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Música

Olhares sobre a música de Mehmari

“As partituras são sempre bem escritas, originais, as liberdades que ele toma estão sempre dentro dos limites do bom gosto, nunca passam do ponto”

Redação Jornal de Brasília

30/12/2019 11h02

Há alguns momentos em que não sabemos se estamos no universo da música popular ou na música de concerto. “E essa é, na verdade, uma das principais virtudes desta música”, diz o violinista e maestro Emmanuele Baldini, diretor musical de um disco dedicado a obras do compositor André Mehmari, Música para Cordas, lançado pelo Selo Sesc. “A liberdade é justamente uma das marcas de seu trabalho.”

Música para cordas nasceu de uma ideia de Mehmari de reunir em um só álbum peças escritas por ele para orquestra de cordas, cobrindo um período que vai de 2006, ano de Shostakovitchiana, até 2015, quando estreou Música para harmônica e cordas. As cordas são o elemento em comum – mas há, no repertório, enorme variedade. “Uma marca de Mehmari é esse poliestilismo, essa multiplicidade de vozes”, explica Baldini.

Ballo foi escrita a pedido da São Paulo Companhia de Dança e evoca o compositor barroco italiano Claudio Monteverdi, uma das paixões de Mehmari – que batizou com o nome do autor seu estúdio em São Paulo, onde o disco foi gravado.

Outro italiano, Vivaldi, aparece em Strambotti, para clarinete, acordeom e cordas. Por sua vez, Shostakovitchiana, encomendada pela Orquestra de Câmara do Amazonas, homenageia o compositor Dmitri Shostakovich, mas o faz, a certa altura, em diálogo com o choro.

Além da orquestra, formada especialmente pelo projeto, o álbum reúne importantes solistas, com quem Mehmari tem uma importante relação profissional: o gaitista José Staneck (Música para harmônica e cordas), o clarinetista Gabriele Mirabassi e o acordeonista Christian Riganelli (Strambotti), o fagotista Fabio Cury e a harpista Paola Baron (Concerto para fagote, cordas e harpa), o percussionista Sergio Reze e o contrabaixista Neymar Dias (Concerto para Jazz Trio e Cordas).

“As partituras são sempre bem escritas, originais, e quando Mehmari se inspira em outros compositores, percebe-se um respeito incrível, as liberdades que ele toma estão sempre dentro dos limites do bom gosto, nunca passam do ponto”, diz Baldini. “E quando você considera peças como o Concerto para Jazz Trio, há quase um sentido de improvisação. Mas tudo está ali escrito. Essa também é uma virtude: um trabalho artesanal único unido a uma liberdade de improvisação que é a melhor herança da grade música popular brasileira e sua capacidade de sempre soar nova.”

Spalla da Osesp, Baldini tem atuado como maestro nos últimos anos – dirige, no Chile, a Orquestra de Câmara de Valdívia e recentemente passou a trabalhar com a Orquestra Sphaera Mundi, de Porto Alegre, dedicada ao repertório barroco. “A visão polifônica do maestro, a visão do todo de uma partitura, abriu muito meus horizontes musicais. Eu sinto que, como músico e como violinista, sou extremamente mais rico desde que comecei a trabalhar como maestro”, ele explica.

Será nessa missão dupla que ele gravará, em 2020, um disco com os concertos de Bach em Porto Alegre. O compositor, por sinal, deve ser o moto de um novo projeto com Mehmari, sobre o qual, no entanto, ele ainda não dá detalhes. “Estamos meditando.”

Enquanto isso, ele lança nos próximos meses pelo Selo Sesc um disco com as sonatas para piano e violino de Claudio Santoro, gravadas com Alessandro Santoro, filho do compositor (além das cinco conhecidas, os dois registraram uma sexta sonata inédita).

Também já está pronto, para o selo Naxos, um disco com as sonatas do italiano Wolf-Ferrari. E, em janeiro, Baldini se une ao pianista Pablo Rossi para gravar em Nova York as sonatas para violino e piano de Villa-Lobos, “um projeto de sonho para qualquer violinista que atue no Brasil”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Estadão Conteúdo

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