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Biografia íntima da mulher que comandou um Império, Vitória, A Rainha chega às livrarias

Arquivo Geral

03/12/2018 14h43

Divulgação

Quando a princesa Vitória chegou ao trono da Inglaterra, logo após fazer 18 anos, ainda não havia luz elétrica, a indústria dava seus primeiros passos, o transporte era feito com tração animal e a Inglaterra era uma potência média. Ao final de seu governo, 64 anos depois, como imperatriz, o mundo era outro, com energia elétrica, telefone, uma enorme malha ferroviária, automóveis. E a Inglaterra, ou melhor, o Reino Unido, era a maior potência da terra.

Mesmo assim, quando se fala em período vitoriano, pensa-se em uma era cinzenta, moralista, insalubre e poeirenta. Talvez até fosse, mas a rainha Vitória de Julia Baird só era careta na aparência. O retrato traçado em Vitória, a Rainha, da jornalista e escritora australiana, é de alguém que, embora ciosa de sua autoridade e teimosa, era também divertida, pronta a aprender, extremamente capaz ao governar e até meio moleca, com pouco ou nada da anã assexuada da historiografia tradicional.

De temperamento forte, desafiou a autoridade da mãe, fácil, e de seus ministros, difícil. Apaixonou-se perdidamente pelo príncipe Albert, com quem se casou aos 19 anos e teve nove filhos – mas após sua morte prematura, aos 42, teve lá seus flertezinhos. Sobreviveu a oito tentativas de assassinato.
Durante o longo período em que Vitória reinou, o desenvolvimento industrial, a ciência e a tecnologia remodelaram o mundo. Mas sua mão firme e influência fizeram dela um símbolo da segurança e da tradição do povo inglês, sabendo adaptar-se aos novos tempos.

Uma Vitória dos nossos tempos

Julia Baird revela a verdadeira mulher por trás do mito: uma rainha ousada — uma Vitória dos nossos tempos. De acordo com a crítica do jornal Herald, “a extensa pesquisa de Baird permitiu que ela produzisse um livro acessível e agradável que faz jus à pretensão de ser uma biografia íntima, como pretende”.

Na época de sua ascensão, Lord Melbourne era o primeiro-ministro do liberal partido Whig. Vitoria mostrou-se convencida de que apenas o lado nominalmente liberal da política britânica merecia respeito. Quando Melbourne perdeu a maioria para o conservador Robert Cecil, Vitória fez o impensável, mesmo na época: manobrou para que permanecesse no cargo.

Despertou um temporal de protestos, até mesmo na nobreza, mas sua vontade prevaleceu. Aprendeu a lição, em termos. Em circunstâncias parecidas agiu de forma mais discreta – mas sempre fazendo sua vontade prevalecer.

Em 1848, o ano das revoluções, Victoria declarou: “Eu afirmo que as revoluções são sempre ruins para o país e a causa de miséria indescritível para o povo. Obediência às leis e ao Soberano é a obediência a um Poder superior, instituído por Deus para o bem do povo…”

Na época da fome da batata, ela disse que os irlandeses deveriam ser esmagados. Ainda assim, Baird diz que é errado chamá-la, como alguns disseram, “a Rainha da Fome”. Deu £ 2000 (uma fortuna na época) de seu próprio dinheiro ao fundo da fome e ordenou dias de jejum público.
Baird coloca cor no seu texto e mostra a força de vontade da princesa que nunca foi treinada para governar. ”

Eles querem me tratar como uma garota”, declarou Victoria, “mas vou mostrar a eles que sou a Rainha da Inglaterra”.

Medindo a aceitação das mulheres na política

Julia Baird acredita que ter contado com rainhas fortes, como Elizabeth I, Victoria e em certa medida Elizabeth II, ajudou os britânicos a se sentirem confortáveis com as mulheres no poder. “ Victoria era dura, teimosa e às vezes rude, e se recusou a aceitar a derrota. Negou-se a que lhe dissessem o que fazer ”, diz ela. “Foi acompanhada a cada segundo do dia e mesmo assim se comportou como queria se comportar”, avalia a autora.

“Eu me pergunto sobre o papel que as rainhas fortes da Inglaterra desempenharam na psique da nação em relação à aceitação das mulheres na política, e que tipo de mulheres. Temos Margaret Thatcher, temos Theresa May, mas ainda hoje os EUA não podem votar em Hillary Clinton ”, comenta Baird. Sim, radicada nos Estados Unidos, Julia Baird sentiu-se estimulada a escrever sobre mulheres no poder após a derrota de Hillary.

Quando Baird começou a escrever para Victoria, ela queria examinar como a rainha exercia poder durante seu reinado e até que ponto a aceitação popular de mulheres poderosas já acontece. O livro narra a vida de Victoria, mas ao contrário de outras histórias da rainha, descreve seu papel como uma “mãe incrivelmente poderosa”. Explora como ela administrou suas nove gestações e criou seus filhos enquanto monarca.

Nada de ceder poderes

Entre seus filhos estava o futuro rei da Inglaterra, a mãe de um imperador da Alemanha, a avó da czarina. Entre os netos, chefes das casas reais de países tão diferentes quanto Dinamarca, Grécia, Espanha e dezenas de outros. Todos foram cuidadosamente ensinados a exercer seus cargos com dignidade, a conhecer pormenorizadamente seus poderes e, a partir daí, não abrir mão de um milímetro deles. Afinal, foi o que ela mesma fez quando rainha.

Isso valia até para seu casamento. Tudo indica que se apaixonara pelo príncipe Albert antes mesmo do casamento. Albert tinha carisma, visão de poder e intenção de exercê-lo. Isso não a amoleceu.

A tensão das gravidezes incessantes de Victoria se chocou com as ambições de Albert. Baird reconta história recorrente sobre Victoria batendo na porta de Albert. “Quem está aí?”, pergunta ele. Enquanto ela repete várias vezes “Rainha da Inglaterra”. A porta não se abre. Não até ela dizer “Sua mulher, Albert”.

Se ela era teimosa, ele podia ser mais. Conseguiu abrir espaços, como organizar uma Exposição Universal que de início ninguém queria, mas virou grande sucesso. Mas Vitória não abriu mão do poder. Registrou em seu diário que, como Albert tinha apetite e aptidão para a política, os seus cresceram junto. “Nós, mulheres, não somos feitas para governar e, se somos boas mulheres, devemos abrir mão dessas ocupações masculinas, mas há momentos que nos levam a interessar-nos por elas. Gostemos ou não”. Gostou.

Onde ela morava…
…e onde gostava de ficar
Contra a vontade da mãe, Vitória mudou-se para o Palácio de Buckingham, até hoje “casa” da rainha. Impacientou-se com a decrepitude da decoração e com o mau cheiro do centro de Londres.

Já com Albert, descobriu o seu “pequeno e lindo castelo” em Balmoral. Foi à Escócia, onde fica o castelo, que o coração de Victoria veio a pertencer.

Mais perto, Vitoria e Albert compraram Osborne House, na Ilha de Wight, em 1844. O casal Real procurava um lar afastado das pressões da vida da Corte. Osborne House foi reconstruída ao estilo dos palácios da Renascença italiana, e completada com duas torres.

 

Serviço


Vitória, A Rainha
Autor: Julia Baird
Tradução: Denise Bottmann
Páginas: 552
Editora: Objetiva
Preço médio: R$ 89,90

 

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