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Entretenimento

Sexo, drogas e samba-jazz

Livro do brasiliense Anderson Souza é o mais vendido na categoria humor ácido da Amazon Brasil

Larissa Galli Malatrasi

11/06/2020 4h30

O nome do escritor e jornalista brasiliense Anderson Souza está no topo das paradas em livros de humor ácido mais vendidos pelo site Amazon. Ele assina o romance Fumaças Bailarinas no Salão da Liberdade, publicado este ano em formato de eBook pela editora Reflexos, de Brasília; e no formato físico, em 2019, pela Editora Autografia, do Rio de Janeiro.

O romance tem grande influência da literatura produzida durante a geração beat — originária dos Estados Unidos em meados da década de 1940 —, caracterizada pela linguagem coloquial, escrita espontânea e personagens marginais como protagonistas. (Alguns escritores norte-americanos icônicos traduziram a essência do movimento: Allen Ginsberg, William S. Burroughs e, é claro, o mais popular entre eles, Jack Kerouac.)

Mas voltemos a Anderson Souza. Fumaças Bailarinas no Salão da Liberdade — regado a samba-jazz — foi inspirado, segundo o autor, em “enxertos de experiências e observações de algumas loucuras cotidianas que, de tão recorrentes”, chegam a ser ignoradas.

Foto: Divulgação

Anderson explica. “A narrativa se desenvolve em um futuro não datado, dentro de uma sociedade que, naturalmente, passou por diversas modificações culturais e morais. O cenário é um período transitório entre um contexto político de combate às drogas para uma ‘era’ de liberação total de narcóticos; e, em seguida, o retorno a uma ideologia conservadora de outrora. Para situar o leitor, a sinopse do livro descreve o contexto histórico como um momento em que ‘toques de recolher’ não são mais necessários, programas infantis de incentivo ao consumo de entorpecentes são retirados do ar e juízes deixam de tomar ayahuasca para convocar mortos como testemunhas em julgamentos.”

Nesse contexto, em um “salão de liberdades promíscuas, um viciado em drogas inconsequente, um judeu golpista, um decadente jornalista e uma jovem que nutre um carinho mais que especial por crianças e animais se unem na tentativa de ajudar um amigo rapper suspeito de assassinar, a sangue frio, uma garota de programa.

Apesar de ser uma obra de ficção, Anderson não descarta a influência do jornalismo na escrita. “Em certo ponto considero que houve um processo jornalístico, no caso mais propício ao jornalismo gonzo, por me meter em algumas encrencas que circundam o bon vivant das noites boêmias (saudades!).”

O escritor acrescenta que tem o costume de “fazer anotações sobre as situações com as quais vou me deparando e, após anos coletando casos e acasos, foi apenas questão de tempo para planejar o momento certo de sentar e escrever a história que resultou no Fumaças Bailarinas no Salão da Liberdade”.

Escrita em 2015 e publicada no ano passado, a obra parece ter esperado o momento certo para a estreia. “Os tempos atuais são sombrios, e coincidiu do livro sair justamente em um momento em que parece que não se pode falar sobre certos assuntos corriqueiros, como, talvez, a possibilidade de um presidente da República sofrer uma overdose durante um pronunciamento ao vivo, como ocorre no livro”, comenta Anderson.

Foto: Divulgação

“Sordidez e imperfeições”

“O livro eleva vários absurdos ao extremo […]. É um convite para apontarmos o dedo na ferida de algumas incoerências da vida, ainda que muitos não estejam dispostos, com certa razão, a não se envolver em questões polêmicas”, afirma o autor Anderson Souza.

Mesmo em um cenário obscuro, a mensagem que Anderson buscou passar por meio da história é de esperança. “Apesar de historicamente vivermos em um ambiente recheado de sordidez e imperfeições, a esperança surge discretamente nas faces e atitudes daqueles que menos esperamos, mesmo
quando desistimos de procurar, em nós próprios, algo que nos salve”, resumiu o escritor.

No final do mês passado, Anderson foi informado de que seu romance estava no topo das paradas em livros de humor ácido mais vendidos pela Amazon. “Admito que me surpreendeu, no sentido de ser uma notícia surpresa que regozija qualquer escritor”, disse.

O reconhecimento veio depois de muito trabalho e dedicação. Ao Jornal de Brasília, Anderson contou que foram anos coletando as informações necessárias para fechar a história, mais quatro meses dedicados exclusivamente a escrever o livro, e três anos negociando com editoras. “Nesse período foram várias respostas — desde que o livro era muito impactante e a editora preferia não se envolver até ‘o público no país mal lê escritores clássicos, quem dirá os contemporâneos…'”.

Tudo isso, agora, é motivo de orgulho para Anderson

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