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Coluna do Aquiles

Uma cantora definitiva

Arquivo Geral

08/11/2017 17h39

“Intérprete de uma escola e de um tempo em que não se temia a entrega, em que se preferia a lágrima à razão, a emoção à ponderação, ouvi-la é uma prazerosa remexida em lembranças passadas (…)”.

O parágrafo acima é o penúltimo do meu comentário sobre um CD com o qual Claudette Soares homenageou Tom Jobim e a cantora Sylvinha Telles. Poder usá-lo, anos depois, na abertura desta resenha sobre o novo CD Claudette Soares – Canção de Amor (Kuarup), é uma enorme satisfação. Significa sacar que ela continua sendo a mesma cantora de voz privilegiada de sempre e, o que é ainda melhor, que o amadurecimento serviu para acentuar o seu dom de cativar.

Produzido por Thiago Marques Luiz, inspirado no livro de Ruy Castro A Noite do Meu Bem, Claudette se atira com tudo em canções românticas que marcaram os anos que antecederam a bossa nova.

Grande intérprete, ela pode cantar o que quiser, sem medo de ser feliz. Tanto pode ser sambas-canções, como pode muito bem ser bossa nova ou mesmo sambas tradicionais. Nada a impede de interpretar o que lhe aprouver: Claudette terá a voz encorpada de sempre, tanto nos graves quanto nos falsetes, tão afinada quanto emocionada.

Na direção musical, nos arranjos e no piano está Alexandre Vieira. Com ele estão João Benjamin (baixo acústico), Rafael Lourenço (bateria) e Rafa Clarin (sopros). A sonoridade do disco lembra a atmosfera de uma casa noturna, na qual os frequentadores bebem e aplaudem o desempenho de um quarteto e de uma crooner, principalmente quando esta é… Claudette Soares.

Os músicos do quarteto não se dão a grandes demonstrações de virtuosismos, posto que os arranjos deixaram os compassos de improvisos “apenas” para intros e intermezzos. Eles são instrumentistas dedicados a amparar Claudette Soares. Tal privilégio, por si só, eu suponho, equivale a uma medalha tatuada nos melhores momentos de suas carreiras.

E tome de beleza e de encantamento. A primeira faixa traz três músicas: “A Noite do Meu Bem” (Dolores Duran), cujo arranjo solene, com o piano em destaque e a batera com baquetas de feltro, reforça a bela atuação de Claudette; logo vem a intro do sax anunciando “Foi a Noite” (Tom Jobim e Newton Mendonça); e então “Fim de Noite” (Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli) segue com o piano em evidência. Tudo em meio à voz emocionada, afinada, por vezes sussurrando, dessa grande intérprete. Ao final, com os improvisos do sax, vê-se o quão acertada foi a escolha das canções de amor que registraram o poder de renovação de uma cantora como Claudette Soares. E ela segue, ora com três músicas numa faixa, ora com duas, ora com três e ora com apenas uma, como é o caso de “Tatuagem” (Chico Buarque e Ruy Guerra) e de “Canção de Amor” (Dolores Ruran), cujos versos são comoventemente (de)cantados por ela.

Ouvi-la assim cantando, com tal disposição, com tal requinte, com uma voz tão vivaz, fortalece a autoestima do ouvinte, ao constatar que temos entre nós uma cantora tão definitiva.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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