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Coletivo de jornalistas negros de BH faz carta aberta a Gloria Maria após declarações polêmicas

Pioneira na televisão brasileira, Gloria Maria afirmou que “acha um saco” o fato de que “tudo hoje é racismo, preconceito e assédio”

Redação Jornal de Brasília

01/10/2020 13h35

São Paulo, SP

Em recente conversa com Joyce Pascowitch, Gloria Maria disse que nos dias de hoje existe uma cultura de que “nada pode”, e também afirmou achar o politicamente correto um verdadeiro “porre”. As declarações dadas em sua estreia em lives, na sexta-feira passada (25), ganhou repercussão na mídia e ainda reverbera mesmo após uma semana.

Pioneira na televisão brasileira, Gloria Maria afirmou que “acha um saco” o fato de que “tudo hoje é racismo, preconceito e assédio”. Ela também relembrou quando foi chamada “neguinha” por seus colegas de trabalho, de uma forma que segundo sua visão, foi de cunho afetuoso. Mas em meio a uma série de protestos como Black Live Matters (“Vidas Negras Importam”) e tanta visibilidade ao tema, o coletivo de jornalistas Lena Santos, decidiu realizar uma carta aberta a jornalista, divulgada nesta quinta (1º).

Com mais de 50 profissionais negros da comunicação, o coletivo de Belo Horizonte que carrega o nome da jornalista Lena Santos -que ocupou a bancada do Jornal Hoje local nos anos 1980- escreveu o texto chamado “Crítica e afeto”, que tem como propósito discordar das declarações feitas por Gloria Maria, e abrir um canal de diálogo com a apresentadora.

“Temos o desejo que chegue a ela e a todas as pessoas envolvidas com a questão racial no Brasil. A carta foi feita a muitas mãos, de pessoas que têm a Gloria como grande referência. Temos afeto e carinho por ela, mas o nosso pensamento não vai ao encontro um do outro”, explica a jornalista e mestranda em comunicação social, Etiene Martins, 36, em entrevista à reportagem.

A integrante do coletivo afirma que é importante lembrar, tanto Gloria como outros profissionais de comunicação, que pela proporção e estatísticas, a desigualdade racial ainda assola o país e espelha na profissão. “Pensamos justamente essa questão da crítica a partir do afeto. Passamos por inúmeras situações de vulnerabilidade no mercado de trabalho. A comunidade negra ainda é muito pouco vista na televisão”, reitera.

Na carta aberta divulgada pelo coletivo Lena Santos, os jornalistas propõem a reflexão e apresentam números alarmantes -como o Atlas da Violência 2020, que mostra que a taxa de homicídios de negros cresceu 11,5%, de 2008 a 2018, enquanto a de não negros caiu 12%.

“Há séculos somos transformados em estatísticas e, além disso, precisamos lidar com pessoas que ignoram e desmerecem todas as mazelas enraizadas em nós, deixadas pela escravidão. Por isso mesmo aqui estamos nós, totalmente impactados pela posição que você escolheu ter na situação mencionada no início desta carta, ou foi levada a ter, relativizando toda essa luta.”

Ao fim do texto, que pode ser conferido na íntegra abaixo, o coletivo pede para que Gloria Maria “se junte às urgências que ainda os assolam”. “Reiteramos nosso carinho e admiração por você e acreditamos que receberá essa mensagem como uma troca de ideias entre iguais. Sem tom de censura ou intolerância da nossa parte”, escrevem.

As informações são da FolhaPress

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