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Entretenimento

52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: o primeiro beijo da menina trans

Longa paranaense exibido hoje na Mostra Competitiva trabalha temática adolescente e LGBT

Lindauro Gomes

25/11/2019 6h18

Larissa Galli
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A história de uma adolescente trans que quer, como toda menina da sua idade, dar o primeiro beijo, toma conta da noite de hoje na Mostra Competitiva do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A direção do longa-metragem vindo do Paraná, Alice Júnior, é de Gil Baroni e a protagonista da trama é vivida pela atriz — também trans — Anne Celestino.

“O desenvolvimento do filme foi pensado para que o protagonismo fosse de uma atriz trans”, afirmou o diretor em entrevista ao Jornal de Brasília. A produção — que já estreou em outros festivais de cinema pelo Brasil — será apresentada hoje no Cine Brasília (106/107 Sul) pela atriz principal. “Anne Celestino vai subir ao palco do festival para representar todas a mulheres e homens trans do país. Nossa expectativa — que é a vontade de ocupação de espaços que até pouco tempo não eram frequentes para os corpos trans no Brasil — já foi realizada”, comenta Gil.

Segundo o cineasta, além do protagonismo trans, outro ponto importante do filme é a superação de alguns estereótipos. “Buscamos contar uma história de uma adolescente trans que já tenha superado questões sobre a falta de aceitação dentro de casa e a violência sofrida habitualmente pela população trans ou por quem está no processo de transição. O filme supera isso e ocupa outro espaço”, explica Gil.

Esse novo espaço alcançado é o do diálogo com o respeito, a tolerância, o carinho, o afeto, a amizade e, principalmente, com a relação dos adolescentes com os pais. “É sobre como os pais e mães precisam estar sempre ao lado dos filhos, apoiando suas decisões”, pontua o diretor. “É um filme simples, que dialoga com o público por meio das experiências e dos dilemas dessa fase da vida sob o olhar de uma adolescente trans, indicado para adolescentes e também para os pais dos adolescentes”, completa.

Na narrativa, a relação da protagonista com seu pai ganha destaque. Alice vivia uma vida privilegiada em Recife, até que precisam se mudar para uma cidade conservadora no interior do Sul do país. “Alice vive uma jornada de maturação e de novos aprendizados sobre seu corpo em uma cidade que não aceita a presença de uma adolescente trans. Ela passa a sofrer uma transfobia que não sofria em Recife, e o apoio do pai é fundamental para superar isso”, revela Gil.

Para o diretor, a principal mensagem transmitida pelo filme é de tolerância e respeito à pluralidade e diversidade dos corpos e das pessoas. “É muito importante que a gente tenha em mente que amar, respeitar e tolerar não são só palavras bonitas — elas precisam ser colocadas em prática. A gente precisa exercitar diariamente o amor”, diz. “Quando a gente tem uma personagem trans como Alice Júnior que quer viver sua liberdade, a gente não pode deslegitimar isso. Temos que valorizar e apoiar. Essa é a reflexão principal que fica, especialmente nesse momento de proliferação de discursos de ódio e intolerância em que vivemos”, completa.

Financiamento

Financiado pelo arranjo regional em Curitiba do Fundo Setorial Audiovisual, Alice Júnior seria inicialmente um telefilme de 52 minutos. “Percebendo o potencial do filme para além da televisão, nós otimizamos o orçamento de R$ 305 mil que tínhamos junto com a parceria da equipe de realização que também investiu, fizemos imagens a mais e procuramos outras fontes de financiamento para finalizar uma versão longa-metragem”, comenta Gil Baroni.

Com mais recurso, o diretor conseguiu colocar efeitos visuais e uma trilha sonora original no filme. “O financiamento extra nos permitiu utilizar uma linguagem visual cheia de grafismos que é muito peculiar dessa geração e construir uma trilha sonora dos ‘sonhos’ com mais de 15 músicas licenciadas”, conta. Ao todo, o filme foi desenvolvido com um orçamento de R$ 850 mil.

Apesar de lamentar a destruição das políticas audiovisuais e o desmonte do financiamento cultural pelo atual governo, Gil acredita que o cinema nacional resistirá. “O cinema brasileiro é tão importante que em tempos de obscurantismo, opressão e tirania é o primeiro a ser combatido porque é um instrumento poderoso — por isso vive o boicote e o ataque por essa gestão conversadora. Mas não haverá nenhum tipo de ação que venha a combater o cinema porque ele é invencível”, afirma. “O festival de Brasília é muito importante para isso porque tem dentro de sua história um panorama de filmes que falam sobre essa resistência”, completa.

Saiba Mais 

Os curtas-metragens que abrem a sessão da noite de hoje são Cabeça de Rua, de Angélica Lourenço; e A Nave de Mané Socó, de Severino Dadá. As sessões começam às 20h30 no Complexo Cultural Samambaia, no Instituto Federal do Recanto das Emas e no Complexo Cultural Planaltina, com entrada gratuita; e às 21h no Cine Brasília, com ingressos a R$ 10 (meia).

Hoje também acontece o 5º Festival de Curtas das Escolas Públicas do Distrito Federal no Cine Brasília. Este ano, 30 filmes concorrem a prêmios de roteiro, direção, fotografia, montagem, desenho de som, ator, atriz e abordagem do tema. O tema desta edição é A escola que temos, a escola que queremos. As sessões serão às 9h, com entrada gratuita.

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