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Cinema

Paulo Gustavo: O rei das bilheterias nacionais

Redação Jornal de Brasília

27/12/2019 10h39

Paulo Gustavo

Paulo Gustavo: O rei das bilheterias nacionais

Como Sonia Braga no cinema brasileiro dos anos 1970/1980, Paulo Gustavo virou o fenômeno de bilheteria da produção nacional atual — e tenta agora o que parece missão impossível. Com a estreia, ontem, de Minha Mãe é uma Peça 3 , imprensado entre Star Wars eFrozen 2 (que entra no dia 2 de janeiro), Paulo Gustavo está confiante de que o blockbuster nacional dará conta da enorme concorrência. E avisa: este é seu filme mais político.

Nesta entrevista, Paulo Gustavo conta como encontrou sua personagem ao seguir um conselho da atriz Samantha Schmütz. Ela lhe disse que parodiasse sua mãe, Dona Déa. Paulo adotou os bóbis, a vassoura, colocou um vestido e foi assim que surgiu Dona Hermínia. O sucesso de Minha Mãe é uma Peçafoi retumbante. Dos palcos, ganhou os cinemas. Minha Mãe 1 e 2 foram vistos por quase 15 milhões de espectadores pagantes. O 2 faturou R$ 121 milhões e é o maior sucesso de público de comédia no cinema brasileiro. Como será o 3?

Paulo Gustavo é o primeiro a admitir que, embora inspirada em sua mãe, Dona Hermínia tem muito dele mesmo. “Muita coisa mudou e eu adquiri mais consciência. Não acho que estou politicamente correto, mas acho que tem coisas que eu poderia falar antes e que agora não falo mais.

O que eu brincava há dez anos perdeu a graça para mim. Tudo muda e eu também mudei, o mundo mudou”, diz.

O mais interessante é que, contrariando o lema de que não se mexe em time que está ganhando, cada um dos três filmes foi feito por um diretor diferente — André Pellenz, César Rodrigues e agora Susana Garcia.

Para lembrar: no primeiro, Dona Hermínia some de casa quando os filhos começam a chamá-la de chata; no 2, transformada em apresentadora de TV, ela começa a lidar com as transformações dos filhos, que querem fugir da sua influência autoritária; no 3, cada um vive sua vida. Rodrigo Pandolfo, que faz Juliano, e Mariana Xavier, a Marcelina, são ótimos e agregam ao sucesso.

De 5 em 5 milhões de espectadores, você está remodelando as listas de recordes de bilheteria no país. Vai fazer mais 5 milhões com Minha Mãe 3?

Por que só 5 milhões? Eu não me importo de fazer mais, nem temo a concorrência. Já enfrentamos o Star Wars no passado e o Frozen. Qual era o Star Wars? Ah, sei lá. Nossos números são grandes, mas eu acho que deveria haver uma reserva de mercado para a produção nacional. Os filmes grandes traem o público, e as pessoas sabem que vão se divertir com a Dona Hermínia. Mas existem filmes menores que também têm de ter espaço. O público precisa se conscientizar disso, o mercado, também.

Minha Mãe 3 arrisca mais e é até um pouco triste. Aborda temas como perda, solidão. Dona Hermínia está numa nova fase, com os filhos no mundo. Ela não os controla mais. Não é muita mudança para o seu público?

É, mas a vida é dinâmica e eu estou numa outra fase, acho que mais maduro. Casei-me, sou pai, tenho os gêmeos e, inclusive, vou lhe dizer que estou vivendo uma situação surreal. Thales [o marido] e eu rentamos colocar disciplina nos gêmeos e aí chega a minha mãe, que sempre foi a maior controladora, e bagunça tudo. Como ela diz, a função da avó é estragar os netos. Tudo o que faço tem muito de autobiográfico, e as pessoas sabem disso. Coloco minha vida, minhas experiências, então, estou compartilhando essa fase com meu público. O casamento do Juliano é o meu casamento; a maternidade da Marcelina é a minha paternidade. Ser pai está sendo o máximo. Cada dia é uma emoção, uma descoberta. E o que você diz que é tristeza no filme — para com isso, não afugenta o público —, é um tanto de drama, de amadurecimento. Ninguém é dono dos filhos para sempre. As crianças crescem, vivem a vida delas, vão embora. Todo pai, toda mãe sabe disso.

Eu estou nessa fase de olhar na mesma direção dos gêmeos, é gostoso, somos pais dedicados, mas um dia vai mudar. Fiz questão de colocar os gêmeos no filme, de fazer dedicatória no final, porque é tudo muito pessoal.

É um filme que tem casamento gay, mas sem beijo gay. Qual é o problema? Poderia pegar mal na bilheteria?

Qual é o problema? O problema é o [prefeito Marcelo] Crivella, que mandou tirar da Bienal do Livro aquela HQ que tinha beijo gay. O fato, em si, o beijo, não deveria ser problema, mas o preconceito ainda é forte e cria essas situações. Há muito preconceito, muita homofobia. Mesmo sem beijo gay, o Minha Mãe 3 é meu filme mais político, porque ele traz a defesa da diversidade, do casamento gay. É a história da Dona Hermínia, mas eu estou ali com a minha cara, dizendo quem sou, homenageando minha mãe, minha irmã, meu marido, minha família.

Não tem bicho de sete cabeças. A gente pode ser diferente, mas é normal, se ama, é trabalhador. O  bom é todo mundo se respeitar. Então, nesse Brasil ainda polarizado, a bandeira do filme é o amor

Por falar em trabalho: você tem sempre mil projetos. Como anda seu ritmo?

Agora vou dar uma parada para as festas de fim de ano, mas estou sempre a mil. Não, não pense que, porque os gêmeos têm babá, eu não fico o dia inteiro em função deles, do Thales, do trabalho. Dona Hermínia acabou no cinema. Não me vejo fazendo um Minha Mãe 4; em compensação, vamos transformar em série e será ótima, porque trata de família, e família é um assunto inesgotável; dá para imaginar um monte de tramas para manter a Dona Hermínia ocupada no ar. Estou escrevendo a nova temporada do Vila e também um novo filme que será o maior babado. Marcos Majella e eu como uma dupla de policiais.

Confesso que achei a Samantha Schmütz ótima no filme. Ri muito com ela…

A Samantha é muito importante para mim. Fiz minha primeira peça com o Fábio [Porchat] e não deu certo. Aí, teve um espetáculo em Niterói e a Samantha falou para eu imitar minha mãe. Coloquei os bóbis na cabeça, peguei a vassoura, comprei um vestido. Dona Hermínia estava pronta. Foi assim que nasceu Minha Mãe é uma Peça.

É seu filme mais cuidadoso como produção e realização…

… E isso é mérito da Susana Garcia, que dirige. A Susana é irmã da Mônica (Martelli) e é perfeccionista. Para chegar a esse equilíbrio de humor e drama a gente ralou. O roteiro foi muitas vezes reescrito, as falas, demos um duro danado. Como diretora ela também cuida de tudo. Da cor, da cenografia, do ritmo. O filme está muito bonito, sim.

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