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Brasília

Zona Verde: população desaprova cobrança

Contra a possível cobrança de estacionamento no Plano Piloto, moradores fazem abaixo-assinado

Lucas Neiva

04/08/2020 6h36

A Zona Verde, proposta da Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) pela implementação de estacionamentos rotativos pagos no Plano Piloto, foi mal recebida pela população. A resistência ao projeto chegou a tomar a proporção de um abaixo-assinado virtual, que ao fechamento da matéria já ultrapassava as 14mil assinaturas.

A proposta da Semob é de cobranças de taxas de R$ 2 a R$ 5 por hora nos estacionamentos do Plano Piloto em áreas comerciais e residenciais, a depender do local e do tipo de veículo. O projeto também implementa limite de permanência nesses estacionamentos, sob pena de multa caso o limite seja ultrapassado. Nas áreas residenciais, os moradores ficam isentos de cobranças nas suas quadras. A isenção também vale para quem utilizar o transporte coletivo em seguida. O objetivo do projeto é aumentar a disponibilidade de vagas nos estacionamentos do Plano Piloto e estimular o uso do transporte coletivo.

Para a moradora da Asa Norte e economista Maria Virgínia Colusso, 34 anos, o estabelecimento de um preço para o uso do estacionamento de fato pode fazer com que haja maior ponderação no uso das vagas no Plano Piloto, diminuindo a falta de vagas em alguns locais da cidade. Mas a medida pode ser um tiro no pé da economia local. “Talvez a proposta impacte o comércio, já que as pessoas teriam que assumir também o custo do estacionamento ao fazer suas compras”, explica.

A realidade econômica da pandemia também torna o projeto um risco, mesmo que a médio prazo. “Não se sabe ainda quanto tempo será necessário para recuperar as perdas econômicas provocadas pela pandemia. Mesmo com a proposta de cronograma de implantação em até 3 anos, mais um empecilho para os comerciantes pode complicar bastante essa retomada”, diz.

Para o servidor público federal Leonardo Flores, 45 anos, morador da Asa Norte, a proposta da Semob chega a ser abusiva. “Isso acaba prejudicando o direito de ir e vir da pessoa. Só sou favorável a isso em lugares onde realmente há uma carência de estacionamentos, como no Setor Comercial Sul. Mas mesmo nesses locais, devem haver vagas mantidas em aberto para quem não tem condições de pagar”.
O advogado e morador da Asa Sul e advogado de 27 anos Gilbert Di Angelis chegou a organizar uma petição online contra a proposta, que já conta com mais de 14mil assinaturas. Sua maior preocupação é com o efeito da medida no custo de vida da população. “O morador do Plano Piloto, além de todas as despesas com moradia, alimentação e transporte, ainda paga IPVA, IPTU, imposto de renda e outros tributos. Desse modo, pagar por estacionamento em áreas públicas se tornaria excessivamente oneroso”, afirma.

Gilbert também reclama da precariedade do transporte coletivo no Plano Piloto, que ele considera “sucateado e incapaz de atender com eficiência e dignidade à população do Distrito Federal”, e questiona o possível retorno do projeto. “Qual será a efetiva contraprestação que justifique a cobrança nos estacionamentos?”, indaga.

O advogado e morador da Asa Norte Christian Thomas Oncken, de 29 anos, também demonstra estar revoltado com o projeto. “Os estacionamentos em alguns setores de Brasília são escassos, não são todos”, afirma. E mesmo no cenário de escassez, ele não considera o projeto uma solução viável. “Existem soluções mais modernas. Podemos tomar por exemplo São Paulo, que utiliza estacionamentos verticais”, explica.

Estímulo ao transporte

No dia 31 de julho, o secretário Executivo de Mobilidade, da secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana do DF (Semob), Luiz Felipe Cardoso de Carvalho conduziu a audiência pública que discutiu o projeto de implantação do estacionamento rotativo em áreas públicas do DF, conhecido por Zona Verde, no auditório da sede do Departamento de Estradas de Rodagem do DF (DER).

De acordo com a Semob, a implantação da Zona Verde é um estímulo ao transporte público e à ocupação eficiente dos espaços públicos, em atendimento às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Conforme a proposta coloca em discussão, a concessão terá duração de 30 anos, e o valor atual do investimento é da ordem de R$ 300 milhões.

A Semob ainda receberá, contribuições para o aprimoramento dos estudos técnico, econômico-financeiro e jurídico, além das minutas de edital e contrato que subsidiarão a futura licitação da concessão.

As contribuições escritas podem ser encaminhadas por email ou pelos Correios, com aviso de recebimento, para o endereço: Setor de Áreas Isoladas Norte – SAIN – Estação Rodoferroviária Sobreloja Ala Sul – CEP: 70631-900, Brasília/DF. As sugestões podem ser encaminhadas também durante a audiência pública.

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