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Coluna do Aquiles

Um CD brilhante

Arquivo Geral

01/02/2017 7h00

Confesso que não gosto de ler o release de um disco antes de ouvi-lo – busco evitar que ele paute minha opinião. Entretanto, e não me pergunte por quê, leitor, pois não saberei como explicar, antes de ouvir Da Reza à Festa, primeiro CD do compositor e sanfoneiro Thadeu Romano, gravado com apoio do ProacSP, li o release.

Pra quê, rapaz! Embatuquei com o parágrafo que diz: “(…) Incentivado pelo músico e produtor musical Swami Jr., Thadeu aceitou a sugestão para gravar seu [primeiro] CD e juntos selecionaram dez composições, onde cada composição do repertório tem como premissa a introdução de elementos atuais nos clássicos ritmos definidos. Da Reza à Festa (…), CD que vem para explorar as tradicionais vertentes e as novas possibilidades da sanfona (…)”.

Cabreiro, fui ao CD… e não é que o conceito querido e sugerido no release está em cada faixa do álbum?

“Baião Pra Malta” (Thadeu Romano) abre os trabalhos. O forró vibra no fole da sanfona de Thadeu. A poeira parece subir na batida das alpercatas no chão. O sax alto (Carlos Malta), sentindo-se em casa, abre o sopro. O contrabaixo elétrico (Marcellus Meirelles) pulsa; a bateria (Douglas Alonso) se esbalda (é como se ouvíssemos uma inexistente zabumba); a flauta baixo (Carlos Malta) marca presença quando o arranjo modula e abre vez para que ela respire a cada nota – suingue puro; já o violão de náilon (Paulo Ribeiro), a mixagem quase o esqueceu – ouvi-lo carece de algum esforço. Eis que uma mudança brusca da levada deixa o baião, transformando-o em um pop moderno. A guitarra (Marcelo Modesto) assume o reinado. Apesar dessa mutação, a sanfona vai no clima e se mostra totalmente identificada com a mudança. Isso se dá também com o sax alto, cujos improvisos são talhados para o gênero. Pouco antes do final, o forró volta pedindo que o sax alto o acompanhe e que o acordeom lhe dê o resfolego típico do forró, que será sempre sinônimo de baião.

“Na Zona do Zé Pelintra” (Thadeu Romano) é um saboroso samba de gafieira. O trombone do craque François de Lima conduz o clima. Junto com o pandeiro (Luiz Guello), o tamborim (Pedro Romão) e o sete cordas (Wesley Vasconcelos), o acordeom (Thadeu Romano) cai no samba. Eis que a levada muda. Arritmo, trombone e acordeom passam a tocar num clima que já não é mais de gafieira, mas sim de um autêntico baião a dois. Apoiados pela cozinha, que ferve o caldo nordestino, a suingueira é total. Logo o samba de gafieira está de volta.

E assim, leitor, cada música e cada arranjo têm seu ritmo original acrescido de outro gênero que, aparentemente, mas só aparentemente, não está relacionado a ele. Choros, valsas, chamamés, milongas, gafieiras, sambas, numa saborosa mistura, são o exemplo maior do que Thadeu Romano quer para sua música e para seu instrumento. E ele faz isso de forma acesa.

Da Reza à Festa é intenso, irresistível. Para entender, ouvir o álbum é fundamental. Ao entender, deixe-se levar pela sanfona de Thadeu Romano.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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