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Economia

Brasil deve ter crescimento recorde no 3º trimestre, mas ainda não volta ao nível pré-crise

Enquanto a indústria e o varejo já retornaram ao patamar pré-Covid, o setor de serviços permanece abaixo do nível de fevereiro

Redação Jornal de Brasília

02/12/2020 8h26

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Eduardo Cucolo
São Paulo, SP

A economia brasileira deve crescer cerca de 9% no terceiro trimestre deste ano, uma variação recorde, mas insuficiente para recuperar todas as perdas verificadas na crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Os dados do PIB (Produto Interno Bruto) serão divulgados na próxima quinta-feira (3%) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com a agência Bloomberg, as estimativas de crescimento de 30 instituições consultadas variam de 7,4% a 11,2%, com mediana de 8,7%.

A taxa trimestral de crescimento é a maior registrada na série histórica do IBGE, que começa em 1996, mas o dado está influenciado pela base de comparação, devido à queda recorde verificada entre abril e junho deste ano, de 9,7%.

Reflete ainda um pacote de estímulos fiscais para enfrentar a pandemia que está entre os maiores do mundo, cerca de R$ 400 bilhões naqueles três meses (25% do PIB do trimestre), juros baixos e um cenário externo favorável para as exportações brasileiras, segundo economistas ouvidos pela Folha.

O resultado também está em linha com o verificado na maioria dos países. Segundo dados compilados pela OCDE, entre cerca de 30 economias que já divulgaram o resultado do segundo trimestre, o crescimento do PIB ficou em 8,5% na média.

A expectativa agora é de um crescimento mais lento nos últimos três meses deste ano e de retorno ao patamar de 2019 em algum momento de 2021 ou 2022.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, projeta crescimento de 9% para o terceiro trimestre, ritmo que deve desacelerar para cerca de 1% nos três últimos meses do ano.

Para 2021, a expectativa é um ritmo de crescimento trimestral médio de 0,4%, o mesmo visto no período 2017-2019. Somado ao efeito estatístico da base de comparação baixa em 2020, seria um crescimento de 3,2%, após uma contração prevista de 5,6% neste ano.

As projeções, segundo a economista, estão em linha com os dados do próprio IBGE que mostraram crescimento entre 20% e 30% para setores com indústria, comércio varejista e construção civil.

O ritmo de crescimento também reflete a diferença entre uma economia com as atividades em grande parte limitadas ou fechadas e uma economia que está com as atividades abertas, em um ambiente de aumento de estímulos fiscais e monetários.

“É a diferença desse desliga/liga, com toda essa quantidade de política fiscal e monetária para minimizar o efeito desse desligamento, que foi necessário na hora em que teve o surto de Covid”, afirma Tatiana Pinheiro.

Para a economista, não é possível, nem sustentável, manter o ritmo de crescimento do terceiro trimestre.

“O que tem de acontecer no Brasil e no restante dos países é a economia voltar ao ritmo que é condizente com o seu PIB potencial e tentar melhorar esse ritmo de crescimento, mas não artificialmente.”

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, também afirma que não é possível sustentar o ritmo de crescimento do terceiro trimestre, que deve mostrar indústria, agropecuária e varejo muito aquecidos e um setor de serviços mais atrasado na recuperação.

Ele projeta crescimento 8,5% no trimestre, com retração de 4,5% no acumulado do ano e expansão de 4% em 2021.

Segundo Padovani, as projeções pessimistas do início da pandemia foram revertidas a partir da reação de praticamente todos os países no mesmo sentido.

“O que aconteceu foi uma surpresa. A gente viu todos os países dando incentivos fiscais e monetários. Você teve um impulso externo e um câmbio favorável que ajudou a exportação. Os preços de commodities subiram. Uma parte dessa surpresa nós mesmos criamos, com taxas de juros muito baixas e gastos públicos elevados”, afirma Padovani.

“A gente não continuará com o mesmo impulso fiscal. As taxas de juros no mercado futuro vêm subindo há algum tempo. O impulso externo vai ser menor, a gente está vendo uma segunda onda de contágio importante nos EUA e na Europa. Tudo sugere que os motivos que levaram a gente a ter uma recuperação muito intensa e rápida não estarão presentes nem no quarto nem no primeiro trimestre do ano que vem.”

Segundo o economista, a pandemia deixa duas coisas boas, o início de um ciclo global de commodities e taxas de juros ainda baixas. Por outro lado, o país terá de lidar com um desemprego elevado e uma dívida pública que limita impulsos fiscais adicionais.

A projeção mais pessimista na coleta da Bloomberg é do FGV Ibre, que espera crescimento de 7,3% no consumo das famílias, fortemente influenciado pelo auxílio emergencial, e de 15,6% nos investimentos, que contam com a ajuda da construção civil, que deve crescer 8,1%.

O setor com mais destaque deve ser a indústria de transformação (+23,5%), impulsionada pelo consumo de bens, que ocupou boa parte do espaço no orçamento familiar. Os serviços, por outro lado, devem crescer apenas 6%.

Segundo o Ibre, enquanto a indústria e o varejo já retornaram ao patamar pré-Covid, o setor de serviços permanece abaixo do nível de fevereiro.

Dados do Monitor do PIB do Ibre apontaram crescimento de 7,5% no PIB do terceiro trimestre, com o indicador ainda 5% abaixo do nível pré-crise.

O coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV Ibre, Claudio Considera, afirma que o país ainda está saindo aos poucos da recessão iniciada com a pandemia e que há incertezas sobre o ritmo da recuperação, que ainda não é aquilo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, chama de “V”, na qual uma queda brusca é sucedida por um crescimento também rápido e de mesma intensidade.

“O ‘V’ tem a ver com o buraco que nós caímos, não com a subida que tivemos. É um ‘V’ meio maroto, que ainda não chegou ao ponto antes da pandemia. Não sabemos se a perninha [para cima] dele vai continuar firme”, afirmou Considera durante debate da FGV sobre PIB e redução de incerteza.

As informações são da FolhaPress

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