Menu
Economia

Fechamento da Ford pode gerar baque de R$ 5 bilhões na economia da Bahia

A forma como o anúncio foi feito, sem comunicados e entendimentos prévios, é mais um obstáculo para encontrar uma solução de maneira mais rápida

Redação Jornal de Brasília

13/01/2021 16h01

João Pedro Pitombo e João Valadares

O encerramento das atividades da fábrica da Ford em Camaçari (região metropolitana de Salvador) e suas possíveis consequências na cadeia produtiva que atua em torno da fábrica podem gerar um baque de cerca R$ 5 bilhões na economia baiana, valor equivalente a 2% do PIB (Produto Interno Bruto) do estado.

Este é o valor estimado de movimentação financeira direta e indireta gerada pelo Complexo Ford, de acordo com estudo realizado em 2019 pela SEI, órgão de estudos econômicos e sociais ligado ao governo da Bahia.

A participação do setor automotivo na produção de riquezas na Bahia foi de 0,3% em 2019. Mas, levando em conta os seus impactos indiretos em outros setores como comércio e serviços, a participação tende a ser muito maior.

De acordo o economista Gustavo Pessoti, vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia e um dos autores do estudo da SEI, haverá uma perda na massa de salários que movimenta o entorno de Salvador.

“Quantos serviços como shoppings e universidades foram criados em função deste público? Evidente que o impacto da saída da Ford é muito maior, muito mais negativo”, afirma.

O estudo da SEI mostra que o setor automotivo vinha perdendo participação no total da indústria e da economia baiana ao longo da última década. Em 2011, a participação do setor no PIB do estado era de 0,6%, percentual que caiu para 0,3% em 2019.

A participação no setor na indústria de transformação caiu em proporção semelhante. Em 2011, o setor automotivo tinha representava uma parcela de 7,5% da indústria baiana. Desde então, foi perdendo participação, ano a ano, até chegar em 2019 com em um patamar de 3,5%.

A estimativa para 2020, ano marcado pelos impactos da pandemia da Covid-19, é que esta participação tenha caído para algo em torno de 1,8%.

“Os dados são inequívocos. Era óbvio que a companhia estava sangrando, que sua capacidade de transformar, de produzir e de vender já não atendia mais as expectativas do mercado”, avalia Pessoti.

O auge do setor automobilístico na Bahia aconteceu em 2006, quando chegou a 10,4% da indústria baiana.

A indústria automotiva também vinha perdendo espaço na pauta de exportações da Bahia. Em 2018, o setor representou 6,2% de todas as exportações do estado, patamar que caiu para 4,5% em 2019. No ano passado, a participação foi de 2,1%.

Na avaliação de Pessoti, a saída da Ford da Bahia significará um revés no processo de diversificação da matriz industrial do estado, que é historicamente muito concentrada em segmentos como a química e petroquímica.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), criou um grupo de trabalho que vai buscar alternativas ao fechamento da empresa em Camaçari. A ideia é atrair uma nova indústria automotiva para ocupar o parque industrial que será deixado pela Ford.

“Precisamos nos unir e trabalhar com equilíbrio, responsabilidade e celeridade para assegurar a manutenção desses empregos e de toda esta cadeia produtiva na Bahia”, afirmou o governador.

Em torno da Ford há 14 empresas sistemistas -na maioria, fornecedoras de peças para montagem dos veículos- que empregam diretamente 2.276 pessoas e ainda não têm uma definição quanto ao futuro.

Na avaliação de Ricardo Kawabe, gerente de estudos técnicos da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), o setor estará completamente dizimado sem um substituto para a Ford.

Ele avalia que o impacto inicial recai sobre as sistemistas, que funcionam como uma espécie de condomínio e perdem a razão de existir.

“É muito difícil pensar no setor automotivo daqui sem a Ford, quase inviável. É um condomínio. As empresas (sistemistas) estão instaladas na mesma área. É um arranjo muito difícil viabilizar uma saída sem o dono do condomínio”, diz.

A forma como o anúncio foi feito, sem comunicados e entendimentos prévios, é mais um obstáculo para encontrar uma solução de maneira mais rápida. “A decisão do fechamento foi tomada de uma forma muito silenciosa pela empresa. Não teve aquela coisa de ‘o gato subiu no telhado'”, comenta Kawabe.

O parque industrial tem apenas 20 anos. Este ponto pode, de acordo com a Fieb, facilitar a busca de novos investidores para assumir a operação. “A planta é bastante moderna. Uma empresa que se interessar não precisa começar do zero. É um parque industrial jovem”, avalia.

A cadeia automotiva da Bahia é a 5ª maior atividade industrial do estado. São 8.634 empregados diretos, o que significa uma massa salarial de R$ 515 milhões mais R$ 333 milhões em encargos sociais, segundo dados da Fieb.

As informações são da Folhapress

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado