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Economia

Agronegócio após a pandemia será mais rígido

Exigências passarão a ser maiores e envolverão questões como segurança alimentar e preservação ambiental. Produtos tendem a ser anda mais monitorados

Redação Jornal de Brasília

13/07/2020 9h10

Foto: Agência Brasil

Hylda Cavalcanti
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Produtores, empresários, setor público, confederações, sindicatos e demais entidades voltadas para o agronegócio discutem como ficará o setor após o final da pandemia do novo coronavírus. A constatação que se tem é que o mercado passará a exigir maior segurança alimentar, alimentos produzidos em meio a técnicas que levem em conta a preservação dos alimentos e maior rastreabilidade de produtos (com informações sobre origem, produção e processos utilizados até se chegar ao produtor final).

Alguns produtores e muitas destas entidades contam com o fato de que, como o Brasil é considerado um país que já possui uma produção confiável, ficará mais fácil tal adaptação. Mas como as mudanças devem ocorrer em escala global, as exigências impostas hoje serão ainda maiores.

Será preciso tanto a preparação por parte dos agricultores – dos grandes aos pequenos – como também da instituição de políticas públicas por parte do governo que ajudem os produtores nestas mudanças de regras.

“A pandemia trouxe uma série de mudanças na questão dos consumos alimentares da população. Não somente por terem sido criadas normas mais exigentes, mas também em função da mudança dos hábitos alimentares dos consumidores, o que impacta na produção e no mercado”, afirmou o diretor de Política Profissional do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), Antônio Andrade.

Ele lembrou que depois da pandemia, os alimentos passaram a ter ainda mais relação com a saúde e a questão da qualidade em predominância à quantidade, tendência que já vinha sendo disseminada entre os consumidores, que passou a ganhar ainda mais força.

O diretor da entidade acredita que pontos que agregam valor ao produto na hora da compra continuam sendo mantidos, mas os consumidores serão bem mais rigorosos para saber informações sobre a forma de manipulação dos produtos e se foram usadas substâncias que possam causar problemas à saúde.

Conforme contou Andrade, desde o início da covid a China teve mais regras alteradas em ambientes de frigoríficos, já que há a suspeita de que a doença tenha surgido a partir de abates irregulares naquele país. E isso se reflete numa tendência de endurecimento de padrões sanitários para produtos vindos de lá.

Na avaliação do técnico, como o Brasil tem uma defesa agropecuária boa, os resultados exitosos evitaram mudanças que poderiam ter sido impostas. Mesmo assim, a Anffa aposta que terá de haver maior transparência na questão ambiental e social do país, a partir de adequações a serem determinadas por acordos comerciais.

Segundo ele, o setor que mais deve sentir os impactos da pandemia tende a ser o de produção de proteína animal. As auditorias nesta área já começam a ser mais rigorosas, com exigência de maior número de documentações referentes a todo o processo de produção.

“Muitos debates estão acontecendo e ainda estão por vir. CNA tem orientado bem os produtores e feito a interlocução necessária com o setor”, destacou.

Dos mais antigos

De acordo com dados da Anffa, o sistema de fiscalização e certificação alimentar brasileiro é um dos mais antigos e respeitados do mundo. Mas é um sistema que opera no limite.

No Brasil, há 3.303 estabelecimentos registrados pelo Ministério da Agricultura na área de proteína animal, por exemplo, que precisam de fiscalização e controle, porque produzem carne in natura, lácteos, produtos apícolas, pescados e derivados. Alguns requerem fiscalização permanente, porque operam com abate.

Seguindo estas mudanças, Andrade avalia que o comércio de criações “de fundo de quintal” vai perder espaço, mesmo para a população mais pobre, porque há o medo de contaminação e de novas doenças provenientes de produtos sem garantia de procedência.

As carnes não inspecionadas de animais silvestres também devem perder espaço no mercado, já que é quase um consenso entre os pesquisadores que a pandemia se originou do consumo de carne exótica adquirida em um mercado a céu aberto em Wuhan, na China, conforme explicou o diretor do sindicato.

Criação de oportunidades

Durante evento que debateu os impactos do coronavírus no agronegócio, seus reflexos na cadeia produtiva e o papel do Brasil no cenário atual e após a pandemia, a superintendente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Lígia Dutra, destacou que apesar do cenário ser desafiador, acredita que o agro brasileiro tem condições de criar oportunidades.

Ela alertou, porém, para o fato de que a pandemia poderá trazer uma tendência protecionista para os países. E chamou a atenção para a importância de se diversificar a pauta de exportações e de se continuar investindo em controle sanitário, rastreabilidade e novas plataformas de comercialização, como o e-commerce.

“A pandemia veio para acelerar novas tendências. Apesar das dificuldades que existem, podemos achar soluções, principalmente se enxergarmos um momento de mudança para tomarmos novas atitudes. É uma oportunidade que o nosso setor tem para se reposicionar”, afirmou.

Entre as apostas da superintendente está o crescimento das exportações para a Ásia. Ela também acredita que o Brasil poderá incluir o peixe na lista de produtos de proteína animal vendidos para o exterior em breve. A cadeia, na opinião da técnica, tem potencial e vem investindo em qualificação para exportar.

“Tivemos queda em alguns produtos, como celulose para a União Europeia. No entanto, as vendas de carnes bovina, suína e de frango, assim como a soja e o algodão, tiveram aumento”, disse a superintendente.

“As cadeias produtivas com maior valor agregado, como a fruticultura, precisam de uma atenção maior nesse momento para não perder mercado e manter os empregos no campo, já que a atividade envolve uma grande quantidade de trabalhadores,”, afirmou, destacando, tem tom positivo, que o Brasil tem condições para superar estas adversidades.

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