Lígia Vieira
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Há sete meses, todas as terças e quintas à noite, no último andar do prédio do projeto Realizando Sonhos, no Varjão, uma turma de 26 crianças de 4 a 11 anos se reúne para treinar jiu-jitsu. A ideia surgiu quando os voluntários Tiago Braga e Alexandre Araújo entraram em contato com a Igreja Batista Capital e se dispuseram a fazer parte da iniciativa, que, além da arte marcial, oferece cursos de reforço escolar, xadrez e outras atividades para adolescentes e crianças carentes moradoras da região.
Atualmente, seis voluntários praticam jiu-jitsu e ajudam a aprimorar a técnica dos alunos. Entre eles está Tiago Braga, a mente criadora do Luta Mais Varjão. “Há 22 anos sou lutador de jiu-jitsu e sempre quis fazer um projeto para crianças. Queria propor uma aula que não fosse apenas lúdica, mas que os pequenos também aprendessem a metodologia, técnica e disciplina”, conta.
Ideia em prática
Ele, então, conheceu o projeto Luta Mais, que oferece aulas gratuita da arte marcial na Asa Norte para adolescentes e contou da vontade de implementar uma versão para os pequenos. O organizadores do Luta Mais, portanto, o apresentaram ao Realizando Sonhos e Tiago conseguiu materializar o que era apenas uma ideia.
Atualmente, o projeto ajuda crianças de famílias de baixa renda e tem pretensões para crescer, pois há uma grande fila de espera para participar. “Mesmo com a diferença de idade, não há uma grande diferença entre os alunos quanto ao aprendizado do jiu-jitsu”, afirma Thiago Braga.
Os mais bagunceiros
A turma que o professor Tiago recebeu é composta por crianças que tinham problemas de comportamento – os alvos mais frequentes de reclamações dos professores. Mas hoje elas aprenderam a ter disciplina por meio das aulas de luta. Até os pais afirmam que eles melhoraram dentro de casa.
“As crianças mudaram muito nesse período. Cresceram bastante, mas mudaram principalmente o comportamento. Era bem complicado no começo, mas 30 dias depois eles já entendiam como era a disciplina no tatame”, relembra Adriana Nery, uma das ajudantes voluntárias do projeto Luta Mais Varjão.
A empregada doméstica Paula Pereira, 35 anos, mãe da faixa cinza Maria Gabriela, 8, conta que todo dia era uma queixa diferente vinda das professoras da escola em que a filha estuda.
“Antes era reclamação demais, porque ela ficava conversando na aula, respondendo a professora. Agora ela está menos respondona e gosta muito de participar do projeto”, afirma.
Práticas acabam com a bagunça
Um exemplo de atitude que as crianças não podem ter é faltar mais de três vezes sem justificativa. Quando há barulho, os pequenos lutadores devem levantar a mão e esperar o silêncio. E se alguém está bagunçando, fica em um canto observando a aula sem participar.
Manuel Ferreira dos Santos, 34 anos, vigilante e pai de Pedro Emanuel, de 5 anos, concorda que o filho está menos bagunceiro. “Ele está muito mais calmo, mais sensível, melhorou bastante o comportamento. Ele agora escuta o que a gente fala em casa”, observa.
Além da melhoria no comportamento, a turminha já teve outras conquistas. No final de novembro, sete alunos participaram de um campeonato com lutadores mirins de várias regiões do DF. Todos saíram campeões: seis ganharam medalha de ouro e um de bronze.
Os estímulos da arte marcial ajudam até no desenvolvimento cognitivo dos pequenos. “Uma criança nem olhava no olho quando a gente conversava. Hoje participa, conversa”, conta, feliz, Adriana Nery.
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