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Economia

Após eleição de Biden, Bolsa tem maior aporte de estrangeiros desde 2007

O movimento só deve perdurar caso a busca por mercados emergentes de forma geral se revele uma tendência nos próximos meses

Redação Jornal de Brasília

12/11/2020 7h13

A Bolsa brasileira registrou a entrada de R$ 4,5 bilhões em recursos estrangeiros na última segunda-feira, primeiro pregão depois do anúncio da vitória de Joe Biden na disputa presidencial nos Estados Unidos. Mas o fluxo de recursos para a B3, segundo especialistas consultados pelo Estadão/Broadcast, pode ser temporário. O movimento só deve perdurar caso a busca por mercados emergentes de forma geral se revele uma tendência nos próximos meses.

A entrada de capital estrangeiro no País na segunda-feira foi a maior para um único dia desde 2007. Também superou o aporte registrado em todo o mês de outubro, de R$ 2,9 bilhões. Pelo porte, ajudou a reduzir ainda mais a retirada recorde no ano, para R$ 77,2 bilhões. Um mês antes, os saques estavam em R$ 86,7 bilhões. A fuga de dinheiro externo em 2020 é explicada por uma combinação entre a crise provocada pela pandemia da covid-19, a instabilidade causada pelas eleições americanas e o cenário desafiador das contas públicas brasileiras.

Dois destes fatores pareciam próximos a um desfecho na segunda, diante da confirmação da vitória de Biden e dos bons resultados da vacina da Pfizer, em fase final de estudos. Com isso, os mercados emergentes receberam investimentos em moedas estrangeiras, e o Brasil se beneficiou disso. “O investidor de fora está pouco presente no Brasil, mas, nos dois últimos dias, fez com que o volume (da Bolsa) dobrasse”, afirma Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável do BTG Pactual Digital.

Cesar Mikail, gestor da Western Asset, afirma que uma presidência democrata com um Congresso dividido com o Partido Republicano pode ser uma barreira a aumentos de impostos, especialmente sobre empresas de tecnologia. Junto ao progresso na vacina, desencadeou-se uma busca por maiores riscos, o que favoreceu o País. “Teve uma rotação de setores, mas também de mercados, com a entrada nos emergentes, porque o cenário é bom para estes países e suas moedas”, diz.

Segundo ele, porém, a continuidade deste fluxo depende dos humores dos grandes investidores. “Se o fluxo continuar, é difícil que o Brasil não esteja na cesta. Mas é um evento muito mais de liquidez do que pela história (econômica de cada nação) – e, do mesmo jeito que o dinheiro entra, ele pode sair.”

O cenário local só deve se tornar atrativo quando o Brasil colocar um freio no crescimento das contas públicas. Há expectativa de que reformas como a administrativa e a tributária andem após as eleições municipais, mas o curto prazo é desafiador.

Para Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, o cenário externo ajudou nesta semana. Para ele, porém, os riscos locais ainda são altos. “No Brasil, o risco fiscal perdeu força nas últimas semanas, mas continua no radar dos investidores e os embates políticos seguem. Isso ainda inspira um tom de cautela no mercado.”

Relações

Parte dos analistas vê o cenário externo com mais força nos próximos meses. Ronaldo Patah, estrategista do UBS Consenso Investimentos, diz que a tendência é de as entradas de capital externo continuarem, especialmente, pois o novo governo americano tende a ser menos contrário à China.

“Teremos menos surpresa nesse relacionamento. Não veremos mais um presidente elevando tarifas comerciais no meio da madrugada via Twitter. O ambiente fica mais previsível, principalmente nas relações sino-americanas, o que diminui o risco principalmente para mercado emergentes.”

Segundo Patah, além do fim da instabilidade ligada à eleição, a aposta de que uma ou mais vacinas estarão disponíveis em 2021 também promete um ambiente mais favorável ao retorno dos estrangeiros. “Mesmo sem a vacinação em massa, as últimas ondas da pandemia foram contornadas sem lockdowns tão agressivos. No momento, isso tem sido questionado em razão do aumento de casos, mas consideramos que serão contornados.”

Conforme Zanlorenzi, do BTG, parte dos estrangeiros na B3 absorveram os riscos locais – e, por isso, o cenário externo pode prevalecer nas decisões. “A entrada é mais pela questão global do que pelo otimismo com o Brasil. “Para os estrangeiros, os riscos políticos e de agenda econômica já estão na conta.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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