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Economia

Após pressão de investidores, BC inclui sustentabilidade em agenda institucional

A agenda também prevê aumentar em até 20% nos limites de contratação para operações de crédito rural que reúnam características de sustentabilidade

Redação Jornal de Brasília

08/09/2020 17h48

Larissa Garcia
Brasília, DF

O Banco Central incluiu, nesta terça-feira (8), o tema sustentabilidade em sua agenda institucional, chamada de Agenda BC#. Com a iniciativa, a autoridade monetária segue tendência do mercado financeiro global e cede à pressão de investidores e empresas por uma retomada econômica mais sensível às causas ambientais.

“A questão ambiental definitivamente entrou na ordem do dia”, frisou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em evento de apresentação das novas ações. “Há um mito de que sustentabilidade reduz a produtividade, mas isso não existe”, completou.

Além de medidas internas, as novas iniciativas são relacionadas às políticas de crédito, de supervisão e regulação voltadas à sustentabilidade. O BC vai incluir, por exemplo, o conceito de risco climático na regulação e nos testes de estresse (quando é simulado o pior cenário econômico e como o sistema financeiro se comportaria).

“Resultados ruins nos testes de estresse vão requerer mais capital para fazer frente aos riscos, então instituições financeiras vão ter atenção especial a esse critério e vão se adaptando imediatamente, mesmo que a regulação fique para 2022”, disse o diretor de regulação do BC, Otávio Damaso.

A agenda também prevê aumentar em até 20% nos limites de contratação para operações de crédito rural que reúnam características de sustentabilidade.

A autarquia vai produzir relatório anual de riscos socioambientais do BC, como forma de prestação de contas. Além disso, a autoridade monetária pretende incluir critérios de sustentabilidade para a seleção de empresas que gerenciam as reservas internacionais e para a seleção dos investimentos.

Internamente, a agenda traz ações como redução do impacto ambiental nos de meio circulante (produção e distribuição de papel-moeda). Haverá ainda incentivo ao uso de bicicleta e carona solidária, à reciclagem e redução do uso de plásticos no BC.

“As ações incluídas no pilar sustentabilidade englobam medidas de responsabilidade Socioambiental direcionadas tanto ao sistema financeiro quanto ao próprio BC”, disse a diretora de assuntos internacionais da autarquia, Fernanda Nechio.

A diretora afirmou que eventos climáticos se tornaram mais recentes.

“Eles vêm acompanhados de alterações nas principais variáveis econômicas, além de trazerem riscos significativos para o sistema financeiro. Choques climáticos afetam preços relativos na economia e, portanto, podem ter impactos sobre nossas decisões de política monetária”, explicou.

A agenda divulga medidas a serem tomadas pelo BC no curto, médio e longo prazos. Antes, ela tinha os assuntos inclusão, competitividade, transparência e educação. Agora, foi incluído o tema sustentabilidade.

Medidas relacionadas a inovações, por exemplo, como o sistema de pagamentos instantâneos (Pix), entra no item competitividade. Na lista, o BC divulga o desenvolvimento de cada medida, se foi concluída ou não.

PRESSÃO

Nos últimos meses, o Brasil sofreu pressão dos investidores, economistas e empresas do resto do mundo e internos para que o país adote ações mais sustentáveis, principalmente com relação ao desmatamento na Amazônia.

Em junho, 29 fundos de investimento e pensão, que juntos administram aproximadamente US$ 4,1 trilhões (R$ 21,6 trilhões), enviaram carta aberta a sete embaixadas brasileiras na Europa e no Japão e nos Estados Unidos pedindo uma reunião para discutir o desmatamento na Amazônia.

Em julho, um grupo formado por ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central assinou uma carta conjunta reivindicando uma retomada da economia no pós-pandemia atenta às mudanças climáticas e pelo fim do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

No mesmo mês, 36 companhias e quatro organizações empresariais protocolaram junto à Vice-Presidência da República e ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido pelo vice-presidente Hamilton Mourão, uma carta pedindo o combate “inflexível e abrangente” ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros.

No mês passado, empresários e representantes de associações do setor privado se reuniram com governadores de estados da Amazônia legal para criação de metas para combater o desmatamento ilegal, inclusive com adoção de ação policial contra o crime organizado ligado à grilagem de terras.

As ações do BC fazem parte de um esforço para reverter a imagem negativa do Brasil na área ambiental.

As informações são da FolhaPress

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