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Entretenimento

Brasília perde Gisele Lemper

A atriz foi internada por baixa de sódio e potássio, em seguida foi diagnosticada com pneumonia, problemas nos rins e uma infecção hospitalar

Redação Jornal de Brasília

27/05/2020 21h09

Brasília perde a atriz Gisele Lemper, pioneira que chegou aqui em 1961, ainda no barro vermelho, fazendo teatro em caravanas para os operários dessa imensa construção. Depois participou da inauguração do Teatro Nacional e seguiu em grandes obras, como boa entendedora de texto que era, fez sucesso em grandes peças como “A Mãe Porra Louca”, “Sr Puntilla e seu criado Matt”, “Gota d’Água” (um grande sucesso de Brasília com Bibi Ferreira) e “Medeia” (dirigida e contracenando com sua herdeira artística Luciana Martuchelli).

Elenco de gota d’agua

Gisele Lemper foi uma grande poetisa que além de domar tão bem as palavras, nos deixa centenas de buquês dos mais variados perfumes como ela era, em forma de  4 livros e várias poesias inéditas.

Gisele com a filha Luciana Martuchelli no lançamento do livro Tempo de Poesia

Ela tinha uma mistura de humores e de percepções da vida, conseguia ser objetiva e mística ao mesmo tempo, com uma sinceridade única. Era o que admirava nos outros: ser fora o que se é dentro, não usar máscaras, apenas no teatro.

Autodidata, como sempre se descreveu, recuperou a pouca escolaridade e apreendeu as letras passando tardes em livrarias devorando o que podia, tinha fome de vida. Muito atuante numa época que se fazia arte fugindo da censura e sem qualquer apoio, apenas a certeza que era sua forma de existir.

Leia um dos poemas escritos por Gisele:

“ESFINGE

Viajo entre as coisas do mundo,

entre as palavras, brincantes, do poeta

e as estrelas de ouro brilhando na noite.

Nos espaços iluminados, meus rastros

nômades, deixam sinais impressionantes,

realçados pelo archote luciférico.

Viajo entre as coisas do mundo

e apesar do inegável distanciamento

brechtiniano, algumas figuras bonitas

me fisgam, fortemente, com sua ternura,

pondo a descoberto a vulnerabilidade

de viajante, entre as coisas do mundo.

Viajo entre as coisas do mundo

com sensibilidade atenta, entre encontros

e desencontros, na longa caminhada.

Respeitando as condições caprichosas

do tempo, viajo entre as coisas do mundo

e o sexto sentido, em misteriosíssimo clima,

externa uma canção instrumental new age.

Viajo ao centro do mistério da existência,

para, quem sabe, reencontrar, em mim mesma,

a mulher bem humorada, que não se leva

tão à sério e sorri, sapientissimamente,

das travessuras de seus companheiros de viagem.”

(seus livros Duo, Esfinge, Tempo de Poesia e Rosa do Ventos estão disponíveis na TAO Filmes)

A causa da morte de Gisele não foi o Covid 19. A atriz foi internada por baixa de sódio e potássio, em seguida foi diagnosticada com pneumonia, problemas nos rins e uma infecção hospitalar.  Apesar do bom tratamento que recebeu, infelizmente não resistiu. 

Quem quiser e puder doar sangue, pode doar em nome de Gisele Lemper. 

 

 

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