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Cinema

Festival de Brasília: terror que transforma infância em saga sobrenatural

Arquivo Geral

20/09/2018 10h30

Divulgação

Beatriz Castilho
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Admiradora de filmes de terror, Dalva faz de sua triste história uma homenagem ao gênero que a encanta. Dando vida à personagem, a atriz-mirim Nina Medeiros apresenta a angústia de uma criança marcada pela silenciosa relação com o pai. Na tentativa de solucionar a situação, busca, esperançosa e desesperada, ajuda com a falecida mãe, arranjo sobrenatural do título de terror que compete na categoria de longa-metragem da Mostra Competitiva do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A Sombra do Pai (SP), de Gabriela Amaral de Almeida, é exibido nesta quinta-feira no Cine Brasília, a partir das 21h, chancelando a terceira participação da cineasta na festividade candanga.

Apesar do extenso currículo de curtas, foi há menos de um mês que Gabriela entregou ao público seu primeiro longa, Animal Cordial. Além de marcar estreia no formato, a cineasta inaugurou a marca de primeiro slasher (sub-gênero de terror) brasileiro feito por uma mulher. Agora, com A Sombra do Pai, a baiana explora outros ares da escola.

“Acho muito doido como as pessoas esperam que a gente repita algo que deu certo. Isso é uma loucura! Houve uma coincidência de data, mas cada um teve seu momento. A Sombra é um drama de fantasma”, explica Gabriela, em entrevista ao JBr. Apesar de estrear nesta quinta, no Festival de Brasília, o roteiro do filme, criado pela diretora, já existe há quase dez anos.

Ajudinha holywoodiana

Ao longo da década, o texto acabou selecionado para o laboratório de roteiro e direção do Sundance Institute – curso desenvolvido em Salt Lake City, Utah (EUA). “O objetivo é dar aos diretores de primeiro ou segundo longa todo o suporte para dúvidas e medos”, conta a cineasta. “Ficamos por 10 dias em um resort discutindo cenas e possibilidades do filme”, completa. Ministrado pelo ator e diretor americano Robert Redford, o projeto contou com assessoria de nomes como Quentin Tarantino (Cães de Aluguel), Marjane Satrapi (Persépolis) e Paul Thomas Anderson (Sangue Negro).

Para Gabriela, as diversas facetas da carência são destaque do filme. No caso dos protagonistas, a escassez faz presença, principalmente, na comunicação. “Nossos maiores monstros vêm da nossa incapacidade de conectar com os outros. As falhas na comunicação nos isolam em um círculo de neuroses e medos que podiam ser facilmente solucionados com uma simples conversa”, resume.

A reticência de Jorge (Julio Machado), pai de Dalva, engrandece quando um amigo morre em um aparente acidente de trabalho. Colocado pela diretora como frágil e desprotegido, o personagem inverte os papéis com a criança, obrigada a virar o “adulto da casa”.
Trabalhando com uma protagonista de apenas oito anos, a diretora garante não ver diferenças. “A criança, por incrível que pareça, entra no jogo que é necessário ao ator com muita naturalidade. A única coisa (que difere) é ter que manter as regras do set sempre quentes e atualizadas”.

Enquanto roteiro e conversa regam a imersão do elenco na produção, a construção das cenas promovem a absorção do espectador. “É preciso decupar muito bem as informações para de alguma maneira colocar quem está assistindo nas angústias do personagem”. Para isso, figurino, maquiagem e até efeitos especiais podem ganhar espaço. “Terror é o tipo de gênero que precisa funcionar dentro do corpo do espectador”, finaliza.

Entre a criadora e a criação

Assim como a protagonista Dalva, a diretora Gabriela Amaral Almeida sempre gostou do gênero que a fez conhecida. “Cresci assistindo e lendo terror, principalmente Agatha Christie, Howard Lovecraft e Stephen King”, diz. “É um gênero como qualquer outro, mas também é algo meio de abordar um lado humano que é sombrio, e que polemiza”, ressalta a cineasta. “O terror lida com esse medo do desconhecido, e nós, no Brasil, estamos em um terreno fértil para esse tipo de narrativa”.

Mulher que atua no gênero cinematográfico, Gabriela não nega as dificuldades. “No cinema, (terror) ainda é dominado por homens. E é engraçado porque na literatura é diferente, foram as mulheres que começaram o terror [com Frankenstein (1818), de Mary Shelley]”. Sobre a possibilidade de mergulhar na literatura, a diretora dispara: “É uma possibilidade bastante expressiva. Quem sabe?”

Saiba mais

Em 2012, Gabriela Amaral de Almeida concorreu pela primeira no Festival de Brasília, em sua 45ª edição, onde arrebatou melhor roteiro e melhor curta-metragem de ficção com o filme A Mão que Afaga – que ganhou ainda melhor atriz (Luciana Paes) e melhor montagem (Marco Dutra). Dois anos depois, em 2014, a diretora levou melhor curta-metragem por Estátua! e melhor atriz (Maeve Jinkings).

Nesta quinta-feira, sexta noite da Mostra Competitiva da 51ª edição do festival, A Sombra do Pai é precedido por dois curtas, também dirigidos por mulheres. Plano Controle (MG), de Juliana Antunes, abre a noite, seguido por Guaxuma (PE), de Nara Normande. Esta última – única animação da Competitiva – foi feita com areia e ganhou melhor curta-metragem no Festival de Gramado deste ano.

Serviço

Até 23 de setembro. No Cine Brasília (106/107 Sul), Museu da República (Eixo Monumental), Riacho Fundo e outros. Para programação completa, acesse: festivaldebrasilia.com.br.

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