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Economia

Produtores temem perder mercado chinês para EUA

O cenário é complexo porque produtores dos Estados Unidos e do Brasil concorrem em produtos como soja, milho, algodão e carne

Redação Jornal de Brasília

09/11/2020 6h33

Colheita do milho. Foto: Agência Brasil

Representantes do agronegócio temem que uma gestão do democrata Joe Biden na Casa Branca afete a entrada da produção brasileira de grãos no mercado chinês. Políticos do setor, produtores e analistas afirmam que o governo Jair Bolsonaro precisa buscar moderação e pragmatismo diplomático com a China para assegurar a fatia de mercado, hoje o maior comprador do País.

O cenário é complexo porque produtores dos Estados Unidos e do Brasil concorrem em produtos como soja, milho, algodão e carne. Eles disputam mercado como fornecedores para a China.

Uma mudança de posição de Washington, já que Biden tende a adotar uma abordagem diplomática mais multilateral e menos agressiva, pode significar uma melhoria das relações entre as duas potências. No médio e longo prazos, a preocupação é que isso reduza a importação da soja brasileira pelos chineses e aumente as compras dos americanos.

Algo similar ocorreu em 2020. Nos primeiros meses do ano, após acertados os termos de uma trégua na guerra comercial travada com tarifações desde 2018, a China ampliou a compra de soja dos produtores americanos. Autoridades dos dois países têm reiterado comprometimento com a primeira fase do entendimento.

A despeito das rusgas geopolíticas com Donald Trump, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos registrou ao longo do ano seguidas vezes maiores aumentos nas vendas do grão à China. O governo americano trata as vendas como recorde. Elas devem cair por causa dos estoques em excesso, feitos ao longo do ano. Houve uma onda de compra porque a China passou a estocar soja por causa de incertezas na produção de alimentos relacionadas à pandemia da covid-19.

Apesar disso, o Brasil também vem batendo recordes de venda do grão para a China em 2020. O ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo, diz que o País ainda “não sentiu a pegada” dessas cotas importadas dos EUA – e não do Brasil.

Segundo ele, a pandemia do novo coronavírus aumentou a demanda por grãos como milho e farelo de soja, que vêm sendo cada vez mais usados na ração dos suínos, um tipo de carne bastante consumida na China. Blairo diz que a maior demanda coincidiu com a pressão de Trump, e o Brasil não tinha mais safra para fornecer.

A produção de grãos não cria muito excedente no mundo. Não há estoques reguladores, e a produção costuma ser toda absorvida pelo mercado no mesmo ano.

Maggi diz que o comprador chinês pensa a longo prazo e busca estabilidade na segurança alimentar. Nesse sentido, entende que a saída de Trump pode libertar o governo Bolsonaro do alinhamento automático ideológico com o republicano. Ele espera, nesse sentido, que a diplomacia nacional com um governo Biden seja mais positiva ao produtor brasileiro.

“Um país fornecedor como o Brasil com ‘liberdade’ da política internacional dá a ele tranquilidade de que não será barrado ou forçado a não entregar um produto. Acho que a grande mudança está por aí”, diz o ex-ministro. “Se não houver essas pressões, nós vamos vender e os americanos também, nós vamos fornecer aos chineses no primeiro semestre, o americano, no segundo semestre. Nós tínhamos uma posição muito devagar, talvez por receio de se posicionar diferente (dos EUA).”

Para Maggi, o agronegócio pode ampliar espaço com a saída de Trump. Isso porque o republicano forçou a barra nas conversas para a trégua com a China para que os asiáticos ampliassem a compra de alimentos, carne e algodão. O empresário e produtor, ex-senador pelo Mato Grosso, diz que a relação Brasil – China ficou mais tímida porque Trump jogou duro para privilegiar os fazendeiros americanos, em detrimento dos brasileiros.

“Bolsonaro é muito alinhado com Trump e quando o presidente é muito alinhado acaba não reclamando de certas coisas que deveria reclamar. Pelo menos politicamente deveria dizer ‘não ocupe o nosso espaço’. Se não tiver esse alinhamento quase automático, Bolsonaro terá mais liberdade de negociações e até ampliar com a China. Pode aliviar um pouco algumas críticas à China que vinham automáticas pelo alinhamento.

Espero que a mudança traga para nós produtores e para o agro brasileiro um momento diferente nas negociações. A gente ficou escanteado. Espero que agora nosso presidente possa atuar de forma mais incisiva nessa questão e avançar um pouco mais.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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