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Literatura

Crime de Ritchthofen vira livro

O livro Suzane – Assassina e Manipuladora, do jornalista Ulisses Campbell, será lançado no próximo dia 24, no restaurante Loca Como Tu Madre (306 sul), a partir das 19h, pela editora Matrix

Larissa Galli Malatrasi

17/01/2020 5h02

Depois de ter a publicação proibida pela Justiça de São Paulo e liberada posteriormente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o livro Suzane – Assassina e Manipuladora, do jornalista Ulisses Campbell, será lançado no próximo dia 24, no restaurante Loca Como Tu Madre (306 sul), a partir das 19h, pela editora Matrix. No ano passado, a antiga editora inicialmente responsável pela obra desistiu de publicar o livro intimidada pela própria Suzane von Richthofen. Condenada a 39 anos de prisão pela morte dos pais, em 2002, Suzane não autorizou a biografia.

De onde veio a ideia para escrever o livro?

O meu primeiro contato com Suzane foi no alvorecer do dia 11 de agosto de 2016. Na época, eu fazia uma reportagem para a revista Veja. Ali, tive a ideia de estender a pesquisa para escrever um livro sobre a presa lendária. Ao ter contato com o universo prisional da cadeia feminina, fiquei fascinado e ao mesmo tempo curioso.

Quando você entrevistou Suzane pela primeira vez, qual foi a sua impressão? Isso mudou depois de conversar com todos que te ajudaram na construção do livro?

Alegando experiências ruins no passado, Suzane não dá entrevistas. Tive quatro encontros com ela ao longo de três anos. Em um desses encontros, pedi para ela fazer foto para o livro. Ela tentou me manipular, dizendo que só faria as fotos se ela lesse antes o que estava escrevendo sobre ela. E se também eu não abordasse sobre religião. Óbvio que não acatei esse acordo. Até porque a vida religiosa da Suzane é parte importante do livro. Ela entrou na cadeia luterana, virou católica de rezar o terço, flertou com espiritismo e hoje é evangélica. Inclusive, em uma pregação em um templo no município de Angatuba, ela disse que matou os pais porque esteve próxima do Satanás. Hoje, segundo diz, está mais perto de Deus e profundamente arrependida do que fez. Acontece que ela não convence a Justiça terrena, que carrega culpa pelo duplo homicídio. Por isso, ela não ganha a liberdade.

Quantas pessoas você entrevistou para a elaboração da obra?

Foram 56 entrevistas com pessoas presas tanto na penitenciária masculina quanto feminina de Tremembé. Somando com policiais, advogados, psicólogos forenses e outras fontes, o número chega a 150 pessoas ouvidas. Também consultei 22 processos para escrever o livro.

Qual foi o maior desafio?

Diria que tive dois grandes desafios. O primeiro deles foi reconstituir a sequência em que o casal Richthofen é assassinado com a maior riqueza de detalhes possível. Para isso, tive ajuda do Cristian Cravinhos (um dos irmãos que participou do assassinato) e da equipe de médicos legistas que fizeram a necropsia no casal. O segundo maior desafio foi conquistar a confiança das presas que cruzaram com Suzane pelas quatro casas penais de São Paulo por onde ela passou ao longo de 18 anos. O relato dessas presas foi fundamental para dar consistência à história.

Sua experiência como jornalista foi importante durante a escrita?

Sim, muito. Escrever não foi uma parte muito difícil porque tenho 24 anos de profissão e sempre atuei como repórter. Ou seja, apurando e escrevendo. Durante o processo de pesquisa, fui estruturando a história que queria contar e distribuí em dez capítulos para facilitar o processo de escrita. Isso ajudou muito porque, como se trata de história de pessoas ainda vivas, tinha de escolher o momento para dar o ponto final.

Foi difícil manter um afastamento emocional da história?

Como tenho muita experiência em reportagens sobre crimes de grande repercussão, não tive dificuldade para manter um distanciamento emocional da história.

Depois de tanta polêmica em torno da publicação ou não do livro, como você se sente agora com o lançamento?

O livro foi censurado por uma juíza criminal (Sueli Zeraik Armani) em primeira instância e a decisão foi mantida em segunda instância. Confesso que fiquei apreensivo porque tem quatro anos da minha vida profissional investidos nesse projeto. O advogado Alexandre Fidalgo entrou com uma reclamação no STF. Na véspera do Natal, o ministro Alexandre de Moraes decidiu pela publicação da obra. Foi o melhor presente de Natal que recebi até hoje. Imagina que entre os argumentos da juíza para proibir o livro constava que a obra traz danos irreparáveis à imagem da Suzane. O que traz danos irreparáveis, na verdade, é o que ela fez. E não o meu livro.

A propósito, já está marcada uma data para o lançamento da obra?

O livro será lançado no dia 23 de janeiro na Livraria Cultura do Conjunto Nacional em São Paulo e no dia 24 no Loca Como Tu Madre, em Brasília (306 Sul) a partir das 19h.

Ainda sobre a polêmica da proibição da publicação, você se sentiu censurado?

Sim, muito. E foi o pior tipo de censura porque o livro não havia sido lançado. Isto é, fui vítima de censura prévia. Hoje, acho que essa proibição temporária acabou beneficiando o livro, pois despertou mais interesse pela história. É aquela velha máxima: o fruto proibido é mais saboroso.

Você acredita que a publicação do livro pode trazer um encerramento ou uma outra visão para o caso?

O caso von Richthofen é um caso fechado. O trio de assassinos confessou que matou o casal, ajudou nas investigações e encenou a reconstituição com uma riqueza de detalhes impressionante. Não há dúvidas que eles mataram por motivos financeiros. Impossível ter outra visão para o caso. O que o livro traz são novidades em relação ao desdobramento. Por exemplo: a Suzane tenta uma reaproximação com o irmão após 18 anos. O Cristian Cravinhos se casou na cadeia e teve um caso amoroso com um preso. O livro mostra como Suzane usou seu poder de manipulação para se tornar a rainha de Tremembé.

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