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Muitos rocks rurais…

Brazlândia não é só campo e música sertaneja. Conheça a cena na qual dez bandas reúnem toda semana público de mais de 200 pessoas

Pedro Marra

15/01/2020 5h03

O rock’n’roll resiste! Um pub e dez bandas — feitas de amigos — criam uma inusitada cena roqueira local

Há 20 e poucos anos, um grupo de grandes amigos criou o que é hoje a cena do rock de Brazlândia — agora movimentada por mais de dez bandas e por uma amizade duradoura e disposta a manter o gênero musical ativo na cidade. Está dando certo.

Hoje, a bordo do E-studio Rock Pub — criado em junho de 2018 pelo assistente administrativo do Metrô-DF Klans Otoniel, 44 —, o rock de Brazlândia resiste. A casa foi inaugurada por quatro bandas e agora recebe entre cem e 200 pessoas a cada fim de semana.

Klans explica que as bandas locais que tocam rock’n’roll no pub são a Zumbido, a Distorção 8, a D’Ladrine, a Senhores do Nada, The Otoniels, a Dazantigas, a Velha Carcomida, a Ultra Metade, “1, 2 Teste”, a Homens Livres e a Falso Positivo — entre outros.

Mas, segundo Klans, o E-studio já recebeu cerca de 75 bandas diferentes desde a inauguração. “A gente sempre mistura bandas de fora, de São Paulo, Goiânia, Bahia. Hoje, eu trabalho mais com o pub, mas também uso o espaço como estúdio para ensaios e gravações, e a gente acaba gravando as bandas ao vivo. Faz parte da minha vida, porque eu brinco de tocar há mais de 20 anos. É o sonho da gente: ter um espaço de rock, de música ao vivo, para tocar em Brazlândia; era tudo o que eu queria ter 20 anos atrás”, emociona-se. “O objetivo aqui é ser sustentável — mas de resto é a coisa romântica mesmo”, diz Klans, que cobra R$ 10, a entrada.

Banda Zumbido representa a cena do rock em Brazlândia. Foto: Thiago Macedo

O músico lembra que, em geral, o rock é da paz. “Pela minha experiência, os eventos que menos têm confusão são os de rock. É muito raro ter briga: quando um cai na roda punk, o outro levanta”, diz.

“A gente leva o nome de Brazlândia onde vai”

Fundada no final de 2013, a Zumbido tem quatro integrantes desde a primeira formação: bateria, baixo, guitarra e teclado. “Tocamos no Samamba Rock; já participamos da seletiva do Porão do Rock quando tocamos no palco do evento na Capital Moto Week, em 2018. A gente leva o nome de Brazlândia onde a gente vai. A primeira coisa que falamos quando vamos tocar é que somos daqui de Brazlândia. Isso se reflete nos shows, com a galera cantando as músicas”, orgulha-se o jornalista Pedro Cavalcante, 37 anos, guitarrista e vocalista da banda.

Pedro Cavalcante, baterista e guitarrista da banda Zumbido. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Pedro conta que a Zumbido resolveu fazer a gravação do DVD ao vivo na inauguração do pub, em 5 de outubro de 2018. “Foi tudo na raça.” E a cidade, como sempre, acolheu.

Prova disso é uma história que aconteceu em 2017, quando a banda iria tocar no festival Braz Ocupa, na Praça do Artesão, a principal da cidade. O tempo fechou, mas um morador salvou o dia: cedeu a própria casa ao evento. “A gente levou os equipamentos para lá e lotou a rua, com 200 a 300 pessoas”, conta.

Ainda assim, Pedro pede mais apoio da população do DF — que, segundo ele, não incentiva o rock. “Existe aquela coisa de que as pessoas sabem o que tem que ser feito, que é apoiar a cena; mas, às vezes, não conseguem fazer isso na prática. Quando eu vou a um show, por exemplo, sempre levo um amigo”, diz.

Se o número de fãs está aquém do desejado, os contatos certos são um caminho para o sucesso. “A gente tem divulgado nas redes sociais e entre as bandas. Na nossa gravação do DVD, por exemplo, chamamos produtores do DF: o pessoal do Casa da Val, do Bar Zepelim — que já fechou as portas no Guará —, do festival Samamba Rock, e outros atores que fazem o rock 365 dias do ano no DF”, diz o roqueiro.

“O sonho do Klans era também o nosso”

Há 15 anos ativo no rock de Brazlândia, o educador físico Luzemberg da Silva, 40, hoje toca baixo na banda Ultra Metade. “O potencial existe há muito tempo, não só graças ao pub. As redes sociais ajudam muito; antes, era mais de boca em boca. O sonho do Klans com o pub era também o sonho de nós, amigos. Eu vi muitas bandas crescendo e almejando essa produtividade”, conta.

Klans Otoniel, dono do E-studio Rock Pub. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília


Um bom exemplo é a D’Ladrine, que começou em 2012 como a banda Overdrive X — que gravou pela primeira vez no E-studio. “A gente queria participar da Calourada da UnB, mas pra isso precisava ter, no mínimo, duas músicas gravadas. Um professor sugeriu que eu procurasse um punk em Brazlândia chamado Klans, porque a gente precisava de um estúdio para gravar”, relata o vocalista e guitarrista Daniel Rodrigues, 24 anos — acrescentando que “Klans cobrou um preço camarada e gravamos o nosso primeiro trabalho com ele”.

“A galera fica encantada e quer voltar”

O produtor musical Henrique Janssen, 28, trabalha em Brazlândia há sete anos e avalia o potencial de crescimento das bandas.

“Elas estão fazendo seus trabalhos e eu acredito que o E-studio deu uma alavancada nisso; quando eu tinha banda, foi graças ao pub que a gente conseguiu gravar o nosso primeiro EP. Logo depois, saiu o EP da Zumbido e agora vai sair o EP do Ultra Metade. Está todo mundo produzindo e isso é fruto daqui. Se a gente não tivesse a expectativa que temos hoje, as bandas não estariam tão animadas para produzir e lançar coisas novas. Acho que houve um grande incentivo — e acredito que a tendência é só melhorar e expandir”, observa.

Segundo Henrique, Brazlândia já está com o filme feito. “A galera que vem tocar aqui fica encantada e quer voltar.”

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