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Economia

Produção turbinada faz a festa de Trump

Willian Matos

29/04/2019 7h00

Trump

Foto: Yuri Gripas/Reuters

Eduardo Brito, com agência
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Os opositores e os pessimistas ficaram mal e a visão de América de Donald Trump triunfa: a economia dos EUA cresceu a uma taxa de 3,2% ao ano no primeiro trimestre de 2019. Isso é muito melhor do que os 2,5% esperados pelos mais relevantes economistas do país, que responderam a uma enquete feita pelo Wall Street Journal e também pelo consenso americano. Para o Brasil, hoje nas mãos de admirador de Trump, isso representa tanto boas notícias quanto más notícias. A boa vai por conta de um impulso nas exportações. A má, no fortalecimento do dólar, que dirige o fluxo internacional de capitais para lá e não para cá.

Os dados que acabam de ser divulgados são provisórios e ainda podem ser revisados, mas não impede que o resultado seja altamente positivo. Mais, confirma que o fechamento provisório do governo federal no início do ano, que despertou grande polêmica em Washington, não afetou a economia real, aquela dos cinquenta estados.

As guerras comerciais de Donald Trump criaram preocupações, mas não o suficiente para se traduzir em dados macroeconômicos, enquanto Washington e Pequim buscam um compromisso. Finalmente, problemas externos como a desaceleração na China e o Brexit mal controlado persistem, mas comprova-se que eles não afetaram a maior economia do mundo. Aos dezoito meses da eleição presidencial nos Estados Unidos, ninguém apostaria agora em uma rápida recessão econômica que provavelmente derrotaria Trump. O jogo será outro. Afinal, o crescimento atingiu 2,9% em 2018 e a economia continua apontando para cima.

A queda dos mercados financeiros de dezembro foi superada, e Wall Street flerta novamente com seus registros históricos. Em julho, os Estados Unidos celebrarão seus dez anos de crescimento, o ciclo mais longo de todos os tempos. Claro, isso se deve em grande parte ao antecessor Barack Obama, odiado por Trump. Foi a política econômica de Obama que tirou os Estados Unidos da lama. Obama se reelegeu nessa maré montante, mas não teve como catapultar Hillary Clinton. Agora, Trump é quem fatura com essa política.

Saiba mais

Para tentar a sua continuação no posto da liderança da maior potência do planeta, Donald Trump trará à memória o seu legado, principalmente econômico, nesses dois primeiros anos de administração. Os números favorecem o atual presidente norte-americano. A taxa de desemprego do país é de 3,7%, a menor desde 1967.

Só em 2017, a taxa de crescimento do PIB foi de 2,3%, em 2018, no segundo trimestre, ela chegou a 4,1% e em 2019, o FMI estima 2,7%. O primeiro trimestre de 2019, então, já é o maior sucesso.

Para Trump, um dos segredos desses números foi a reforma tributária promovida pela sua administração. Um estudo da Heritage Foundation alega que nos próximos dez anos o contribuinte deixará de pagar em impostos 26 mil dólares. Uma única pessoa poderá não pagar em tributos, só em 2018, 1.400 dólares, e para uma família de quatro pessoas o valor pode chegar a 2.900 dólares.

Ainda se exige cautela

No detalhe, entretanto, a figura do crescimento inclui algumas ressalvas. Primeiro, um ponto de crescimento pode ser explicado pelo aumento das exportações e pela queda das importações. Em tempos de guerrilha comercial, os números são erráticos – de um jeito ou de outro – e exigem cautela.

Também foi impulsionado, agora em dois terços de um ponto, pelo estoque de empresas. Esse sinal pode ser positivo (as empresas antecipam pedidos e mais crescimento), mas pode ser revertido se as empresas desacelerarem sua produção e se desestocarem no segundo trimestre. Mas é só hipótese.

Finalmente, o crescimento foi impulsionado pelos gastos públicos. Excluindo esses três itens, o crescimento do consumo foi de apenas 1,2%, duas vezes menor do que no trimestre anterior, mas se recuperou em março. O ritmo de investimento das empresas caiu 2,7%, de 5,4% no quarto trimestre, mas o investimento em propriedade intelectual saltou 8,6%.

Este número ocorre em um momento no qual a inflação é particularmente baixa. Os preços ao consumidor estão crescendo a uma taxa de apenas 0,6% (comparado com 1,5% no final de 2018). Excluindo energia e alimentação, esse número é de apenas 1,3%, bem abaixo da meta de 2%. O caso deve levar à atitude de esperar e ver como agirá o Federal Reserve, o Banco Central de lá, que suspendeu o aumento da taxa básica de juros prevista para janeiro.

Com isso, o Federal Reserve abriu mão da possibilidade de, no futuro breve, reduzir o custo do dinheiro – instrumento essencial, baixar a taxa de juros – no caso de uma reviravolta cíclica. Trump cobrava o contrário. Chegou a ameaçar o presidente do Federal Reserve de demissão, algo inédito e aparentemente ilegal. Conseguiu o que queria. Hoje parece improvável nova queda de juros. Mas para Trump, ficou bom do jeito que está.

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