No início da década de 1980, Stanley Kubrick se desafiou e embarcou em uma adatapção de Stephen King. O Iluminado (1980) estreou nos cinemas e conseguiu aterrorizar seus espectadores e paralelo a isso, criou uma legião de fãs do filme. Kubrick imprimiu toda sua genialidade na adaptação, fator que desagradou King. Quase 40 anos depois, Hollywood decide adaptar a sequência, entitulada Doutor Sono, que estreia nos cinemas da cidade hoje (7).
Intercalando acontecimentos do primeiro filme, Doutor Sono conta a história de Danny (Ewan McGregor) e sua incostante luta contra os traumas deixados pelos acontecimentos da sua infância. Sempre tentando fugir do seu passado, Dan se depara com um clã de misticos que irá fazê-lo desenterrar seus medos mais profundos, culminando em pontas soltas em seu passado sombrio.
O livro que derivou a continuação de O Iluminado foi de gestação longa. King o lançou em 2013. Por se tratar de um legado da cultura pop, não levaria muito tempo para que Hollywood produzisse uma adaptação. Direto do cânone de live-streaming, a Warner Bros. encontrou um pródigio.
Mike Flanagan, cujo currículo consiste em excelentes terrores, porém menores, como: Hush – A Morte te Ouve (2016), Jogo Perigoso (também de Stephen King) e O Espelho (2014). Sendo seu primeiro “grande” longa-metragem, Flanagan concentra seus esforços em adaptar o material original, abstendo de qualquer fórmula ou emulação de Stanley Kubrick. Há os inevitáveis paralelos devido ao formato não-linear da obra original, mas Flanagan, gentilmente, deixa o legado de Kubrick intacto e propõe algo novo e genuino. Ou seja, toda aquela atmosfera vista na sua filmografia, é redobrado em Doutor Sono, transcrevendo todo o ritmo diabólico da obra original.
Elenco “iluminado”
Dar segmento ao universo onde Jack Nicholson, brilhantemente, arrebenta uma porta com um machado e ameaça: “Here’s Jonnhy!” requer uma singularidade ímpar em termos técnicos e cênicos. Por isso, Flanagan soube escolher um elenco brilhante. Além de Ewan como protagonista, Rebecca Ferguson é a verdadeira surpresa de Doutor Sono. Desde os dois últimos Missões Impossíveis (Nação Secreta e Operação Fallout), a atriz – inegavelmente – demonstrou uma presença magnética. O que faltava para isso ser comprovado era encarnar um vilão.
Em Doutor Sono, Ferguson é Rosie, The Hat, uma das vilãs mais icônicas de Stephen King. Ao lado de Ewan – que encarna um homem amargurado e alcoólatra – esse personagem consegue atrair o espectador para si. Para fãs de quadrinhos, “Rosie, The Hat” pode ser uma demonstração prévia de Ferguson como Hera Venenosa.
Bom, mas há alguns metros da perfeição
Elenco impecável, ritmo uniforme, atmosfera diabólica e ótima direção. Entretanto, existe um fator irrefutável: O Iluminado é uma verdadeira graduação para qualquer cineasta, tentar repetir a fórmula de algo tão emblemático, é, no mínimo, arrogante. Doutor Sono, por seguir uma correnteza oposta, se classifica como um dos melhores terrores do ano e atualiza a vasta lista de excelentes adaptações de King, mas ainda sim não é nenhum Iluminado.
Por Leonardo Resende