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Brasília

Violência entre população de rua chama atenção para problema social

Arquivo Geral

06/02/2019 7h00

Reprodução

João Paulo Mariano
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Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 50% na quantidade de pessoas em situação de rua no DF, de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social. Entre tantas histórias diferentes que as fizeram transformar a rua em casa, parte delas provoca preocupação redobrada pelo envolvimento com a criminalidade. Nos últimos dias, sem-teto estiveram no centro de pelo menos três crimes de grande repercussão, sendo dois homicídios.

O último delito ocorreu na tarde de segunda-feira. Um homem de 40 anos, que estava em situação de rua, molestou uma jovem de 18 anos na 113 Norte. Ele foi preso pela Polícia Militar em uma invasão próxima, após ser reconhecido pela vítima.

A mulher foi abordada durante uma caminhada perto da quadra onde mora. Conforme o depoimento, ele passou a mão nas partes íntimas delas à força. A delegada-chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Sandra Gomes, afirma que a jovem ficou assustada com o ocorrido e foi direto para a unidade policial.

Os policiais foram surpreendidos pelo fato de o autor possuir vestimenta militar, como coturno, calça, camisa e cassetete, mesmo não tendo nenhuma relação com o Exército. O homem já tem passagens pela polícia por crimes como perturbação da tranquilidade e ameaça. Agora, responderá também por importunação sexual. Ele pode pegar até cinco anos de detenção, caso seja condenado.

Discussão fatal

No mesmo dia, uma moradora de rua foi assassinada por outras três após uma discussão. A vítima levou nove facadas, das quais duas teriam atingido a região próxima ao coração. Isso tudo ocorreu à luz do dia, por volta das 10h30, em uma praça pública da Quadra 3 de Sobradinho I.

Ontem, a Polícia Civil identificou as três envolvidas. Todas são menores de idade. A vítima tinha em torno de 30 anos e era conhecida pela alcunha de Neguinha. Uma das autoras se desentendeu com ela, se juntou com as outras duas e cometeu a emboscada.

Moradores da região, que preferiram não se identificar, disseram à reportagem do Jornal de Brasília que o local onde tudo ocorreu é passagem para várias pessoas em situação de rua, em especial na madrugada. Os relatos são de receio na hora de sair de casa devido às brigas entre eles.

Na semana passada, um idoso de 70 anos morreu durante um assalto em Taguatinga. Ele foi abordado por um usuário de drogas, que recebeu cobertura de uma comparsa. O ladrão deu um chute nas costas da vítima, que morreu ao cair no chão. A dupla foi presa.

“Criminoso pode ser qualquer um”

Há cinco anos, existiam 2 mil pessoas que usavam marquises, viadutos ou papelões como teto. Atualmente, seriam quase 3 mil. Devido aos delitos recorrentes, a Polícia Militar recebe diversas reclamações contra essa parte da população. Segundo o porta-voz da PMDF, major Michello Bueno, apesar dos chamados, o morador de rua é um problema social e não de polícia, pois seriam pessoas que precisam de um auxílio social e não necessariamente estariam envolvidas em situações de violência.

“Quem provoca a violência não é o morador de rua. É o criminoso, que pode ser um sem-teto, alguém da classe média. Se cometer um crime, a polícia vai atrás”, explica.

O complicado, de acordo com o policial, é que, como essas pessoas estão em situação de vulnerabilidade, podem se envolver com drogas mais facilmente, e a partir disso cometer algum delito. O porta-voz esclarece que há inúmeros casos em que a pessoa em situação de rua que entrega o criminoso, que se infiltra em meio a eles. Isso só não ocorreria quando eles são ameaçados.

O assistente social Welder de Oliveira, da Casa Santo André, avalia que, quanto mais o governo investir na geração de recursos e no atendimento social de qualidade para dar dignidade a essas pessoas, o envolvimento na criminalidade diminuirá.

Para o subsecretário de Assistência Social da Secretaria de Desenvolvimento Social, Hernany Castro, a população de rua não é uniforme, ou seja, ela está nessa situação por inúmeros motivos. “Há pessoas que entraram por desemprego, por dependência química, por violação de direitos e vários outros fatores. Entre esses estão aqueles que vão para as ruas por falta de oportunidades”, diz.

Ele promete que, para esses casos específicos, haverá um trabalho para geração de emprego. A pasta faz um serviço de abordagem diariamente com 30 equipes. Nesses contatos, são oferecidos serviços de acompanhamento psicossocial e vagas em um dos três centros de atendimento.

Ponto de Vista

Para a professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB) Patrícia Pinheiro, os governos Federal e local precisam começar a pensar políticas efetivas para fomentar o acesso da pessoa em situação de rua aos serviços públicos de saúde, educação e emprego. A docente avalia que elas, em geral, não são verdadeiramente assistidas e não são mais “vistas”. Tornam-se invisíveis tanto para o sistema quanto para a população. Além disso, a especialista lamenta que, na invisibilidade, a população em situação de rua consegue facilmente ter acesso à prostituição ou a drogas. “A situação de rua em Brasília e no mundo não é mais uma coisa pequena. Não dá para colocar a responsabilidade só nas drogas ou nas escolhas individuais. Há um desemprego estrutural, mesmo em países ricos como nos EUA”, diz.

Ela pondera que a política assistencial precisa oferecer condições de resolver a urgência da pessoa, tirá-la da rua e dar condições para que ela não precise mais desse auxílio.

 

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