Menu
Coluna do Aquiles

O som universal de Ricardo Silveira

Arquivo Geral

24/08/2017 0h11

Os dois parágrafos a seguir abrem o texto “Onde o vento faz a curva” (publicado no Caderno 2 do Estadão), no qual eu comentei a sexta edição do Festival Choro Jazz de Jericoacoara, realizado em dezembro de 2011.

“Lá vai o ônibus coalhado de músicos para Jericoacoara. A viagem dura pelo menos sete horas: seis até Jijoca, à beira de um areal, onde o ônibus não se arrisca entrar, e mais uma hora a bordo de jardineiras, velhas caminhonetes com tração nas quatro rodas.

Como se soprasse linearmente, sempre à frente, o vento nos conduzia. Ao longe, luzes anunciavam o nosso destino. O vento dominical soprava ainda mais forte quando entramos na vila. Com um reverente meneio de cabeça, o vento nos apeou. Graças a ele amanhecemos num lugar majestoso, à beira-mar. Lá, na terça-feira, começaria a sexta edição do Festival Choro Jazz de Jericoacoara.”

E, dentre outros, lá estava o guitarrista Ricardo Silveira, que, com David Feldman (teclado), Guto Wirtti (contrabaixo acústico) e Di Stéffano (bateria), formava o quarteto com o qual viajava comemorando 30 anos de seu primeiro disco.

Eles encerraram a excursão no festival. O que bem demonstra o nível da credibilidade do Festival Choro Jazz, sempre com atrações selecionadas a dedo por seu idealizador Antonio Ivan Capucho.

Gravado ao vivo por Pedrinho Figueiredo e Pepeu, o CD Ricardo Silveira – Quarteto ao Vivo (Sonora) tem mixagem e masterização a cargo de David Feldman, o que garante excelência complementar ao competente registro do som.

Silveira escreveu arranjos para os nove temas gravados – tocados por oito mãos virtuosas –, com direito a pitacos dos outros três. O disco abre com “Francesa”. A guitarra inicia. Logo contrabaixo e bateria se ajuntam a ela. Com a entrada do teclado na roda, rolam momentos plenos de suingue. E tome de improvisos, que se sucedem em meio a solos melódicos da guitarra e também, eventualmente, por teclado, contrabaixo e bateria. Após mais um solo da guitarra, o teclado puxa para si o improviso – o público vibra. É isso! A comunhão entre o palco e a plateia conduz a clímax imprevisíveis, plenos de alegria e fé.

Ouvir temas tão ricos e bem tocados propicia ao ouvinte a oportunidade de se deleitar e de conhecer o trabalho de um dos maiores guitarristas brasileiros – além de sentir suas músicas, regiamente tocadas por ele e pelos três músicos convidados, um quarteto sintonizado com a obra que interpreta.

As músicas de Ricardo Silveira estão aí para serem apreciadas em toda a sua essência. A partir de suas obras de gêneros múltiplos, tocando acordes ou notas soltas, ele cria climas musicais universais: a música e a guitarra de Silveira e seus companheiros têm o sotaque que se lhe queiram dar.

Hoje, ainda mais inspirado pelas estrelas que dançam ao vento de Jeri, Silveira está soberbo. Convido-os a admirar os bons momentos que se tem ao ouvir do início ao fim Ricardo Silveira – Quarteto ao Vivo. De preferência, mais de uma vez.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado