Menu
Entretenimento

AC/DC supera surdez de vocalista, prisão de baterista e morte de guitarrista para retornar com novo disco

O novo disco conta com os integrantes ainda vivos do álbum “Back in Black”, de 1980, trabalho que escreveu o nome da banda no cânone da música

Redação Jornal de Brasília

09/11/2020 12h01

JOÃO PERASSOLO

Para que Brian Johnson pudesse cantar no novo disco do AC/DC foram necessários três anos de visitas de um cientista à sua casa.

Uma vez a cada três meses, Stephen Ambrose levaria suas engenhocas auditivas até o lar do vocalista, que havia perdido a audição a ponto de mal ouvir as guitarras no palco e ter de cancelar sua participação nos shows finais da turnê do último disco do grupo, sendo substituído por Axl Rose, do Guns N’ Roses.

“Eu achei que era o meu fim, obviamente”, diz Johnson, em entrevista por Zoom. Ambrose, americano especialista em audição, desenvolveu para o vocalista de 73 anos uma espécie de tímpano protético.

Com a audição renovada depois de quase ficar surdo, Johnson pôde soltar a voz em “PWR/UP”, o 17º disco da banda australiana de hard rock, que chega às lojas e às plataformas de streaming em 13 de novembro, seis anos após o lançamento de “Rock or Burst”, o trabalho anterior.

O novo disco conta com os integrantes ainda vivos do álbum “Back in Black”, de 1980, trabalho que escreveu o nome da banda no cânone da música. Acompanham Johnson o baixista Cliff Williams, o baterista Phil Rudd e o guitarrista Angus Young, da formação clássica, além de Stevie Young, guitarrista incorporado de vez ao grupo em 2014.

As 12 faixas de “PWR/UP” trazem os últimos riffs de guitarra compostos por Malcolm Young, irmão de Angus e com quem este fundou a banda no final dos anos 1970, num momento próspero para o rock pesado, que à época vivia uma ascensão de nomes britânicos, como Black Sabbath, Judas Priest e Iron Maiden. Malcolm morreu de demência em novembro de 2017, depois de três anos vivendo com a doença.

“Nós não somos pessoas espiritualizadas, mas ele [Malcolm] estava lá [no estúdio], para todos nós. E foi uma experiência maravilhosa. Acho que ele teria muito orgulho [do novo disco], eu sei que a família dele está”, afirma Johnson, acrescentando que, desde o início, a ideia era que o álbum fosse um tributo a Malcolm, um dos guitarristas mais celebrados do rock.

Das músicas novas, o vocalista destaca “Mist of Time” como a faixa que mais o lembra da época em que passou a integrar a banda, no início da década de 1980, depois da morte do cantor original, Bon Scott, e a se divertir muito com Malcolm. “Quando eu a ouço eu tenho arrepios, mas eu não deveria, porque eu mesmo a cantei, por Deus. Mas quando eu estava fazendo [a música] eu pensava nele.”

Curiosamente, “Mist of Time” é a faixa mais melódica e que lembra menos o AC/DC tradicional no novo disco –com refrão pegajoso e ritmo menos acelerado, poderia passar por um hit radiofônico do meio da década de 1990.

Talvez seja mesmo esse espírito retrô o grande atrativo de “PWR/UP”, gravado em fita e com equipamentos analógicos sob a batuta do produtor Brendan O’ Brien, responsável pela cara do som das bandas de grunge no passado e cooptado pelo AC/DC no século 21.

Mas não faz tanta diferença que o disco saia agora. Ele poderia ter sido feito em 1978 ou em alguma das décadas seguintes sem perda de sentido, já que capta a banda de hard rock fazendo, é claro, seu tradicional hard rock, que lota estádios por onde passa.

Guitarras em volume máximo, coros com “aaahhh” e “uuuhhhh” e letras versando sobre tipos marginais, como “Wild Reputation”, ou reputação selvagem, preenchem um álbum sem baladas -é rockão do início ao fim.
De todo modo, os pouco mais de 40 minutos do disco trazem uma audição prazerosa, passando a impressão de que a banda -cujo integrante mais jovem tem 63 anos- se divertiu enquanto o gravava.

Johnson conta que não conseguia ficar parado no estúdio de Vancouver durante a gravação dos vocais, sozinho numa sala, acompanhado só de um grande microfone. O produtor teve de mudar os móveis de lugar em determinado momento, ele conta. “Eu preciso me mexer e tenho que ser parte da música e eu quebro coisas. Isso é a paixão surgindo, e você quer que ela apareça no disco.”

Ao ser questionado se o problema com a audição fez com que alterasse seu jeito de cantar, Johnson responde negativamente. O que mudou, ele diz, é que, ao ficar mais velho, começou a tentar descobrir novos jeitos de usar a voz, “de uma maneira mais blues”. De fato, seu timbre agora está mais rouco e curtido pelo tempo em relação aos discos da década de 1980, por exemplo.

Contentes que a reunião da banda depois da morte de Malcolm tinha funcionado, o grupo planejava fazer alguns shows, mas a pandemia atrapalhou os planos. “Era como se a peste negra tivesse acabado de surgir”, afirma Johnson, acrescentando que se sente frustrado por não poder fazer o que tem feito nos últimos 40 anos -cantar rock pesado na estrada. “Isto está me matando, vou lhe contar.”

As informações são da FolhaPress

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado