Igor Gielow
São Paulo, SP
A Embraer fechou a venda de duas unidades de sua principal aposta no mercado de defesa, o avião de transporte multimissão KC-390 Millennium, para a Hungria.
O negócio, estimado em US$ 300 milhões (R$ 1,62 bilhão no câmbio de hoje, 17), é estratégico: será a segunda nação integrante da Otan (aliança militar ocidental) a comprar o avião.
A notícia também traz algum alívio aos brasileiros, que tiveram fortes perdas na área de aviação comercial com a pandemia do novo coronavírus e foram obrigados a fazer demissões.
O cancelamento da venda das linhas de jatos regionais para a Boeing, por iniciativa dos americanos, também afetou o desempenho da Embraer neste ano.
Os húngaros compraram a versão do avião com capacidade de reabastecimento aéreo, por isso a designação KC-390 -os modelos só de transporte são chamados C-390. O pacote inclui o treinamento de pilotos e técnicos e suporte.
O outro cliente da Otan atendido pelo modelo é Portugal, que comprou cinco unidades do KC-390 ao custo de EUR 827 milhões (R$ 5,32 bilhões).
O KC-390, desenvolvido a partir de uma demanda da FAB (Força Aérea Brasileira) a partir de 2007, é considerado o mais avançado modelo de transporte de sua categoria.
O jato birreator leva até 26 toneladas de carga, o que o coloca em competição direta com o venerando C-130 Hércules, quadrimotor a hélice que voa desde os anos 1950 em diversas versões.
O avião americano é o principal alvo da Embraer na Europa, onde 137 deles voam em Aeronáuticas de países da Otan. O Hércules transporta 19 toneladas. A europeia Airbus tenta posicionar na região seu cargueiro A400M, mas trata-se de uma aeronave mais cara e maior (leva 37 toneladas) do que o KC-390.
Assim, países de menor porte são mercados potenciais especialmente interessantes para a Embraer. Além disso, alguns europeus estudam integrar-se a uma rede única de cargueiros e aviões de reabastecimento, para poupar custos, e o KC-390 pode emergir como opção.
A importância de ser integrado ao chamado padrão Otan é que os países têm comunalidade em seus equipamentos, então há a expectativa, entre executivos da fabricante brasileira, de novas aquisições no continente.
Hoje há duas campanhas avançadas para a venda de KC-390 em curso, uma justamente na Europa e outra na Ásia.
O caso húngaro comporta outras particularidades. O país não opera Hércules, mas sim quatro antigos Antonov-26, um avião de transporte leve fabricado na antiga União Soviética.
Além disso, é integrante do chamado Grupo de Visegrado, composto também por Polônia, República Tcheca e Eslováquia. A introdução de um novo produto militar em um membro do clube pode incentivar outros a comprá-lo, e os poloneses têm uma das políticas defensivas mais agressivas do Leste Europeu.
Por fim, a Hungria tem uma frota de 14 caças suecos Gripen, o mesmo adotado pelo Brasil e que será fabricado em conjunto pela Embraer com a Saab. Os modelos à disposição de Budapeste são de uma geração anterior à da FAB, a C/D.
A experiência de integração operacional entre o Gripen e os KC-390 na Hungria certamente será compartilhada com o Brasil, que começará a voar o caça em missões a partir do fim do ano que vem. Os cargueiros brasileiros serão entregues aos húngaros em 2023 e 2024.
A FAB comprou 28 KC-390, um contrato de R$ 7,2 bilhões. O projeto sofreu alguns atrasos devido a problemas orçamentários e a dois incidentes com protótipos, mas o primeiro avião foi incorporado em 2019 e outros dois estão em operação.
A quarta unidade deverá ser entregue no fim do ano. A Força investiu R$ 5 bilhões no desenvolvimento do projeto na Embraer, e receberá o valor de volta em forma de royalties de exportação ao longo dos anos.
Já os portugueses deverão receber seus aviões em 2023.
As informações são da FolhaPress