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Economia

Em menos de quatro anos, dívida com IPVA e IPTU duplica no DF

Arquivo Geral

13/11/2018 7h00

É o primeiro ano que eu não pago o IPVA. Tive que deixar o dinheiro para botar tranca na minha casa. Porque minha casa foi roubada duas vezes. Fora as outras vezes que me levaram que eu não estava dentro de casa. Edson Vieira, mestre de obras. Foto:Kléber Lima/Jornal de Brasil

Francisco Dutra
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Pela primeira vez em 49 anos de vida, o mestre de obras Edson Vieira não pagou o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Pai de quatro filhos, o morador da Estrutural luta contra o desemprego. Massacrados pela crise da economia, os brasilienses não têm dinheiro para quitar os tributos, incluindo o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Segundo a Secretaria de Fazenda, a inadimplência do IPVA e do IPTU mais que dobrou entre 2014 e 2017.

Ao final de 2014, 6% dos veículos circulavam pelas ruas sem o pagamento do IPVA. Esta inadimplência representou R$ 48 milhões a menos para os cofres públicos. Com a população sem dinheiro no bolso, este número cresceu. Em 31 de dezembro de 2017, 11% da frota estava sem a quitação do tributo. Foi uma frustração de R$ 91 milhões na arrecadação. Na conta parcial de 2018, a inadimplência está na casa dos 23%, significando a ausência de R$ 209 milhões no erário.

Em 2014, os proprietários de 8% dos imóveis no DF não pagaram o IPTU. Em valores isso representou uma frustração da arrecadação no patamar de R$ 92 milhões. No apagar das luzes de 2017, a taxa de inadimplentes saltou para 18%. Neste caso, os cofres públicos deixaram de contar com R$ 363 milhões. Os números de 2018 ainda estão em aberto, mas até agora 35% dos imóveis estão inadimplentes. Somados representam R$ 355 milhões em impostos. (Confira as curvas de inadimplência no gráfico).

Segundo Edson Vieira, os impostos estão pesados demais. “O imposto é muito alto, altíssimo. E que nós temos hoje? Nada. Esse IPVA serve para quê? Não tem campanha educativa. Só tem polícia para pegar você e prender o seu carro. Mas para prender a bandidagem que está solta não tem. Eu me revoltei e não paguei porque não tive dinheiro”, desabafou o mestre de obras. Uma das funções do IPVA é a criação de campanhas educativas para o trânsito.

O mestre de obras não esconde a revolta com a péssima prestação de serviços públicos, pagos pelos tributos. Além do peso dos impostos, Vieira enfrenta uma economia em recessão. Sem conseguir emprego com carteira assinada, passou a buscar renda na informalidade. “Hoje eu estou parado. Estou trabalhando mais no gato. Esse foi o primeiro ano em que eu não aguentei mais. O IPVA está atrasado e não vou pagar não”, lamentou. “Gato” é um sinônimo para o popular emprego informal, apelidado como “bico”.

O aposentado Antônio R. de Souza, de 66 anos, está entre os inadimplentes com o IPTU. “Aluguei um imóvel para uma inquilina e ela não pagou. Como ela não pagou, vai sair. E vai sobrar para mim pagar. Eu tenho que pagar”, explicou. Souza compartilha da indignação dos contribuintes com o tamanho da carga tributária no DF. “Está super alta. Está demais. Até o custo de vida. Alimentação, vestuário está tudo botando para estourar. E quem paga mais é o pobre. O pobre não tem mais condições nem de comprar um pão”, criticou.

Uma das principais promessas de campanha do governador do DF eleito Ibaneis Rocha (MDB) foi a revisão dos impostos a partir de 2019. O emedebista assumiu o compromisso de reduzir os tributos.

Baixar taxas é saída, diz especialista

A redução dos impostos é uma solução para o drama da inadimplência no DF, segundo o economista Raul Velloso. Na sua avaliação, o Brasil vive a maior crise financeira da história. Porém, além do alívio na carga tributária, o GDF precisa tomar providências para colocar as contas públicas em ordem. É preciso equilibrar o sistema da previdência pública.

“É só andar por Brasília para ver a quantidade de lojas fechando. As pessoas estão parando de pagar os impostos por não terem condições de enfrentar todos os gastos que precisam”, alegou. Para Velloso, a redução dos impostos deve ser momentânea, pensada e monitorada.

“Tem que ser um alívio durante essa recessão brava. Quando a recessão ceder, volta a normalidade. Mas o Estado preciso tomar outras providências. Tem que achar uma solução para a previdência. Esse é o problema número 1”, ponderou. O governo Rollemberg (PSB) fez uma minirreforma previdenciária ao final de 2017. No entanto, especialistas afirmam que o novo modelo ainda não é estável.

A população vê com desconfiança a promessa de redução de impostos. “Isso é conversa. Não tem jeito. Não tem como o governo reduzir”, questionou Edson Vieira. Segundo Antônio Souza, desconfia-se que o futuro GDF lançará na realidade uma versão repaginada do Refis. Ou seja, um novo programa para renegociar dívidas.

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