho com o teatro de comunidade foi realizado no Vale do Amanhecer, em Planaltina, com o projeto Muro de Promessa. Com sua ajuda, ex-alunos e moradores da região construíram um espetáculo a partir dos espaços da cidade, buscando ressignificar os locais e mudar o olhar dos habitantes e suas percepções da região, em temas como a violência e a falta de perspectiva de crescimento, por exemplo.

Em Muro de Promessa, a própria comunidade atuou no espetáculo. “A comunidade protagonizou a cena, a dramaturgia e os textos, tudo foi criado por eles”, conta o professor.

Driblando a falta de espaço

Em Planaltina não existe um espaço público destinado ao teatro. As pessoas da comunidade só têm acesso a um teatro particular, o Mini Teatro Lieta de Ló, com capacidade para 40 pessoas. Por isso, Wellington caminha para um trabalho no qual os artistas se apropriam dos espaços públicos e da rua para driblar a falta de espaços.

“Ir para a rua também é um movimento de resistência contra essa falta de espaços e mecanismos para as práticas artísticas. Ocupar a rua é dizer que mesmo que a gente não tenha um prédio-teatro, a gente faz teatro”.

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