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Economia

Maior parte dos inadimplentes do País tem dívida contraída há mais de 7 anos

De acordo com a pesquisa, a dívida média é de R$ 3.116 e a maioria dos endividados está localizada no Nordeste e no Sudeste e tem idade entre 25 e 45 anos

Aline Rocha

02/12/2019 14h21

Foto: Internet

Da Redação
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O agravamento da crise econômica em 2014, após um período de abundância de renda e crédito, criou um enorme contingente de brasileiros inadimplentes, sem condições de voltar ao mercado. Hoje, quase um terço dos consumidores (30%) com restrição ao crédito tem mais de uma dívida em atraso, sendo que 56% dos empréstimos foram feitos há mais de sete anos, segundo pesquisa da empresa de recuperação de crédito Recovery.

O levantamento analisou dados de 25 milhões de pessoas que fazem parte da carteira administrada pela companhia, líder na cobrança de dívidas em atraso no País. De acordo com a pesquisa, a dívida média é de R$ 3.116 e a maioria dos endividados está localizada no Nordeste e no Sudeste e tem idade entre 25 e 45 anos.

Ao todo, o Brasil tem 60 milhões de inadimplentes. Boa parte deles surgiu na esteira do aumento do desemprego nos últimos anos, que chegou a deixar 14 milhões de pessoas sem trabalho. Com a renda em queda, os índices de inadimplência dispararam e ainda não retornaram aos níveis pré-crise.

Segundo dados do Banco Central, a taxa de inadimplência em empréstimo para pessoa física (exceto crédito consignado) está em 7,5% – meio ponto porcentual acima do verificado em janeiro. No cheque especial, que hoje tem os maiores juros do País (e que passarão a ser limitados em 2020), a inadimplência é de 16,1% – bem maior que os 14,2% do início do ano.

Retomada

Na avaliação do professor de Finanças do Insper, Ricardo Rocha, a mudança desse quadro só vai ocorrer com o aquecimento da economia e maior nível de contratação por parte das empresas. “Um crescimento de 2% ou 2,5% já daria um alívio; hoje qualquer impulso na renda teria efeito positivo.” Para o professor, quem consegue se recolocar no mercado de trabalho volta a pagar suas dívidas.

A chefe da área de Cobrança da Recovery, Marcela Gaiato, concorda. Ela afirma que, apesar da lenta retomada econômica – que reduziu o nível de desemprego de 12,7%, em 2017, para 11,8% -, tem percebido uma iniciativa maior por parte dos consumidores para regularizar suas contas.

Parte desse movimento se deve às compras de fim de ano e ao recebimento do 13.º salário. A maioria quer ter mais espaço para adquirir novos créditos e consumir.

Descontos

Esse movimento também foi verificado no Feirão Serasa Limpa Nome Em apenas duas semanas, a empresa já havia alcançado mais de 1 milhão de negociações. A expectativa era dobrar esse número até o domingo. Os acertos incluíram descontos de até 98% no valor da dívida.

A confeiteira Bernadete do Carmo França, de 46 anos, por exemplo, conseguiu fechar um acordo com desconto de quase 90% de uma dívida de R$ 12 mil. “Acabei pagando o justo, que é o valor da dívida sem os juros”, disse ela, que parcelou o montante renegociado.

A dívida de Bernadete começou a se formar há mais de uma década, quando conseguiu um cartão de crédito. Em determinado momento, começou a pagar o valor mínimo da fatura. “E, de repente, tinha virado uma bola de neve”, diz a confeiteira, que tentou renegociar o débito outras vezes, mas não conseguiu por causa dos valores elevados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Mesmo após débito prescrever, devedor quer pagar a conta

Legalmente, uma dívida prescreve no Brasil após o prazo de cinco anos, o que significa que o consumidor deixa a lista de inadimplentes e não pode mais ser acionado judicialmente. Apesar disso, muitos fazem questão de acertar as contas.

Como o débito continua existindo, bancos e empresas de recuperação de crédito mantêm a cobrança, inclusive com incidência de juros. “O que não pode é recorrer à Justiça nem negativar o consumidor após esse período”, explica a chefe da área de Cobrança da Recovery, Marcela Gaiato.

Ela afirma, contudo, que boa parte dos consumidores quer regularizar a situação. “Nossa experiência mostra que as pessoas fazem questão de pagar suas dívidas mesmo após esse período. Isso ocorre especialmente nas classes mais baixas.”

No ano passado, cerca de 38% dos inadimplentes com dívidas acima de cinco anos, que fecharam acordo com a Recovery, pagaram os valores em dia. Os demais começaram a quitar o débito, não chegaram ao final, mas voltaram a renegociar. Nas dívidas vencidas há menos de cinco anos, a taxa de sucesso é de 43%.

Segundo especialistas, apesar de ter novamente o nome limpo após cinco anos, os consumidores podem ter restrições na hora de tentar novos créditos. Hoje, quase toda a carteira em atraso das instituições financeiras e do comércio vai para empresas de recuperação de crédito, que têm equipes especializadas em ir atrás dos devedores.

Reserva

“A inadimplência no Brasil é resultado do descontrole dos consumidores e da incerteza sobre a renda”, diz o fundador e presidente do Guiabolso, Thiago Alvarez. Segundo ele, dois terços dos brasileiros não são assalariados e enfrentam forte incerteza sobre seus rendimentos.

Portanto, diz ele, a dica para não entrar na lista de devedores é ter uma reserva financeira capaz de suportar as contas por um determinado tempo. “Pelo menos dois motivos que levam à inadimplência podem ser evitáveis se o consumidor tiver uma reserva: um é a perda de emprego e o outro é doença em família.” O terceiro principal fator de inadimplência é o empréstimo do CPF ou do cartão de crédito para terceiros.

Criar uma reserva, no entanto, não é uma tarefa fácil. O caminhoneiro Alceo Tramujas Neto é autônomo e ainda não conseguiu encontrar uma alternativa para se livrar das dívidas. Motorista há 27 anos, ele conta que a situação do setor tem sido tão difícil que coloca o trabalhador numa posição humilhante. “Passo meses na estrada e volto para casa sem dinheiro suficiente para bancar as despesas.”

Desde a greve do ano passado, as coisas pioraram, diz ele. Nesta semana, para pagar a parcela do caminhão, foi obrigado a pegar dinheiro com agiota. Também decidiu colocar as duas carretas à venda para tentar organizar sua vida financeira. Ele ficará apenas com o cavalo do caminhão. “Sem as carretas terei de buscar cargas em empresas que tenham a carreta”, explica. “Minha situação é a de milhares de outros caminhoneiros que sofrem com as condições do setor, onde quem ganha dinheiro é o atravessador”, afirma Tramujas.

Além de estar com o nome sujo na praça, o caminhoneiro está com parcelas atrasadas da compra de pneus, aluguel da casa e outras despesas. “O que eu queria era vender o caminhão, pagar as contas e virar empregado novamente.”

Acordo

Bernadete do Carmo França, de 46 anos, fez o caminho inverso. Depois de ficar desempregada por oito meses conseguiu vaga numa empresa que começou a atrasar o salário. Viúva e inadimplente, ela decidiu trabalhar por conta própria. Hoje, é confeiteira e tem de controlar muito bem seus gastos.

Depois de fazer acordo com a Recovery e regularizar sua situação, seu único objetivo é não fazer mais dívidas e gastar de acordo com sua renda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Estadão Conteúdo

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