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Feminicídio:“Não podemos deixar essa violência continuar”

Reunidos em torno da inconformidade, músicos e poetas do DF apresentam amanhã — no Teatro dos Bancários — o sarau Não ao Feminicídio

Larissa Galli Malatrasi

12/02/2020 7h58

“Desde que comecei a amar você, por quantas vezes deixei de ser eu mesma para ser você? Me alertavam e eu apaixonada não escutava. Depois percebi que para ser sua eu precisava me retirar de mim e eu queria, acreditava que melhor seria.” Esses são alguns versos do PoemaFeminicídio, da poeta Nilva Souza, que encorajou dezenas de outros poetas a escreverem poesias em protesto contra a onda de feminicídios no Distrito Federal — só no primeiro mês de 2020, quatro mulheres foram mortas.

Em defesa da vida das mulheres, artistas do DF se organizaram para realizar o sarau Não ao Feminicídio, que acontece amanhã, a partir das 19h, no Teatro dos Bancários. Com entrada franca e em protesto à alarmante realidade que acomete mulheres em todo o Brasil, a ação cultural — promovida pelo Celeiro Literário de Brasília e pelo projeto BraSa – Caminhos Literários e Musicais entre Brasília e Salvador — contará com 20 poetas e diversos músicos da capital federal. Juntos, os criadores levarão seus versos e canções em denúncia às violências físicas e simbólicas contra o gênero feminino.

“É uma ação de protesto para alertar a sociedade sobre um crime que pode ser muito difícil de combater, já que, na maioria das vezes, acontece dentro de casa”, apontou um dos organizadores do evento, Adroaldo Quintela.

Segundo ele, os artistas estão participando voluntariamente do sarau; todo o financiamento foi custeado por entidades civis parceiras. “É uma causa justa”, afirmou. O organizador também ressaltou que, mesmo antes de acontecer, o evento já produziu um efeito “fantástico”.

A autora dos versos que abriram essa reportagem também é uma das organizadoras do sarau. Indignada com o crescente número de feminicídios no DF, Nilva escreveu o PoemaFeminicídio, publicou-o em uma rede social e convidou colegas a também escreverem poesias sobre o assunto.

“Foi um movimento espontâneo e sem pretensão. As pessoas faziam seus poemas e me mandavam. O Adroaldo viu e sugeriu fazer um sarau com todos esses poemas”, contou Nilva.

“Nossas irmãs, mães e vizinhas”

Além de Nilva Souza, Cristina Roberto, Seirabeira, Ana Rossi, Custódia Wolney, Luciana Barreto, Angélica Torres, Paulo Lima, Mauro Rocha, Marcia Amaral, Ismar Lemes, Flora Benittez, Pietro Costa, Nara Fontes, Analise, Vicente Sá, Malu Verdi, Roberto Medina, Luh Veiga e Maria Maia também recitarão suas poesias.

Para completar a ação cultural, além do recital de poemas, o evento também vai contar com apresentações musicais e uma exposição de poesias impressas relacionadas à temática. “Nossas irmãs, mães e vizinhas estão morrendo por causa do machismo. Não podemos deixar essa violência continuar; eu acredito que a poesia tem seu papel social e essa é uma causa que merece ser ouvida”, afirma Nilva.

Lutadora contra o feminicídio e ativista pela vida das mulheres antes mesmo de ser reconhecida como mestra da cultura popular no DF, Martinha do Coco faz parte da programação musical do evento. A artista teve uma sobrinha assassinada pelo marido na frente dos filhos — então, “além de ser uma causa social e política, é uma questão pessoal e familiar”. No repertório de amanhã, Martinha vai levar cocos — que falam sobre “a alegria e beleza das mulheres” — e a Ciranda de Amor e Luta — sobre “a união das mulheres em rodas de autocuidado, de formação política, para se proteger e defender suas vidas”.

Dora Cabanilha, Marina Andrade, grupo de choro Regional Marangone e o quarteto Não ao Feminicídio completam a programação musical.

Serviço

  • Não ao Feminicídio
  • Sarau poético
  • Amanhã, às 19h
  • Teatro dos Bancários
  • Entrada franca

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